Mercado pressiona Moro a apresentar agenda neoliberal

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Foto: André coelho

Bastou um tuíte do ex-ministro da Justiça Sergio Moro na última quarta-feira (3), em defesa do teto de gastos e da responsabilidade fiscal, para deixar entusiasmados alguns defensores de ideias liberais para a economia em busca de um candidato para apoiar em 2022.

“Aumentar o Auxílio Brasil e o Bolsa Família é ótimo. Furar o teto de gastos, aumentar os juros e a inflação, dar calote em professores, tudo isso é péssimo. É preciso ter responsabilidade fiscal”, escreveu o ex-juiz, que se filiará ao Podemos na quarta-feira (10), em Brasília, com a perspectiva de concorrer a presidente.

Conhecido pela pauta anticorrupção e pela defesa do endurecimento das leis contra a criminalidade, Moro é praticamente um neófito no tema que deve dominar a próxima campanha eleitoral, a economia.

Em declarações passadas, ele vagamente defendeu princípios liberais e elogiou o livre mercado como fonte de prosperidade. Mas está longe de ser considerado uma autoridade no tema, tanto que não conseguiu convencer nem sua futura legenda.

Poucas horas depois de sua defesa pública do teto, a maior parte da bancada federal do Podemos votou a favor da emenda constitucional que flexibiliza restrições fiscais e abre caminho para o novo Auxílio Brasil. Foram 5 votos a favor, 4 contra e 1 ausência.

Conforme suas pretensões de disputar a Presidência em 2022 avançam, Moro precisará detalhar o que pensa na área econômica, dizem aliados e simpatizantes.

Eles também falam da necessidade de ampliar o rol de pautas para além da questão do combate à corrupção e se aprofundar em outros temas cruciais para uma campanha presidencial, algo que também está no radar do ex-juiz da Operação Lava Jato.

Impulsionado pelo discurso de defesa da ética, Moro abandonou a magistratura para assumir o Ministério da Justiça do governo Bolsonaro. Desentendeu-se com o presidente e pediu demissão em abril do ano passado.

Neste ano, Moro sofreu uma dura derrota no STF (Supremo Tribunal Federal), que o considerou parcial nas ações em que atuou como juiz federal contra o ex-presidente Lula (PT), também pré-candidato para 2022. Com isso, foram anuladas ações dos casos tríplex, sítio de Atibaia e Instituto Lula pela Lava Jato.

Diferentes pontos levantados pela defesa de Lula levaram à declaração de parcialidade. A ida de Moro para a equipe de Bolsonaro também pesou, assim como os diálogos entre integrantes da Lava Jato obtidos pelo site The Intercept Brasil e publicados por outros veículos de imprensa, como a Folha.

O ex-magistrado sempre repetiu que não reconhece a autenticidade das mensagens, mas que, se verdadeiras, não contêm ilegalidades. Na arena eleitoral que se desenha, o tema será um dos mais explorados pelos petistas para evidenciar contradições e fustigar o adversário.

“Moro não teve tempo ainda de falar sobre economia, mas, assim que sua filiação for concretizada, ele tratará deste tema fundamental”, diz o senador Alvaro Dias (Podemos-PR), um dos principais incentivadores da candidatura. “O que já nos parece claro é que ele é um liberal.”

Uma base programática para Moro deverá ser a própria campanha presidencial de Dias em 2018, quando o plano de governo adotava um linguajar bem ao gosto do mercado.

Uma das metas, por exemplo, era “busca contínua de eficiência tanto no setor público como no privado através da adoção das melhores práticas mundiais”.

“Eu já naquela campanha falava em um limitador emergencial de despesas no primeiro ano de governo. Moro sabe que o equilíbrio das contas é fundamental, um desafio a ser perseguido por meio de uma agenda de reformas”, afirma o senador.

Um dos responsáveis pelo documento econômico do Podemos em 2018 foi o economista e consultor Luís Paulo Rosenberg, com décadas de experiência no mercado financeiro, e que se define como um “liberal com coração”.

“O casamento do combate à corrupção com uma ideia liberal para a economia pode dar um belo programa de governo para o Moro”, afirma Rosenberg, que diz não ter sido chamado ainda para discutir um plano para o ex-juiz.

“Mas é um liberalismo levando-se em conta que estamos no Brasil, ou seja, que o mercado não resolve tudo”, diz.

Na eleição de 2018, os adeptos da defesa de um Estado mínimo, privatizações e abertura comercial foram seduzidos pela presença do economista Paulo Guedes na equipe de assessores do então candidato Jair Bolsonaro.

Egresso da Escola de Chicago, um dos principais centros difusores de ideias liberais no mundo, Guedes dava a entender que Bolsonaro faria um choque de desregulamentação. Como ministro, no entanto, seu desempenhou frustrou muitos apoiadores, que agora buscam uma alternativa para 2022.

Moro tem conversado com economistas de matriz semelhante em busca de ideias para um programa, mas não tem ainda alguém para chamar de seu “Posto Ipiranga”, ou um assessor principal para a área. Segundo pessoas próximas, ele está se dedicando a estudar a questão.

Em coluna na revista Crusoé publicada na sexta-feira (5), ele voltou a criticar o rompimento do teto de gastos e afirmou que “o país, sobretudo os mais pobres, pagarão um preço caro pelo populismo do governo federal”.

“Sepultada a Lava Jato pelo atual governo, a próxima vítima parece ser o Plano Real. Estamos brincando na beira do abismo da deterioração institucional e econômica”, escreveu.

O MBL (Movimento Brasil Livre) é um dos grupos que têm apreciado os primeiros gestos do ex-juiz nessa área, mas também cobra mais detalhes.

“Ainda precisamos ver se o Moro fala a nossa língua”, diz o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), um dos líderes nacionais do movimento.

O MBL chamou Moro para ser a principal estrela de seu congresso, que será realizado neste mês, e admite conversas para o ano que vem.

“Conversar a gente conversa, agora vai depender de ele sinalizar mais para as pautas liberais, ir além do discurso de combate à corrupção, se comprometer com a reforma administrativa e a tributária”, afirma Kataguiri, que deve estar presente ao ato de filiação, junto com outros líderes do movimento.

Embora tenha achado positivo o tuíte de Moro em defesa do teto de gastos, o parlamentar afirmou que ainda é um gesto muito tímido. “Ele tem de dizer, por exemplo, de onde devemos cortar para viabilizar o Auxílio Brasil”, diz Kataguiri.

Da mesma forma, o grupo liberal Livres, que reúne políticos de diversos partidos, diz que a autoridade com que Moro trata de economia não se compara à que tem sobre assuntos da área criminal.

“No comando do Ministério da Justiça, a atitude dele estava restrita àquela área, e a gente não duvidava do compromisso dele de combate à corrupção”, diz Magno Karl, diretor-executivo do Livres.

“Mas, em uma campanha presidencial, a gente tem de ver o que ele pensa sobre outros temas. As ideias são centrais para nós. Precisamos conhecer mais o Moro.”

Segundo ele, a eventual candidatura do ex-juiz certamente despertará interesse em alguns filiados ao grupo.

“Vamos ter pessoas ligadas ao Livres apoiando diversas candidaturas. Claro que o Moro agregaria ao campo de alternativas à dualidade do bolsonarismo contra o lulismo. Nesse sentido, a gente recebe bem a perspectiva de ele ser candidato”, diz.

O Livres também deverá enviar uma representante ao evento de filiação, Monica Rosenberg, filha do economista Luís Paulo Rosenberg.

“Moro é uma incógnita, mas a gente espera que ele defenda as liberdades individuais, como defendia antes de chancelar a candidatura do Bolsonaro. Infelizmente, o Moro deu força para aquele projeto”, afirma ela, que é ligada ao partido Novo e coordena o Livres em São Paulo.

Para o ex-presidenciável João Amoêdo (Novo), interlocutor de Moro e entusiasta da chamada terceira via, o ex-juiz seguirá a cartilha liberal se vingar como candidato. Ele diz que a receita de combate à inflação, Estado enxuto e responsabilidade fiscal é incontornável diante do quadro econômico e social.

“O próximo presidente vai receber um país bastante destroçado. A pauta da economia está muito mais relevante, vai ser preponderante. Ao mesmo tempo, acho que ele [Moro] está consciente de que não pode ser uma campanha de tema único, senão fica restrito a um nicho específico”, afirma.

Pesquisa Datafolha de setembro indicou que a saúde é considerada o principal problema do país, conforme a visão de 22% dos brasileiros. Em seguida vêm três questões interligadas: o desemprego (13%), a economia em si (13%) e a inflação (9%).

Corrupção aparece em sétimo lugar no ranking, apontada por 5% dos entrevistados. É uma inversão em relação a anos recentes, em que o assunto dominava a lista de mazelas do Brasil, segundo os levantamentos do instituto.

A pesquisa de setembro mostrou ainda que 69% dos brasileiros acham que a realidade econômica do país piorou nos últimos meses. E que, para 53% das pessoas, a situação de suas próprias finanças se agravou recentemente, o maior percentual registrado para o quesito nas sondagens desde 2015.

Folha de S. Paulo

 

 

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