Senadora bolsonarista diverge de Bolsonaro e vira alvo do gado

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Foto: Reprodução

Eleita na esteira da ascensão de Jair Bolsonaro (sem partido) à presidência da República em 2018, a senadora Soraya Thronicke (PSL-MS) é governista, mas nem tanto. Ou, como prefere dizer, não é uma “apoiadora cega”.

Thronicke, que tem participado ativamente da CPI da covid, é contra o tratamento precoce, defende o isolamento social e se mostra veementemente a favor da vacinação. Em conversa com Universa, a senadora afirma divergir de Bolsonaro nesses pontos, mas explica que ainda se alinha a ele e às bandeiras que o elegeram, como o combate à corrupção, o direito à propriedade privada e ao “direito de defesa”, com a flexibilização da posse e do porte de armas.

Por ter suas próprias opiniões, que eventualmente se chocam com as do bolsonarismo, Thronicke passou a ser atacada por correligionários do presidente. “Algumas pessoas acham que tem que defender cegamente, mas não é assim. Tem gente que chega ao absurdo de me chamar de comunista”, conta, rindo, a senadora que organizou manifestações em favor do impeachment da então presidente Dilma Rousseff em seu estado.

Na entrevista abaixo, a líder do PSL Mulher também critica o machismo na CPI e fala do projeto do partido para eleger mais candidatas no ano que vem.

UNIVERSA – A senhora faz parte da ala governista, mas discorda de bandeiras representativas do governo Bolsonaro na pandemia, como o tratamento precoce, que chamou de “receita de bolo”. Manter o apoio ao presidente não é contraditório?

SORAYA THRONICKE – Nós fomos eleitos com a bandeira anticorrupção, da [defesa da] propriedade privada, do direito de defesa. Sou fiel e voto com elas. Em relação a algumas questões, eu vou divergir. Recentemente, por exemplo, votamos as mudanças na Lei de Improbidade Administrativa [o texto diz que agentes públicos só serão responsabilizados se houver intenção de cometer ato ilegal, excluindo penas por imprudência]. Era para o bloco governista votar sim, e votei não. Não levei bronca, porque aí seria uma ditadura. Algumas pessoas acham que tem que ser defesa cega, mas não é assim. Tem gente que chega ao absurdo de me chamar de comunista, de dizer que traí o governo. Sou absolutamente fiel às bandeiras.

Pode citar uma divergência em ações relacionadas a mulheres?

Sou contra o veto do presidente ao projeto que distribui absorventes para meninas e mulheres carentes. A economia trabalhou nesse projeto, foi determinada as fontes de custeio: fundo penitenciário, SUS, estados e municípios. A orientação do governo foi que votássemos sim. A própria Damares [Alves, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos] entende essa questão. Ela me sugeriu ver um filme chamado “Pad Man” [“Homem-Absorvente”, em português], sobre um empresário que ajuda mulheres fabricando absorventes a baixo custo. O presidente não está acostumado a saber o que é pobreza menstrual, foi mal orientado, é muita lei para sancionar.

Se a eleição de 2022 fosse hoje, apoiaria Bolsonaro?

Não sei como te responder, não sei como as coisas vão andar. Eu espero que o partido apoie quem estiver bem nas pesquisas, estamos fazendo uma série de análises. Eu me mantenho com o partido desde o começo. Não acreditei que a Aliança pelo Brasil iria sair. Achei um absurdo o senador Flávio Bolsonaro sair do PSL, perdemos cadeiras importantes. Falei para o presidente que ele deveria tomar uma nova orientação, ouvir advogados, formar um juízo. Eu gostaria que tivéssemos caminhado como sonhamos, mas não deu.

A senhora tem sido atacada nas redes sociais por, justamente, não apoiar totalmente o presidente. Como lida com isso?

É complicado porque respeito a opinião alheia, mas não respeitam a minha. Como advogada e governista, tenho sido muito cobrada por uma parcela que acha que é de direita, mas é uma confusão que fazem em relação a isso, acham que devo defender cegamente qualquer pessoa [do governo] que senta na CPI. Isso acaba atrapalhando o próprio presidente. Se tiro foto com embaixador da China, sou atacada. Mas Bolsonaro também tem foto com ele e ninguém fala nada. Eu sei que vou apanhar, mas não deixo de me posicionar seguindo meus princípios.

A senhora é uma senadora de presença ativa na CPI da covid. Qual balanço faz da comissão até agora?

Estamos tendo acesso a uma documentação farta, são mais de 50 mil documentos. Mas a questão é que a maioria é irrelevante. Tem que encontrar ali no meio o que é importante. Então agora há um trabalho de se debruçar sobre isso. É incrível como as pessoas têm acompanhado a CPI, mas vejo que ainda há muitas dúvidas. Não é só depoimento. Por trás do que é falado, há muito para se investigar. Eu tive acesso à documentação hospitalar de pacientes da Prevent Senior e me choquei. Você começa a ver as provas de que as pessoas estão mentindo. Não dá para prejulgar nada nem ninguém, mas encontrei documentos ali que provam muita coisa. Só não posso revelar o que, pois tudo é protegido por sigilo.

Acredita que alguém será responsabilizado, entre eles, o presidente?

Tem alguns nomes que acredito, sim. Roberto Dias [ex-diretor do Ministério da Saúde] é um, o empresário Marconny Albernaz é outro. Como nós apenas apuramos fatos, como se fosse um inquérito policial, coletamos provas e entregamos ao órgão que seria autor de ação penal, o Ministério Público. Mas há indícios contra muitas pessoas. Tem gente ali que, para mim, já está cabalmente incriminada. Sobre o presidente, não vejo responsabilidade direta dele. Ele nomeou um médico como maior autoridade sanitária do país, o Marcelo Queiroga, que nunca indicou cloroquina. Não foi o Osmar Terra [deputado federal pelo MDB-MS, que defendeu o uso de cloroquina]. De uma forma ou de outra, Bolsonaro tomou as rédeas da situação.

Recentemente, durante depoimento do empresário Otávio Fakhouri, a senhora criticou o que chamou de “direita radical”. O que quis dizer com isso?

Há uma direita que não tem capacitação, militantes que não sabem nada de política. Eu sou senadora e estou engatinhando: quanto mais aprendo, mais vejo que ainda não sei muita coisa. Estou tentando colocar um pouco de consciência nas pessoas. O PT roubou demais, mas o centrão roubou junto, e aí vem empunhar essa bandeira anticorrupção. Parece que qualquer um de direita é o paladino da Justiça, só que tem gente fazendo coisa errada desde o começo. Vi parlamentares de direita falsificando notas, sendo corruptos. Pensava: ‘Meu Deus, não é possível’. Essas pessoas nem de direita são. Quando pareceu que o gigante acordou, vemos que, na verdade, é muita gente que não entende o que está fazendo, que age cegamente.

A CPI da covid chamou a atenção para o tema do machismo contra mulheres na política. Chegou a sentir isso na pele?

Não diretamente. Como senadora, posso dizer que, por mais que às vezes você não seja maltratada na política, é excluída de uma forma educada e dócil. Todo mundo nos trata muito bem, mas não distribuem para gente projetos de lei interessantes na área de economia. Distribuem projetos de mulher, idoso, criança. Queremos isso, sim, mas defendo que homens também peguem propostas dessa área. Essa exclusão não deixa de ser uma violência. No caso da CPI, os partidos não indicaram nenhuma mulher para compor a comissão. Eles não se lembram da gente, não lembram que existimos. Mas acho que, nesse caso, o tiro saiu pela culatra. Ganhamos até mais visibilidade porque um debate emergiu. Nos trouxe maior visibilidade.

O PSL foi um dos partidos que mais elegeu mulheres em 2018. Como líder da ala feminina da sigla, tem algum projeto para aumentar mais esse número?

Nós lançamos o projeto “Brasil Certo”, que visa capacitar mulheres em diversas áreas, entre elas a política. Queremos que mulheres que exerçam lideranças nas suas regiões, comunidades, estejam bem capacitadas. Oferecemos capacitação na política, ensinamos questões do Estado, mas também ajudamos mulheres para que não cheguem ao ponto de ter dependência financeira do homem e não consigam sair de uma relação abusiva, por exemplo. No geral, a gente chega na comunidade e pergunta o que elas gostariam de aprender, como querem ganhar dinheiro, e aí fazemos um trabalho social em cima disso.

Uol  

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