Capitais cancelam réveillon mas permitem festas privadas

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Foto: Reprodução

Pelo menos 17 capitais anunciaram que não vão realizar festas públicas de Réveillon, mas deixaram aberta a possibilidade de eventos privados serem promovidos. Mas, se as grandes festas públicas em locais abertos não vão ocorrer, há sentido em manter as particulares?

Especialistas em saúde ouvidos pelo UOL são unânimes em dizer que a restrição apenas de festas públicas não tem qualquer embasamento científico e coloca a população em risco.

“Cancelar as festas públicas é uma medida de cautela, mas os eventos privados também oferecem riscos. A lógica é a mesma, e os políticos deveriam assumir o seu papel, pensar na saúde pública e restringir também esses eventos”, diz Pailo Petriy, doutor em epidemiologia e professor da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

O professor de infectologia da Ufal (Universidade Federal de Alagoas) Fernando Maia também assegura que não vê sentido em cancelar algumas festas e manter outras, como se houvesse local mais seguro.

Não tem lógica. Se vai se cancelar uma festa, tem que cancelar as outras, seja de caráter público ou privado. O critério deve ser: geram aglomeração de pessoas? Se sim, é exatamente o que se quer evitar neste momento.”
Fernando Maia, da Ufal

Ele afirma que, mesmo que os casos de covid-19 estejam hoje em um patamar mais baixo, o coronavírus continua circulando. “O melhor é não ter festa de Natal, Réveillon e Carnaval, e depois a gente poder voltar a nossa vida normal. Está todo mundo cansado, é verdade; mas esse vírus tem se mostrado muito agressivo no sentido de se multiplicar”, diz.

Para Ligia Bahia, professora de medicina da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) na área de saúde pública, não está na hora de fazer festas do porte de um Réveillon. “A gente não sabe bem o espraiamento da ômicron, sem contar que a gente avançou na vacinação, mas tem estados com coberturas vacinais mais e menos elevadas. É um risco”, afirma.

A gente precisou estabilizar para voltar a funcionar as atividades essenciais todas, mas não os megaeventos. A gente tem alguma luz no fim do túnel, mas ainda não atravessamos esse túnel.”
Lígia Bahia, da UFRJ

A professora lembra que eventos privados de grande porte fazem pessoas viajarem pelo país, o que também é uma medida arriscada no momento. “Você tem estados como o Rio e o Nordeste, que recebem um fluxo muito grande de pessoas de outros lugares. E o problema não é só o número de pessoas no local, mas nas rodoviárias, aeroportos, ficando muito tempo em ônibus, avião. É um conjunto de circunstâncias que preocupa”, afirma.

A questão da vacinação em alta é um ponto que os especialistas relativizam em termos de segurança para grandes eventos. Eles ponderam que a descoberta da nova variante tem efeitos ainda desconhecidos —inclusive sobre um eventual “furo” imunológico às vacinas.

“É necessário manter cautela para liberação de eventos e atividades que induzam grandes aglomerações, não só porque a vacinação ainda não atingiu a porcentagem de brasileiros que se espera, mas também pela chegada da nova variante ômicron e seu grande potencial de disseminação”, afirma Fernando Aith, professor titular da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo).

É prudente cancelar as festas de Réveillon que muitas cidades planejavam, mas isso deve se estender também às atividades privadas que envolvam grandes aglomerações. Ainda desconhecemos os potenciais danos que ela pode causar com relação ao recrudescimento da pandemia.”
Fernando Aith, da USP

A doutora e professora de doenças tropicais da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) Vera Magalhães pontua ainda que, mesmo que as festas adotem critérios para entrada, como o passaporte de vacina, é preciso evitar grandes aglomerações neste momento.

“O que estamos observando —independentemente da variante ômicron— é um aumento de casos na Europa, em países que têm uma taxa de vacinação boa. Os Estados Unidos continuam com mais de mil mortes por dia. Então isso demonstra o descontrole da pandemia. A gente sabe que a vacina é necessária, é uma estratégia muito importante, mas não é suficiente para deter a situação viral”, diz.

Não tem sentido realizar eventos com aglomeração, principalmente onde as pessoas não estarão de máscaras. Diante disso, privada ou pública, não há racionalização em liberar esses eventos.”
Vera Magalhães, da UFPE

A vice-presidente da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva), a epidemiologista e professora da UFC (Universidade Federal do Ceará) Ligia Kerr afirma que a chegada da ômicron teve ao menos um efeito positivo: fez governantes recuarem em medidas de flexibilização para uma pandemia ainda em curso.

“A gente está vendo governadores voltando atrás. São Paulo recuou, e todos vão usar máscara em local aberto. No Nordeste, já vimos governantes que não vão fazer grandes festas de Réveillon ou Carnaval. É assim que tem de ser. Temos uma variante que não sabemos ainda como ela funciona, mas já está claro que ela é mais transmissível”, afirma ela, que presidiu o último Congresso Brasileiro de Epidemiologia.

Nós temos que ter a inteligência de acompanhar a experiência de outros países. Aqueles que abriram mão da máscara, mesmo onde tenha vacinação alta, estão voltando atrás. Não estamos ainda prontos para isso.”
Ligia Kerr, da Abrasco

Para ela, o surgimento da ômicron deve ser uma oportunidade para reforçar sobre os cuidados necessários —e que devem ser mantidos. “Não é hora de tirar a máscara, mas também é preciso continuar com o distanciamento físico e seguir com a vacina. Não tem sentido realizar festas públicas, mas nem as grandes em locais fechados. Isso deveria ser coibido”, defende.

Por fim, ela aponta que é preciso que o mundo olhe com maior empatia e sabedoria para que a vacina chegue a todos os locais do mundo, evitando assim os bolsões onde podem nascer variantes.

“Nós estamos com vários países que não conseguiram vacinas, mas tem outros com mais que o suficiente para toda a população e com enorme percentual de gente que não quer ser vacinada. O continente africano ficou completamente a ver navios. Não é à toa que estejam nascendo variantes nesse local. Precisamos entender que estamos vivendo um momento ímpar no mundo, e todos precisam cooperar”, finaliza.

Uol

 

 

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