Classe política vê candidaturas a presidente já definidas

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Foto: Anderson Riedel/PR e Bruno Santos/ Folhapress

A corrida presidencial de 2022 entrou em uma fase decisiva, com as principais pré-candidaturas já colocadas e intensa movimentação dos atuais favoritos —o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o postulante à reeleição Jair Bolsonaro (PL)— e dos que tentam despontar na chamada terceira via.

Definições que se arrastavam sumiram do radar com a chegada de dezembro e, a dez meses do pleito, pré-candidatos e partidos travam batalhas por crescimento e consolidação nas pesquisas, formação de alianças e atração de apoios, embora ainda restem pendências no horizonte.

Dos 14 nomes lançados ou ventilados, são alvo de atenção: Lula (que lidera com certa folga, mas não joga parado), Bolsonaro (que se arma na política e na máquina pública) e os que tentam furar essa polarização, com destaque para Sergio Moro (Podemos), João Doria (PSDB) e Ciro Gomes (PDT).

O ex-juiz e o governador de São Paulo protagonizaram em novembro dois momentos cruciais da disputa até aqui. O primeiro, ex-ministro de Bolsonaro e ícone da Operação Lava Jato, confirmou sua entrada no certame com a filiação partidária, e o segundo venceu as prévias internas do PSDB.

Eles formam agora dois centros gravitacionais no campo de centro-direita, que há meses repete o mantra da convergência em torno da candidatura que se mostrar a mais robusta para ir ao segundo turno. A vaga é o sonho também de Ciro, ofuscado pela hegemonia de Lula à esquerda.

Pré-candidatos, dirigentes partidários, auxiliares e cientistas políticos consultados pela Folha nos últimos dias citam os cinco postulantes como peças fundamentais do tabuleiro de 2022: competidores que dificilmente abrirão mão da candidatura e influenciarão os rumos nos próximos meses.

Mas, sempre com a ressalva de que na política a constância é a inconstância, operadores e observadores apontam a relevância de atores que ficarão em voga, como os senadores Rodrigo Pacheco (PSD) e Simone Tebet (MDB). É preciso considerar, ainda, variações no ambiente partidário.

A formalização da União Brasil (resultado da fusão de PSL e DEM) é um dos elementos aguardados, já que a nova legenda será a maior bancada da Câmara dos Deputados e a campeã de verbas públicas de campanha. O apoio do partido é disputadíssimo, mas há chance de ele ter candidato.

As conversas sobre 2022 passam também pela possibilidade da formação de federações partidárias (coalizões criadas para disputar eleições e que devem se manter alinhadas por quatro anos). Siglas à esquerda e à direita avaliam o modelo, mas esperam a confirmação da validade da regra.

Na congestionada terceira via, começa agora uma etapa mais pragmática de apresentação dos pré-candidatos e projetos. Isso, ao lado das sondagens de intenção de voto, será essencial na decolagem ou no descarte de candidaturas, além de indicar o potencial para apoios e coligações.

A chegada de Moro ao páreo, que inegavelmente balançou outras candidaturas, abriu uma nova fronteira em setores da direita que estiveram com Bolsonaro em 2018, em especial grupos lava-jatistas e alas das Forças Armadas, mas há cautela sobre entraves a um crescimento mais sólido.

Entusiastas do ex-juiz e o entorno do Podemos demonstram euforia com a receptividade encontrada em determinados segmentos neste primeiro momento, mas até potenciais aliados falam em tom de prudência. Dizem ser preciso avaliar, por exemplo, a variação da taxa de rejeição a ele.

No caso do atual presidente, novembro marcou o desfecho, ao menos por ora, da novela de sua filiação partidária, depois de dois anos. O retorno ao centrão, com a ida para o PL, carimba o casamento com o bloco que ele outrora tachava de velha política e do qual espera sustentação.

Assombrado pela debacle econômica e social, motivo mais que suficiente para ameaçar sua reeleição, Bolsonaro passou a priorizar a montagem de palanques estaduais e aspectos de uma campanha que, desta vez, dependerá mais da estrutura convencional, com fundo eleitoral e tempo de TV.

A antecipação do debate eleitoral é atribuída em boa medida ao titular do Planalto —que age e se coloca como candidato desde antes da pandemia de Covid-19—, mas também à anulação das condenações de Lula na Lava Jato, em março, o que o devolveu instantaneamente ao rol de concorrentes.

O petista investiu na reconstrução de sua imagem após a prisão, conversou com líderes partidários e sociais e fez um giro internacional. Além disso, alimenta rumores sobre a vaga de vice —sobretudo a possibilidade de ter a seu lado um antigo rival, o ex-governador Geraldo Alckmin, de saída do PSDB.

Em público, Lula despista. Não confirma nem mesmo sua pré-candidatura, protela a decisão para fevereiro ou março e diz que não cogita fechar o parceiro de chapa logo.

“Em política, não se pode deixar vácuo”, diz o secretário nacional de comunicação do PT, Jilmar Tatto. “Até parado a gente está jogando o jogo, atentos a todos os movimentos, tudo o que está acontecendo no país, no governo, nos partidos. A direção do PT está dialogando com Lula e com a sociedade.”

A expectativa de vitória no primeiro turno, alimentada em rede social há alguns dias por Fernando Haddad (PT), tampouco é consenso na legenda. Alas avaliam ser remota a hipótese. Entre opositores, a mensagem às bases petistas é lida como reação à ascensão de Moro e temor de derrota.

Tatto rechaça as versões de preferência por enfrentar Bolsonaro, que seria um adversário mais fácil de ser abatido, e preocupação com a eventual ida do ex-juiz, figura mais palatável para a direita, ao segundo turno. “Não tem nada disso nem de ‘já ganhou’. Nossa linha é pé no chão e pé na tábua”, afirma.

Outros dirigentes repisam o discurso típico da temporada. Denotam certa indiferença em relação aos concorrentes, desfiam elogios aos próprios combatentes e são capazes de jurar que as candidaturas irão até o fim, sem o joguete manjado de lançar nome só para valorizar o passe nas composições.

“Não há nenhuma hipótese de desistência, nem para o Ciro nem para o PDT”, diz o presidente nacional do partido, Carlos Lupi, sobre as recorrentes análises que apontam o ex-ministro emparedado, sem espaço na esquerda tomada por Lula e com muitos obstáculos para chegar à centro-direita.

Ciro manterá a estratégia de ampliar o alcance nas redes sociais e percorrer o país com seu plano de recuperação econômica, ancorado em desenvolvimento. Enquanto isso, fustiga Lula, Bolsonaro e Moro.

“Estamos firmes nesse projeto”, segue Lupi. “É claro que, numa eleição, todos que disputam contigo, em tese, são ameaças, mas novidades que surgem são do processo político. Movimentações como a do Moro e a do Doria mexem muito mais com uma base eleitoral ligada ao Bolsonaro do que a nós.”

Concluídas as tumultuadas prévias do PSDB, pairam dúvidas sobre um partido fraturado por embates entre aliados do vencedor, apoiadores do oponente Eduardo Leite, velha guarda e bolsonaristas. Nas palavras de um articulador da terceira via, Doria ganhou, mas agora é preciso ver se levou.

Olhares de desconfiança pesam também sobre a firmeza das pré-candidaturas de Pacheco e Tebet, por exemplo. Não são isoladas as avaliações de que ambos já entram na corrida dispostos a abrir mão.

“No PSD, a convicção é que temos a candidatura de Rodrigo Pacheco e ela vai até o fim”, afirma o presidente do partido, Gilberto Kassab, maior fiador da campanha do presidente do Senado —que vinha resistindo a se colocar e ainda hesita em vestir o figurino de presidenciável.

A informação no PSD é a de que ele tem reservas por causa do cargo, mas passará a falar abertamente como postulante. “Minha percepção é que o quadro está estabilizado e que poucos dos que se apresentam agora desistirão. Dificilmente deixarão de ser candidatos o Moro, o Doria, o Ciro”, diz Kassab.

O presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, culpa a cultura machista pelas insinuações de que Tebet, que ganhou projeção com a CPI da Covid, não está chegando para valer. “Por que não falam isso quando se trata do Pacheco, do Moro? Acham que ela toparia fazer uma cena dessas?”, rebate.

A pré-candidatura da senadora, que será lançada nesta quarta-feira (8), está sendo construída com unidade interna há meses, segundo Baleia. “Ela representa a novidade, mas é o novo com conteúdo e experiência política. E é a única mulher na disputa, com todas as condições de avançar.”

No Cidadania, o presidenciável Alessandro Vieira se esforça para convencer os que desde já o encaram como carta fora, pela proximidade com Moro. “Não existe nenhum acordo prévio. O que defendo é que ninguém deve ser candidato de si mesmo nem vetar entendimentos”, diz o senador.

Analistas, de forma geral, veem tendência momentânea de continuidade da polarização entre Bolsonaro e Lula, em meio aos disparos contra ambos lançados pelos pré-candidatos mais bem colocados. Moro é o alvo preferencial da vez, atacado sobretudo pelos dois líderes e por Ciro.

Para o cientista político Cláudio Couto, o jogo começou e já tem seus principais personagens. “Todos se movimentam porque, se não montarem uma coalizão forte nem conversarem com a sociedade, chegarão fragilizados. Até o que hoje é vantagem pode se pulverizar rapidamente”, diz o professor da FGV-SP.

PEÇAS PARA A CORRIDA PRESIDENCIAL DE 2022
O que já era

Definição das principais candidaturas, com volta de Lula, desistência de Luciano Huck e entrada de Sergio Moro, por exemplo
Prévias do PSDB concluídas, lançando ao escrutínio João Doria (SP) e clareando o cenário de composições partidárias
Filiação de Bolsonaro ao PL, selando o casamento com o centrão e dando início à formação da coalizão que deve apoiá-lo
O que vem aí

Concorrência interna na chamada terceira via em busca de nomes com maior potencial e chance de aglutinar a centro-direita
Definições partidárias, com a oficialização da criação da União Brasil (fruto da junção de PSL e DEM) e possíveis federações
Ações de Bolsonaro para se garantir no segundo turno, com pagamento do Auxílio Brasil e acirramento da polarização com Lula

POSSÍVEIS CANDIDATOS À PRESIDÊNCIA EM 2022
Jair Bolsonaro (PL)
Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
Sergio Moro (Podemos)
Ciro Gomes (PDT)
João Doria (PSDB)
Rodrigo Pacheco (PSD)
Simone Tebet (MDB)
Luiz Henrique Mandetta (DEM/União Brasil)
Luiz Felipe d’Avila (Novo)
Alessandro Vieira (Cidadania)
André Janones (Avante)
Cabo Daciolo (Brasil 35)
Leonardo Péricles (UP)
Aldo Rebelo (sem partido)

DATAS IMPORTANTES DO CALENDÁRIO ELEITORAL
2 de abril – Prazo final para a filiação partidária e mudança de domicílio eleitoral
Abril – Mês da janela partidária, em que parlamentares podem mudar de legenda sem perda de mandato
20 de julho a 5 de agosto – Prazo para a realização das convenções partidárias
15 de agosto – Prazo final para o registro de candidatos na Justiça Eleitoral
16 de agosto – Data em que passa a ser permitido fazer campanha, com pedido de voto
2 de outubro – Primeiro turno da eleição
30 de outubro – Segundo turno da eleição

Folha de S. Paulo

 

 

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O Blog da Cidadania é um dos mais antigos blogs políticos do país. Fundado em março de 2005, este espaço acolheu grandes lutas contra os grupos de mídia e chegou a ser alvo dos golpistas de 2016, ou do braço armado deles, o juiz Sergio Moro e a Operação Lava jato.

No alvorecer de 2017, o blogueiro Eduardo Guimarães foi alvo de operação da Polícia Federal não por ter cometido qualquer tipo de crime, mas por ter feito jornalismo publicando neste Blog matéria sobre a 24a fase da Operação Lava Jato, que focava no ex-presidente Lula.

O Blog da Cidadania representou contra grandes grupos de mídia na Justiça e no Ministério Público por práticas abusivas contra o consumidor, representou contra autoridades do judiciário e do Legislativo, como o ministro Gilmar Mendes, o juiz Sergio Moro e o ex-deputado Eduardo Cunha.

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