O 18 de Brumário de Jair Bolsonaro

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Foto: Marcos Corrêa/PR/Fotos Públicas/Reprodução

A escalada retórica dos ataques do presidente Jair Bolsonaro à independência dos Poderes e à autonomia das instituições republicanas vem ganhando novos capítulos a cada semana. Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal abriram linhas de investigação, a fim de evitar que o mandatário continue a transpor os limites das “quatro linhas da Constituição”.

Após os atos golpistas de 7 de setembro, os apoiadores do presidente se viram frustrados pela promessa de convocação do Conselho da República e, posteriormente, pelo boato de que havia sido decretado estado de sítio. Há motivos para suspeitar que a confusão foi promovida de maneira deliberada, a fim de evitar a desmobilização de sua base.

Em verdade, o comportamento errático e a retórica ardilosa sempre permearam a carreira política do atual chefe do Poder Executivo Federal. Para sustentar seu eleitorado, o então parlamentar montou uma estrutura rudimentar de divulgação de notícias falsas pelas redes sociais, que corroborassem seu discurso discriminatório e autoritário. A monetização de canais e páginas nas redes sociais multiplicou o interesse em difundir a ideologia bolsonarista.

O bolsonarismo cresceu e chegou ao ápice no segundo turno da eleição presidencial de 2018, em que obteve 57 milhões de votos, impulsionado por uma acertada aposta de campanha pelas redes sociais, enquanto seus principais adversários optaram pelos meios tradicionais, como televisão, rádio e palanques Brasil afora.

É certo que outros fatores imponderáveis contribuíram para aumentar o capital eleitoral do presidente, poupado de exibir seu desconhecimento nos debates eleitorais, além das horas de exposição positiva na mídia corporativa, em virtude da famigerada facada desferida por Adelio Bispo.

As peças de propaganda produzidas pela máquina eleitoral do bolsonarismo se limitam a ataques vis e rasteiros a seus adversários, falsamente vinculados a crimes gravíssimos, que variam de corrupção à pedofilia. Ainda que provocada, a Justiça Eleitoral pouco fez para conter tais irregularidades antes do fim do certame.

Todos estes componentes produziram um governo disfuncional, adepto de uma ideologia que não cabe na Constituição Federal, como descrito no paradoxo de Karl Popper. Enquanto restrito aos círculos do baixo clero do Poder Legislativo, o dano causado pelo bolsonarismo era administrável. Agora, não é mais.

Em uma realidade paralela, as centenas de milhares de vidas ceifadas, a corrupção na compra de vacinas, o achatamento de salários, a inflação galopante e o desemprego em alta não são considerados problemas tão urgentes como a destituição de ministros da Suprema Corte e a quebra do sigilo de voto. A tragédia ambiental, política, sanitária e diplomática produzida pelo neofascismo bolsonarista somente foi possível por meio da máquina de calúnias construída e alimentada ao longo de décadas no Parlamento brasileiro. Atualmente encorpados por verba federal de propaganda, os canais de desinformação veiculam acusações caluniosas contra adversários, difundem tratamentos milagrosos contra a Covid-19, desacreditam o sistema eleitoral, entre outras irregularidades.

Por outro lado, é verdade que pairam dúvidas técnicas sobre algumas medidas tomadas pelo Supremo Tribunal Federal, no âmbito dos inquéritos das fake news e dos atos antidemocráticos, ainda que não pelos motivos levantados por Bolsonaro e por seus adeptos.

É certo que a proporção tomada pelo bolsonarismo promoveu profunda erosão das instituições republicanas, que ainda atravessam lento processo de maturação, após 21 anos de ditadura militar. Outro aspecto que merece ser observado com cautela é o crescente processo de partidarização das Forças Armadas, frequentemente noticiado pelos veículos de comunicação, ainda que de maneira velada, por declarações não oficiais de militares da ativa e da reserva, aboletados em milhares de cargos comissionados na administração federal.

Ora, se a história se repete como farsa, e é da farsa que se alimenta o bolsonarismo, não é apenas pelo receio de ser preso que Bolsonaro vocifera contra o ministro Alexandre de Moraes. Uma vez debelada sua criminosa máquina de propaganda política, teme pelo fim de sua lamentável carreira política, além de seu sonho de reeleição e impunidade.

João Chaves: advogado e membro da Frente Ampla Democrática pelos Direitos Humanos.

Redação  

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