Marcelo Neri, da FGV, comemora Nobel de economia
Foto: HANDOUT / AFP
Diretor do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV Social), Marcelo Neri comemorou hoje a concessão do Prêmio Nobel de Economia 2021 para David Card, Joshua D. Angrist e Guido W. Imbens. A essência do trabalho dos pesquisadores, segundo Marcelo Neri, é a metodologia para estabelecer a relação de causa e efeito em políticas públicas no mundo real.
“A essência do trabalho é como estabelecer a relação de causa e efeito no mundo real. Eles extraem lições causais através de políticas já aplicadas. Card, Angrist e Imbens são geniais de olhar para o mundo real, um ambiente menos controlado e mais sujeito a outras interferências”, defende Neri, que foi orientado por Card em seu doutorado na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, concluído em 1996.
Na época, lembra Neri, Card tinha acabado de receber a Medalha Clark – concedida para economistas com menos de 40 anos que tenham se destacado pela contribuição ao pensamento e ao conhecimento econômico – por causa de seus estudos sobre o salário mínimo.
“Foi um estudo que trouxe muita notoriedade a Card e também provocou muita polêmica, já que desafiava a sabedoria convencional da economia, sobre oferta e demanda, e de que aumento de salário mínimo levaria a queda no emprego”, afirma.
O estudo em questão, feito ao lado de Alan Krueger, trata do efeito de aumento de salário mínimo em Nova Jersey, de US$ 4,25 para US$ 5,05 a hora. Foram pesquisados mais de 400 restaurantes no Estado e na vizinha Pensilvânia, mas eles descobriram que não houve queda no emprego.
Outro trabalho de Card foi a avaliação do impacto do chamado êxodo do Mariel – como ficou conhecida a saída de mais de 120 mil cubanos de Cuba para os EUA em 1980 – para o mercado de trabalho na Flórida, cita Neri. No trabalho, Card afirmou que a força de trabalho de Miami aumentou em 7% na época, com taxas ainda maiores entre as ocupações que exigiam menor instrução por causa das características dos imigrantes. Card concluiu, no entanto, que o movimento não teve efeito em salários ou taxa de desemprego.
Na avaliação de Neri, a premiação ao trio em 2021 restabelece uma sequência histórica no Nobel de Economia. Em 2019, os premiados foram os pesquisadores Abhijit Banerjee e Michael Kremer e Esther Duflo, pela abordagem experimental para combater e aliviar a pobreza no mundo. Neri explica que os três são de uma geração posterior à de David Card, Joshua D. Angrist e Guido W. Imbens, laureados na edição de 2021, e também trouxeram importantes contribuições em metodologia para avaliar causa e efeito.
“Abhijit Banerjee, Michael Kremer e Esther Duflo são de uma geração posterior e receberam o prêmio em 2019. Os estudos são mais modernos, mas tratam de um ambiente controlado. Card, Angrist e Imbens foram pioneiros, são de uma geração anterior. Agora, com o Nobel de 2021, se estabelece uma sequência histórica, iniciada com James Heckman, em 2000”, diz Neri.
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