Queda do PIB turva cenário do ano eleitoral

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Foto: André Melo Andrade/Immagini/Estadão Conteúdo

A queda 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre só não foi uma decepção, apesar da mediana do mercado esperar avanço de 0,2%, porque a grande parte dos economistas já esperava um resultado bem morno para o período.

Ele reflete meses em que a vacinação contra a Covid-19 no país ainda se arrastava a passos lentos e que as cidades apenas começavam a reabrir as atividades após os picos recordes de internações e mortes pela doença nos meses anteriores.

O “pibinho” trimestral, porém, já estava na conta, e não muda as expectativas por um segundo semestre que deve ser forte, movido principalmente pela perspectiva de que a totalidade da população adulta já deverá estar vacinada com duas doses contra a Covid-19 e que atividades hoje ainda em banho maria poderão, de fato, ensaiar uma volta ao normal.

“Veio em linha com o que projetamos. O PIB deve crescer ao redor de 5% em 2021”, diz Felipe Salto, economista e diretor-executivo da IFI (Instituição Fiscal Independente).

Para Luciano Sobral, economista-chefe da Neo Investimentos, o que fica do resultado é uma piora na expectativa para as próximas leituras. “Não precisava de muito esforço para crescer 5% em 2021. O que interessa é o que vem depois do “V”, e parece ser estagnação”, afirma.

O ritmo lento do segundo trimestre é também um retrato de um momento em que os motores de crescimento estão trocando de lugar: setores como indústria e agronegócios, que voltaram a crescer logo e já estão hoje em níveis superiores aos de antes da pandemia, perdem o protagonismo.

Em paralelo, os serviços, que definharam junto com as limitações de circulação, devem nos próximos meses assumir a dianteira.

É um fenômeno que está acontecendo em todo o mundo e que também já era esperado para o Brasil. E é esta força da ressurreição das atividades congeladas que ajuda a sustentar as projeções de crescimento acima dos 5% para 2021, depois da queda de 4% que o país amargou em 2020.

“Os serviços foram os mais afetados pela pandemia e tendem agora a se recuperar e a normalizar. Com a vacinação avançada, as pessoas vão voltar a ir a restaurante, hotel, salão de beleza, academia”, disse Luka Barbosa, economista do Itaú BBA.

Este segmento dos serviços e outros grupos importantes, como o de saúde e educação públicas, que também viram uma queda na movimentação na pandemia, representam sozinhos cerca de 30% do PIB do país, destaca Barbosa, e são eles que agora voltam a crescer.

No segundo trimestre, os serviços cresceram 0,7% ante o trimestre imediatamente anterior, enquanto a indústria caiu 0,2% e, o agronegócio, caiu 2,8%, de acordo com os números divulgados nesta quarta-feira (1) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Pelas estimativas do Itaú BBA, o PIB da agricultura já está hoje cerca de 4% acima do nível pré-pandemia, no último trimestre de 2019, e, o da indústria, está 1% maior. Os serviços, por sua vez (considerados apenas os serviços prestados às famílias), ainda estão 8% abaixo do que eram antes, já com o avanço do segundo trimestre na conta.

A Formação Bruta de Capital Fixo, que mede os investimentos produtivos no país, recuaram 3,6% no segundo trimestre ante o primeiro. Esse número, no acumulado do ano, podem estar influenciados por certos fatores atípicos, como plataformas de petróleo, avalia Salto. O especialista se refere à importação de plataformas que inflaram esse índice nos trimestres anteriores.

Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do FGV Ibre, concorda com a variação pontual. “Investimentos estavam bombando, mas vieram de fatores mais temporários. Houve importação de plataformas de petróleo e, quando commodities vão bem, também se produz muitas máquinas”.

Ainda do lado da demanda, vale ressaltar que o consumo das famílias, outro componente de peso para o PIB, fcou estável abril a junho. “O resultado reflete a volta do auxílio emergencial e de outros gastos no bojo da pandemia em relação ao primeiro trimestre. No acumulado no ano, tanto investimentos como consumo apresentam recuperação”, diz Silvia.

Silvia aponta que os serviços vão continuar ganhando protagonismo, com serviços públicos e outros serviços (prestados às famílias) avançando. “E até podíamos acelerar mais, mas as perspectivas ainda são ruins por conta de um possível racionamento”, diz.

Ela aponta ainda que a alta da inflação pode impedir que avanço do consumo das famílias atinja seu potencial no curto prazo, para além das “eleições antecipadas” contaminarem o ambiente.

Para Sobral, o risco de queda na oferta energética pode afetar a leitura já no quarto trimestre. “Restrição de energia bate na atividade.”

Apesar da perspectiva otimista para 2021, Luka Barbosa, do Itaú BBA, destaca que a economia deve perder força em 2022. O banco reduziu recentemente a projeção de crescimento para o ano que vem de 2% para 1,5%. Silvia do IBRE, também prevê um número abaixo de 2%, entre 1,6% e 1,5%.

Isto porque será no ano que vem que o país vai começar a sentir plenamente os efeitos recessivos dos juros altos – desde o começo do ano, pressionado pela inflação, o Banco Central já subiu a taxa Selic de 2% para 5,25%, e a expectativa é que ela continua subindo até os 7% ou 8% nos próximos meses.

“Em 2020 e 2021, a política monetária [de juros baixos] e a política fiscal [de gastos extraordinários do governo] estavam ajudando, além dessa força do retorno da economia após a pandemia”, disse Barbosa. “Em 2022, mais nenhum desses motores estará ligado, e, com isso, o crescimento perde força.”

Na visão de Salto, “o risco fiscal, as apreensões e riscos ligados a questões externas e o quadro de elevada inflação, que tem exigido maior contração da política monetária (alta dos juros) devem colaborar para uma taxa de aumento do PIB ao redor de 2%”.

CNN Brasil  

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