Bolsonaro não sabia que havia tanta fome e miséria no país (!!!)

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A ofensiva sobre Jair Bolsonaro para convencê-lo a dobrar a equipe econômica e quebrar a regra do teto de gastos, ampliando as despesas do governo no ano da eleição começou na sexta-feira da semana passada, dia 15 de outubro.

Na manhã daquele dia, todos os ministros foram convocados para uma reunião de última hora no Palácio do Planalto. Paulo Guedes não estava em Brasília. Voltava dos Estados Unidos, onde fora participar de reuniões do G20 e do FMI. Na pauta da reunião, estava o novo programa social do governo.

Além de Bolsonaro, todos os ministros que estavam na capital federal participaram, incluindo os que dão expediente no Planalto e os de áreas setoriais, como Tereza Cristina (Agricultura) e Tarcísio de Freitas (Infraestrutura).

Uma vez no Palácio, o chefe das Comunicações, Fábio Faria, apresentou slides com imagens e números que mostravam aos presentes o avanço da miséria e da fome no país.

O objetivo era bem claro: convencer o presidente de que, se as projeções se confirmassem, nenhum dos presentes naquela sala com planos eleitorais teria vida fácil. A começar do próprio Faria, que pretende se candidatar ao Senado pelo Rio Grande do Norte no ano que vem.

Ao discurso de Faria se somou a fala de Onyx Lorenzoni, ministro do Trabalho, que reforçou a tese de que a condução da economia por Paulo Guedes havia se convertido em um desastre social e político. E que, para minimizar os seus efeitos sobre a imagem deles, era preciso acionar o botão das despesas e destravar o lançamento do programa social vitaminado, ensaiado desde o ano passado.

Não havia nenhum representante do ministério da Economia na reunião, mas aliados de Guedes logo o avisaram do que estava em curso no Palácio, chamando a apresentação de Faria de “show da fome”.

Guedes, por sua vez, identificou a reunião como o início de um processo de fritura movido pelo que seus aliados chamaram de coligação Nordeste-Rio Grande do Sul – da qual também faria parte ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, que é do Piauí, e o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE).

Ao final do encontro, ficou claro para todos que Bolsonaro estava convencido. Mas faltava tirar do caminho Paulo Guedes e a sua insistente defesa do teto de gastos. Tanto para os ministros da “ala política” como para o próprio presidente da República, a equipe econômica se convertera num obstáculo inconveniente.

Para eles, o tempo para que Guedes entregasse a prometida recuperação da economia havia se esgotado.

Dada a reação de Bolsonaro ao “show da fome” e sua decisão de furar o teto, a demissão do ministro da Economia passou a ser tratada na “coligação” como questão de tempo. Nas conversas com interlocutores do Congresso e jornalistas, ministros ligados ao Centrão assopravam que Guedes estava prestes a cair.

Na segunda-feira seguinte, quando chegou ao Palácio do Planalto, a equipe econômica já estava avisada pelo ministro que o presidente “tinha perdido a paciência” e que não aceitaria pagar menos do que R$ 400 pelo Auxílio Brasil.

O time de Guedes tinha desenhado uma saída que preservaria o teto, mas com o benefício de R$ 300. Mas Bolsonaro não queria saber. Acreditava que a inflação já havia comido boa parte desse valor e disse que estava disposto a assumir os riscos da escolha de furar o teto.

A equipe econômica já estava às voltas com um impasse porque o próprio governo decidira jogar ao mar a reforma do Imposto de Renda em tramitação no Senado. Nem Bolsonaro nem os líderes do governo na Casa toparam levar adiante a cobrança de impostos sobre dividendos, e a proposta foi para a gaveta do relator, Ângelo Coronel (PSD-BA).

Agora, além de resolver como pagar a conta dos precatórios para 2022, os auxiliares de Paulo Guedes tinham que achar também uma maneira nova de bancar o programa social sem descumprir a Lei de Reponsabilidade Fiscal.

A única saída que eles encontravam era lançar o programa de forma temporária até o final de 2022 – ou seja, até depois da eleição.

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Ainda assim, houve desconforto na equipe de Guedes, que temia a reação do mercado ao estouro no teto.

Só que, na terça-feira, quando Paulo Guedes foi a público admitir que a decisão do governo era conseguir uma “licença para gastar” R$ 30 bilhões fora do limite, conseguiu desagradar a todo o resto do governo.

A bolsa caiu 3,28% e o dólar subiu ao seu maior nível desde abril do ano passado. A “ala política” ficou insatisfeita por acreditar que a fala do ministro era uma forma desesperada de usar o mercado para tentar reverter a decisão de furar o teto.

Já Bolsonaro se irritou porque, pouco antes, ele havia dito que o Auxílio Brasil seria pago sem estourar o teto – o que Guedes acabava de desmentir.

O pedido de demissão dos secretários da Fazenda, Bruno Funchal, e do Tesouro, Jefferson Bittencourt, junto com os adjuntos, aumentou o pânico no mercado e desencadeou um novo ataque de fogo amigo sobre Guedes.

A ala política, que defendia a sua substituição, espalhou em Brasília que o ministro da Economia estava prestes a cair. Nomes de substitutos foram aventados, e circulou até um boato de que ministros da ala política sondavam executivos de banco para o lugar de Guedes.

Os rumores foram tão intensos que, na manhã da sexta-feira, TVs e jornais mobilizaram equipes para fazer plantão no ministério da Economia e tentar mapear eventuais reuniões que indicassem que uma troca estava em marcha.

O clima só amenizou depois que Bolsonaro foi até o Ministério para fazer um anúncio público de apoio a Guedes: “Tenho confiança absoluta nele, ele entende as aflições que o governo passa”.

Já o ministro aproveitou para alfinetar os inimigos internos. “Houve de certa forma uma pressão? Seria melhor isso acontecer mais organizadamente? Sim”, admitiu. “Seria melhor do que quando eu estou fora a ala política pressionar pelos recursos? Sim”. E ao final, ainda disse: “Existe uma legião de fura tetos, o teto é desconfortável”.

Por ora, Guedes ganhou a parada. Mas 2022 está aí e os eleitores do Nordeste não perdem por esperar.

O Globo