Escolas públicas lutam contra evasão após pandemia

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Foto: Secretaria de Educação do estado de São Paulo

Desde agosto, as escolas estaduais de São Paulo podem receber 100% dos alunos – mas passados dois meses, a taxa de presença ainda gira em torno de 70%. Após mais de um ano de ensino remoto, as escolas agora têm o desafio de atrair novamente para as salas de aula os jovens que se afastaram por desinteresse, problemas financeiros ou medo de contrair a Covid.

Desde o início da pandemia, as taxas de evasão escolar têm aumentado, e, ciente do problema, São Paulo tem apostado em auxílios financeiros e outros atrativos não só para os alunos, mas também para os pais, a fim de manter os jovens nas instituições de ensino.

Diretores de escolas ouvidos pela reportagem apontaram que o problema da evasão sempre existiu, mas que atingiu níveis nunca antes vistos desde o início da pandemia. Um diretor de uma unidade de ensino da zona sul, por exemplo, disse que a presença sempre girou em torno de 96% na instituição, mas que em determinados períodos da pandemia caiu para 60%.

E os motivos para o abandono são muitos. O mais visível deles é a crise econômica, que fez com que muitos jovens começassem a trabalhar para ajudar as famílias cujos pais tiveram sua renda diminuída. Outra razão foi a mudança brusca para o ensino remoto: para muitos, as aulas on-line dificultaram a aprendizagem e geraram desinteresse em estudar.

Outro fator é que, sem a presença diária dos alunos no ensino, ficou difícil manter contato com os estudantes e as famílias. Uma particularidade apontada por um dos diretores é que muitas pessoas de baixa renda trocam de número de telefone com frequência, e com isso os professores perdem o contato com os pais e alunos para fazer um acompanhamento.

O governo estudava adotar a obrigatoriedade para o retorno presencial a partir de setembro, mas agora a Secretaria de Saúde não sabe se vai determinar a volta mandatória ainda neste ano.

Segundo diretores, muitos alunos preferiram continuar com o sistema remoto, porque trabalham ou têm obrigações domésticas, como cuidar de irmãos mais novos. Outra parcela significativa não retorna por medo de se contaminar pelo vírus da Covid.

Em julho, o governador João Doria (PSDB) e o secretário estadual de Educação de São Paulo, Rossieli Soares, anunciaram a Bolsa do Povo Educação, que oferece vagas de emprego em escolas da rede pública em jornadas de 4h diárias, em troca de R$ 500 de bolsa, para os pais ou responsáveis desempregados de alunos da rede pública de educação do estado.

Já em agosto, foi anunciado um benefício de R$ 1.000 ao ano para alunos do nono ano e do ensino médio de baixa renda se manterem na escola, em troca da obrigação de uma taxa de presença mínima e da realização de atividades extracurriculares.

As taxas atuais de evasão escolar ainda não são formalmente conhecidas em São Paulo, porque o ano letivo ainda não terminou, e o cálculo só é feito pela Secretaria de Educação em momento posterior.

Em agosto, entretanto, Rossieli Soares admitiu a possibilidade de se chegar a uma taxa de abandono de 35% nas escolas paulistas durante a pandemia – número muito maior do que nos anos recentes. Em julho, o Fundo das Nações Unidas pela Infância (Unicef) divulgou estudo no qual indicou que 667 mil alunos ficaram fora das escolas no estado de São Paulo no ano passado. De 2019 para 2020, houve abandono escolar de 0,27% dos alunos, sendo 2,68% no ensino médio.

Junto a isso, o governo tem adotado ações, como a ampliação da merenda e melhorias nas estruturas das escolas, para tornar o ambiente mais acolhedor. Uma das maiores apostas da gestão de Doria na educação é o Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), em que são repassados recursos para as unidades de ensino, e os diretores decidem como o dinheiro será gasto. Assim, uma escola pode decidir que vai investir determinada quantia na pintura de paredes, enquanto outra pode criar uma área de leitura ou um espaço artístico.

Na ponta, diretores e professores têm feito uma busca ativa: telefonam e mandam contatos e avisos para as famílias e para os alunos, a fim de mostrar que as escolas estão abertas e prontas para recebê-los.

Henrique Pimentel, chefe de gabinete da Secretaria da Educação, explicou ao Metrópoles que a presença vem aumentando gradativamente desde que as escolas retomaram as aulas presenciais, em agosto. A presença ainda não é obrigatória, e as instituições ainda precisam fazer revezamento de alunos para garantir o distanciamento social.

Nas primeiras semanas, a adesão foi baixa, mas com o passar do tempo foi aumentando e agora gira em torno de 70%. Não há previsão de quando a presença passará a ser uma exigência.

“A gente tem aí um período maior de escolas abertas, que já podem estar abertas o tempo inteiro. Obviamente a gente vai ter de olhar o aproveitamento de bimestre para bimestre, mas hoje já temos mais de 70% dos alunos frequentando as escolas de forma percentual, e a tendência é que este percentual vá aumentando progressivamente até o fim do ano”, assinala o representante da Secretaria estadual de Educação.

Assim, as estratégias para manter os jovens mais velhos estudando passa por dois critérios. O primeiro deles é o financeiro, e as bolsas são a saída adotada pelo governo estadual. A bolsa de 1 mil reais ao ano para os estudantes de baixa renda deve atender 300 mil alunos neste ano, e os pagamentos já começaram para cerca de 85 mil bolsas. Já a bolsa destinada aos pais deve contemplar 20 mil pessoas.

A segunda linha de ação é a melhoria tanto do ensino quanto do ambiente escolar. “A gente investiu mais de R$ 1 milhão em estrutura das escolas, melhorando a infraestrutura dos prédios, materiais de qualidade, tecnologia nas escolas, livros didáticos, literatura, materiais esportivos”, explica Pimentel.

“E há programas, como o Dignidade Íntima, que dá absorventes para meninas que não têm condição de comprar, e o Merenda em Casa, então a gente vem tentando combater a evasão das mais diversas formas. Não só nos aprendizados mas no ambiente de acolhimento, para que o maior número de alunos possa frequentar a escola, formar-se e romper o ciclo da pobreza e de ter uma vida melhor”, frisa.

Além do problema da saída de alunos da escola, qualificar o aproveitamento dos alunos durante a pandemia virou um desafio. Em sala de aula, é mais fácil verificar tanto a presença quanto a evolução dos estudantes.

Já em ambiente on-line, é preciso considerar apenas quantas atividades o aluno faz – mas sem a relação professor-aluno direta, é difícil chegar a uma aferição mais completa. Some-se a isso a dificuldade, tanto dos alunos quanto dos docentes, de conseguir acesso às plataformas de forma recorrente. O governo distribuiu chips para conexão, mas nem sempre isso foi suficiente.

“A gente teve um ano complexo, não conseguimos realmente quantificar o aproveitamento dos alunos e índices de aprendizagem. A gente sabe que é mais difícil manter as aulas de forma remota, e é importante considerar isso como um fator que pode agravar o abandono escolar”, pondera o gestor.

Por isso, no ano passado, não foi possível verificar o aprendizado dos alunos, e as análises da Secretaria de Educação ficaram restritas ao engajamento com as atividades do Centro de Mídias, sistema on-line da rede pública paulista de ensino.

Para 2021, a situação é mais otimista. “Este ano a gente vai considerar já a aprendizagem dos alunos certamente, vamos fazer uma avaliação da evolução por bimestre, mas poderemos avaliar o aprendizado”.

Metrópoles

 

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