Ciro Gomes é hostilizado em manifestação de esquerda

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Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

Manifestantes se reúnem em ao menos 60 cidades do país neste sábado em atos contra o governo Jair Bolsonaro. Convocados por partidos de esquerda, centrais sindicais e grupos da sociedade civil, os protestos visam não só a defesa do impeachment do presidente, mas também criticar o desemprego e o avanço da inflação, além de problemas em áreas como meio ambiente e saúde.

O dia de protestos começou pelo Rio, onde manifestantes se reuniram nos arredores da Candelária, no Centro. A maioria usava máscaras de proeção contra o coronavírus. Houve também atos em cidades como Salvador, João Pessoa, Fortaleza, Goiânia, Teresina, São Luís, outras oito capitais, e em municípios do interior do país.

Em São Paulo, o protesto foi marcado para o início da tarde, na Avenida Paulista. Os ex-candidatos à presidência da República Ciro Gomes (PDT), Fernando Haddad (PT) e Guilherme Boulos (PSOL) participaram do evento. Houve um início de briga entre petistas e apoiadores do pedetista, após o carro de Ciro ser atacado quando ele deixava a Paulista, depois de um discurso em que foram ouvidas vaias.

Em Brasília, também na tarde deste sábado, a manifestação reúne partidos de esquerda e centrais sindicais na Esplanada dos Ministérios.

Visualmente, há a sensação de maior presença de pessoas nas manifestações deste sábado do que nos atos convocados pelo MBL e outros movimentos políticos, no último dia 12 de setembro, sem adesão maciça de partidos de esquerda. Já nos atos antidemocráticos convocados pelo presidente Jair Bolsonaro no dia 7 de setembro, houve maior concentração de apoiadores do governo na Avenida Paulista.

Botijão de gás e saco de arroz infláveis foram levados a manifestação em Brasília para chamar atenção ao avanço da inflação Foto: Pablo Jacob / Agência O GloboFoto: Pablo Jacob / Agência O Globo

Enquanto os protestos anteriores com o mote “Fora Bolsonaro”, organizados por partidos de esquerda e movimentos sociais desde maio, centravam as críticas principalmente no descontrole e no negacionismo no combate à pandemia da Covid-19, os atos deste sábado trouxeram mais referências à inflação, especialmente de alimentos e de combustíveis.

A concentração para o ato na capital paulista começou pouco depois das 13h em frente ao prédio do Museu de Arte de São Paulo (Masp), cartão-postal da cidade.

— Desta vez, conseguimos agregar para a campanha Fora Bolsonaro outros movimentos, como o “Direitos Já!”, e também outros partidos. Essa presença mais plural após os atos de 7 de setembro assegura a existência de um consenso de que todos estamos juntos em uma frente ampla contra Bolsonaro — afirmou Bruna Brelaz, presidente da União Nacional dos Estudantes, uma das entidades organizadoras do ato.

Apesar do discurso de união e em defesa de uma frente ampla contra o governo Bolsonaro, houve troca de acusações entre representantes de diferentes correntes partidárias presentes no ato da Avenida Paulista.

Integrantes do PCO foram chamados de “racistas” por supostamente não deixarem representantes do movimento negro falarem a partir do principal carro de som estacionado nas proximidades do Masp.

Ciro Gomes também foi alvo de críticas antes mesmo de chegar à Paulista. O ex-ministro foi chamado de “canalha”, por um representante do PCO. Apoiadores do pedetista ficaram irritados e devolveram os xingamentos ao integrante do Partido da Causa Operária.

Durante seu discurso, sob muitas vaias, Ciro pediu união entorno do impeachment de Bolsonaro.

— Qual a notícia que queremos ver amanhã nos jornais? Que povo brasileiro uniu -se todo em defesa da democracia ou que meia dúzia de bandidos travestidos de esquerda se acham donos da verdade? Bolsonaro, a sua hora está chegando porque o povo brasileiro é muito maior do que fascismo de vermelho ou de verdade é amarelo — afirmou.

Na saída, ao ser indagado sobre as vaias, Ciro respondeu:

— Faz de conta que não viu. Procure a história do Cabo Anselmo que você vai entender.

Cabo Anselmo foi um agente das forças de repressão da ditadura infiltrado entre grupos de esquerda.

Após discursar, Ciro saiu por uma rua lateral ao Masp. Seu carro estava parado na frente de uma choperia cheia de petistas, que começaram a provocá-lo. Ciro entrou no carro e os manifestantes atacaram paus em direção ao seu carro. Apoiadores do presidenciável pedetistas e petistas começaram uma briga na rua. Foram atiradas garrafas. A polícia conteve rapidamente o tumulto.

No início da noite, o PDT soltou uma nota criticando a tentativa de agressão de um grupo de pestistas contra pedetistas na Paulista.

“São atos covardes de quem não está interessado no país. Esses covardes não intimidarão quem quer que seja. Ciro e o PDT seguirão na luta contra Bolsonaro e a favor do Brasil”, afirmou o partido.

O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad classificou a manifestação deste sábado como uma resposta aos atos promovidos por apoiadores do governo Bolsonaro no último 7 de setembro.

— O que temos de volta no Brasil no governo Bolsonaro é a fome, o desemprego. Não podemos errar novamente. Não podemos perder de vista o que estamos fazendo aqui. O que estamos fazendo aqui é comum a cada um que está na Paulista — disse Haddad, ao defender o impeachment do presidente.

Depois de discursar, Haddad foi informado pelos jornalistas sobre os ataques ao carro de Ciro e afirmou que lamentava o ocorrido. Questionado sobre as vaias, afirmou que os organizadores tentaram evitar incidentes.

— O ato foi muito preparado para evitar qualquer incidente. Obviamente que com 100 mil pessoas na rua pode ter um ou outro que saia do roteiro. Mas nós temos que ir reconstruindo as pontes. Não temos que recuar. Temos que avançar.

Boulos também defendeu, durante seu discurso, união das esquerdas para vencer Bolsonaro.

— Eu tenho certeza que as diferenças que nós temos hoje são menores do que a nossa união para tirar o genocida.

A ideia defendida pelos organizadores de retomar o uso das cores da bandeira nacional pelos manifestantes também não vingou. O vermelho é a cor predominante nas roupas das pessoas que se concentram em frente ao Masp.

O ato na capital federal também tem como foco principal a alta dos preços e a gestão do governo federal na pandemia.“Se tudo está caro, fora Bolsonaro”, disse um dos manifestantes em cima do carro de som, que carregava a bandeira do Brasil ao lado também da de partidos políticos como PT, PCdoB, PDT, PSB e Solidariedade.

Por volta das 17h, uma das pistas da Esplanada dos Ministérios estava completamente ocupada. Manifestantes do MST montaram um caixão de papelão, com os dizeres “kit covid, assassinato premeditado, venda sob prescrição do governo Bolsonaro. Contém 30 mortes em comprimidos”.

Ao lado do caixão, uma pessoa representa o ministro da Economia, Paulo Guedes, e outra a “morte”.

Diversas pessoas também levam faixas com referências ao preço do botijão de gás, dos combustíveis e dos alimentos.

— O caixão é a simbologia da morte, das políticas, dos direitos. A simbologia é também sobre como o próprio Bolsonaro levou essa pauta da pandemia adormecida, de não dar importância para ela. As intervenções têm sentido de denunciar esse projeto de matança, não só de vidas, mas também de direitos básicos e com o preço de tudo aumentando, o que torna impossível a gente conseguir garantir que a população tenha o mínimo — disse Sandra Cantanhede, que faz parte da direção nacional MST.

No Rio, o protesto, que se iniciou por volta de 10h na região central da cidade, contou com a participação de partidos políticos de esquerda, como PT, PDT, PSB, Rede, PSOL, PCdoB, PSTU, PCO e UP, além de dezenas de movimentos sindicais e populares, que se organizam ao redor de um carro de som.

Cecília Maria Nascimento, de 74 anos, veio de Niterói para participar do ato.

— O Bolsonaro está acabando com o Brasil. Sou a favor da universidade pública e contra a reforma administrativa. São tantas as razões de estar aqui que a gente nem sabe por onde começar: roubalheira, privatizacões, inflação alta. O povo não aguenta mais — disse a idosa.

Após caminhada da Candelária até a Cinelândia, e carregando bandeiras e cartazes de diferentes pautas, os manifestantes pararam em frente a Câmara dos Vereadores e ao Teatro Municipal, entoando gritos de “Fora Bolsonaro” e “Fora genocida”.

De um lado do protesto, militantes do PDT balançavam bandeiras e estendiam cartazes com o rosto do pré-candidato à presidência Ciro Gomes. Do outro, manifestantes com as cores do PT, junto à maioria dos movimentos sociais, vestiam camisas com o rosto do ex-presidente Lula.

Apesar das divergências, não houve conflitos e os grupos se encontraram inúmeras vezes. Para a pedagoga Claudia Paiva, no momento, os dois lados devem se unir, uma vez que defendem a mesma causa.

— Hoje, finalmente, estamos conseguindo ver uma ampla unidade de partidos de esquerda no mesmo ato. Parece que só assim a classe política vai entender que a maioria da população não aguenta mais esse louco na presidência — defendeu a moradora do Andaraí.

Num palanque montado na Cinelândia, ao lado de um boneco gigante de Lula, a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB) discursou para a multidão e elogiou o uso de máscaras, praticamente unânime entre os participantes.

— Bolsonaro não respeita a democracia e a Constituição. Ele não quer eleição porque sabe que será derrotado. Isso se não sofrer o impeachment antes. Esse é o momento de formarmos uma frente ampla. Sobre candidaturas, nós conversamos só no ano que vem. Precisamos juntar todas as forças do Brasil contra o fascismo — disse a parlamentar.

Representando o PDT, Ciro Gomes — que foi ao protesto do Rio antes de viajar para o ato de São Paulo — reiterou que as diferenças sejam deixadas de lado e reclamou da postura do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), por não dar prosseguimento aos pedidos de impeachment protocolados no Legislativo.

— O processo de impeachment exige que o presidente da República tenha cometido, de caso pensado, um crime de responsabilidade. E Bolsonaro é um criminoso repetido que atenta contra a democracia. Com toda a humildade, precisamos ter clareza de que, nós, da oposição no Congresso, somos apenas 120. Precisamos de unidade para chegar aos 305 votos necessários — reforçou.

 

A deputada federal Benedita da Silva (PT) também defendeu a união da esquerda.

— Temos que enfrentar as fakenews porque eles querem, mais uma vez, que a esquerda não avance. Eles têm medo de nós. Roupa suja se lava em casa: não somos todos iguais, mas nossas diferenças não podem ser maiores do que aturar um fascista no governo — concluiu.

Líder da oposição na Câmara, o deputado federal Alessandro Molon (PSB) reforçou a tese:

— O nosso desafio é grande demais. Precisamos pensar no Brasil e o livrar do desgoverno Bolsonaro.

Representante da bancada do PSOL no Congresso, Talíria Petrone também discursou.

— Poderíamos ter passado pela maior crise sanitária experimentada pelas gerações vivas de outro jeito se não tivéssemos um governante genocida no poder, que ataca sistematicamente as liberdades democráticas — afirmou a deputada.

No Ceará, os manifestantes se reuniram no centro da capital, Fortaleza. Com faixas e bandeiras, eles caminharam pelas ruas da cidade e protestaram contra as condições que fizeram que que a fome aumentasse e pediram a geração de empregos e políticas de moradia. Eles também protestaram contra a reforma administrativa, em tramitação no Câmara dos Deputados, e contra as privatizações promovidas pela gestão atual.

Há registros de atos em Minas Gerais, em cidades como Montes Claros. No Rio Grande do Sul, manifestaram foram às ruas em Pelotas e Cruz Alta.

Em Belém, os manifestantes se reuniram no Mercado de São Brás, às 8h.

Em Goiânia, a manifestação começou por volta das 9h, na Praça do Trabalhador, no centro da cidade. Com faixas e cartazes, o movimento pede o impeachment do presidente, mais vacinas contra a Covid-19 e atuação do governo federal contra a inflação.

O Globo 

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