Doria minimiza sua enorme rejeição na campanha à Presidência

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Foto: Eduardo Knapp/Folhapress

Desde que surgiu no cenário político com a vitória surpreendente em primeiro turno para a prefeitura paulistana em 2016, João Doria (PSDB) lida com um paradoxo: costuma ter a gestão elogiada até por adversários, mas enfrenta resistências inclusive de aliados.

“Isso é natural, faz parte da política. Você não deve se incomodar com isso, deve administrar isso. A campanha vai ter calça apertada, coxinha, pastel. Foi assim em 2016, foi assim em 2018”, afirmou, alinhando alguns “hedges” para enfrentar pontos criticados.

Doria enfrenta o governador Eduardo Leite (RS) e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio nas prévias presidenciais do PSDB neste domingo (21) .

Como um dos vídeos de sua campanha dizia, ele se assume “chato”, “coxinha”, “calça apertada” —este último epíteto gestado pelo filho presidencial Carlos Bolsonaro nas redes. Nesta entrevista, reforça a ideia e se vende como “um líder confiável, e não palatável”.

Aí ele mira a tática de seu principal rival interno, Leite, que acusa o paulista de ser desagregador. Não só ele: aliados potenciais como ACM Neto (DEM) e Gilberto Kassab (PSD) dizem rejeitar negociar com um candidato Doria em 2022.

O tucano relativiza, citando que em São Paulo há 13 partidos na base do governo, inclusive o PSD e o DEM, para não falar no centrão que apoia Jair Bolsonaro. Ao mesmo tempo, prega “autonomia executiva” para o governo, hoje “totalmente dependente do Legislativo”.

Símbolo do estilo abrasivo do tucano, a campanha das prévias o opôs de forma dura a Leite, bancado pelo seu maior rival no PSDB, o deputado Aécio Neves (MG).

A situação chegou ao paroxismo nesta semana, com a tentativa do grupo de Leite de postergar as prévias e a revelação, feita pela Folha, de que o gaúcho passou adiante um pedido de adiamento da vacinação —contra Covid-19 feito pelo Planalto —logo a Doria, então em guerra com o Planalto para trazer imunizantes ao país.

Se a tensão nos bastidores foi ao teto, Doria e Leite baixaram as armas no debate realizado na quarta (17) pela rede CNN. O tom do paulista nesta conversa com a reportagem foi semelhante, com o tradicional aceno de trégua: “Não haverá perdedores”, disse, mesmo que ele perca.

O mesmo se pode dizer acerca da dita terceira via, que ganhou a adição bombástica do ex-juiz Sergio Moro, com quem vinha conversando.

No discurso público de Doria, visto por aliados e adversários como alguém que não toparia abrir mão de uma cabeça de chapa, todos estarão unidos. Ele diz ser cedo se aceitaria uma vaga de vice, previsivelmente, e fala em critérios múltiplos (pesquisa, potencial de voto, histórico etc.) para definir o nome do que chama “centro democrático”.

Qual será sua prioridade, caso seja eleito presidente? Garantir a autonomia executiva para que o governo possa governar. Segundo, geração de emprego, educação e saúde. Esses seriam os atos mais imediatos. Hoje, o Poder Executivo é totalmente dependente do Legislativo. Quero poder priorizar a formação de uma equipe que seja um exemplo para lidar com esses objetivos.

Mas defender essa autonomia não vai contra o pacto de governabilidade como ocorre no Brasil? Não se governa, falando em português, sem o centrão. Como seria? Com diálogo e entendimento, mas não dependência.

Isso é possível? Claro, nós fazemos isso em São Paulo. Aqui temos 13 partidos na base aliada, inclusive o PP e o PL e o Republicanos. Aqui não há dependência, nenhum comportamento que possa ser considerado inadequado. É a boa política, nós somos exemplo disso. Há boa política com qualquer partido que queira praticá-la.

Temos partidos que dão suporte ao governo Bolsonaro no âmbito federal, mas aqui nos apoiam com diálogo e transparência.

O sr. é criticado por aliados potenciais e adversários como sendo mais impermeável à montagem de aliança. Mesmo em um vídeo de campanha o sr. se assume um chato. Como lidar com isso numa campanha? Essa confiabilidade de aliados já existe aqui em São Paulo, inclusive o PSD de Gilberto Kassab, o DEM do ACM Neto, o PSL. A verdade é a prática. Na prática, somos agregadores e somamos forças. Mas não queremos no futuro que o Brasil tenha um líder palatável, mas confiável, aquele para quem a palavra é o que vale, o exemplo.

Mas o sr. percebe essa resistência? Isso é natural, faz parte da política, dentro do parâmetro da política. Você não deve se incomodar com isso, deve administrar isso. A campanha vai ter calça apertada, coxinha, pastel. Foi assim em 2016, foi assim em 2018.

Por seu histórico de vir de fora da política, o sr. é visto como alguém que não conhece bem o mundo de Brasília. Eu prefiro conhecer o mundo Brasil.

Em relação às prévias, a disputa agressiva é positiva para o partido? A melhor vitória é a vitória difícil, não a vitória fácil. O partido se fortalece numa boa disputa, não numa fraca.

Pelo grau de animosidade, há união possível depois das prévias? ​Eu tenho essa convicção. Estamos todos no mesmo partido. Seremos aliados a partir do dia 22 de novembro com o mesmo objetivo, erguendo a bandeira do Brasil e do PSDB.

Mesmo se o sr. não ganhar? Em qualquer hipótese. Não teremos perdedores nas prévias do PSDB. Todos serão vencedores.

Houve diversas queixas durante o processo das prévias, seja pelas filiações, pelo aplicativo. É um processo azeitado ou está passível de contestações judiciais? É um processo estabelecido pela direção do partido. Tendo sido essa a decisão do presidente Bruno Araújo, não cabe a mim comentar. Se tudo estiver bem, se houver transparência, o aplicativo funcionar adequadamente, não há o que contestar.

Causou estranhamento a questão do aplicativo? Talvez não tenha sido a melhor tecnologia, mas foi a escolhida pelo partido. Eu pessoalmente defendia o uso de urnas eletrônicas cedidas pelo Tribunal Superior Eleitoral, cedidas a todos os eleitores do PSDB. Mas a Executiva Nacional decidiu de outra forma.

Eduardo Leite se coloca como alguém que pode agregar, enquanto o sr. desagregaria. O sr. concorda com a leitura segundo a qual ele seria um bom candidato a vice? Prefiro não comentar isso. Prefiro acreditar que o Brasil desejará eleger um líder que lidere, seja transformador, não alguém conveniente. Não é a conveniência que vai fazer uma liderança transformadora, é a confiança em liderar o Brasil para a transformação que irá contagiar os eleitores que não querem nem Lula, nem Bolsonaro. O Brasil não elegerá um fraco para a Presidência.

Houve diversos movimentos na dita terceira via, como a entrada do Rodrigo Pacheco e do Sergio Moro. Como o sr. avalia? São dois bons nomes, que certamente aceitarão dialogar para construir uma frente democrática liberal-social pelo Brasil e pelos brasileiros.

O sr. vê o PSDB abrindo mão da cabeça da chapa? Qual deveria ser a nota de corte: pesquisa, capilaridade partidária, peso político? O conjunto de valores, não apenas um. O histórico, a biografia, gestão pública, potencialidade eleitoral, capacidade de debate, força de convencimento e capacidade agregadora.

Conversar vocês conversam. Mas chamou a atenção no discurso de filiação do Moro o tom de busca por liderança. Isso não dá um ruído com essa ideia de frente? Não creio que ele tenha dado ali um recado de distanciamento da possibilidade de somar forças com outros nomes e partidos. Considero que ele e outros poderão fazer parte dessa frente democrática.

O sr. aceitaria ser vice? Não é um debate para ser estabelecido agora. O pressuposto é o diálogo, o entendimento. O maior pressuposto é o Brasil, o povo, não o indivíduo ou o país.

Cada eleição tem uma pergunta a ser respondida. Em 2018, havia uma demanda num debate agudo, radicalizado. E 2022? A maioria do eleitorado espera um líder transformador e que tenha posições distantes dos extremos, tanto da direita quanto da esquerda. As duas experiências recentes não foram boas para o Brasil, foram nocivas.

As pessoas querem um líder honesto, que cumpra seus compromissos, que seja respeitado por sua capacidade, que tenha compaixão com os necessitados e vulneráveis, que tenha confiança do mercado, tanto investidores nacionais como internacionais. E que tenha humildade para ouvir e retroagir sempre que necessário. Que possa ser inspirador, porque quem inspira move, agrega e conduz.

O deputado Aécio Neves, seu rival, é fiador de Leite. Muitos o acusam de querer fazer do PSDB um partido do centrão. O sr. concorda? Prefiro não comentar.

O comportamento da bancada federal não complica a desvinculação do partido de Bolsonaro? Outra vantagem das prévias, que são fortalecedoras. Se não fossem densas, seriam só homologatórias. Quem vencer, sairá fortalecido e poderá fortalecer o PSDB como um todo.

Como o sr. viu o credenciamento de Geraldo Alckmin nas prévias do PSDB? Todo voto de filiado do PSDB é bem-vindo.

Há um debate sobre espaço fiscal, que passa pelo risco de haver uma bomba-relógio em 2023. Como o sr. vê isso? Trabalharia com um governo liberal, diminuindo o tamanho do Estado, atraindo investimento privado e respeitando a necessidade de diminuir a desigualdade social. Ao reduzir o Estado, haverá mais recursos para o social, com privatizações e Parcerias Público-Privadas.

Petrobras, Banco do Brasil? Se eleito presidente, a Petrobras será privatizada. Numa modelagem que não transforme um monopólio estatal num privado, dividida em várias empresas. O conjunto dessas empresas terá de compor um fundo de compensação, alimentado mensalmente por parte do lucro delas. Este fundo vai evitar o preço de combustível a cada vez que o preço internacional sobra. Da forma que está hoje, a Petrobras não tem como fugir disso [aumento na bomba].

E os dividendos pagos para a União? Privatizada, ela já pagará bastante a seu acionista majoritário. E a União poderá.

E bancos? Apenas só um, a priori a Caixa, para políticas habitacionais e financiamento no campo. O Banco do Brasil será privatizado, não porque é uma má empresa, mas porque não é necessário.

Bolsonaro foi eleito com alto capital político, com apoio amplo da elite, inclusive o seu, mas não aproveitou para cumprir promessa de privatização. É possível fazer isso? Toda transformação provoca resistências. Por isso é preciso ter um líder, não alguém conveniente, que sucumbe.

Folha  

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