Enquanto Lula vai ao centro, outros pré-candidatos vão à direita

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Foto: Wilton Junior, Dida Sampaio e Gabriela Biló/ Estadão/Reprodução

No ponto de partida da antecipada corrida presidencial, o fenômeno digno de registro é o giro à direita generalizado no timão político nacional. São três as raízes do movimento: 1) o controle absoluto de Lula sobre a esquerda; 2) a persistência de um extenso antipetismo; 3) o fracasso completo do governo Bolsonaro.

Desde o seu duplo mandato, Lula transformou-se, para todos os efeitos, na encarnação da esquerda brasileira –e, por isso, não teme concorrência à sua esquerda. O PSOL, sob Boulos, opera com sublegenda do PT e apoiará a candidatura de Lula em qualquer circunstância. Por isso, o ex-presidente não enxerga riscos na articulação de uma chapa com Alckmin, ou seja, num giro rumo ao centro muito mais impactante que sua anterior dobradinha com o empresário José Alencar.

Os escândalos do mensalão e do petrolão, junto com a devastadora crise econômica precipitada por Dilma, calcificaram a aversão ao PT em amplas parcelas do eleitorado. Lula sabe dos perigos que correria num segundo turno, independentemente do adversário. A valsa da aliança com o tucano em voo livre destina-se a encerrar o jogo no primeiro turno, por meio da redução de seus índices de rejeição, especialmente no Centro-Sul. Do ponto de vista de sua prioridade única, o lance faz sentido, assim como se justifica o apoio do PT ao PSB nas eleições estaduais de Pernambuco, às custas de Humberto Costa ou Marília Arraes, e São Paulo, às custas de Haddad ou Boulos.

Bolsonaro fracassou em tudo. Na economia, Guedes descumpriu todas as promessas de campanha e, de quebra, associou seu “liberalismo” à irresponsabilidade fiscal. Na política, perdeu a aposta golpista, interrompida pela humilhante retirada do 7 de Setembro. No campo da popularidade, agarra-se a um setor minoritário de eleitores hipnotizados pelo discurso reacionário e aos seguidores incondicionais dos bispos de negócios. Sua herança é a orfandade da maioria antipetista que o catapultou ao Planalto.

Daí que, enquanto Lula se move para o centro, a maioria dos pré-candidatos se desloca para a direita. O sonho de consumo deles é desbancar Bolsonaro, capturando o lugar restante num eventual segundo turno.

Moro exibe-se como o “Bolsonaro autêntico”, sem as adiposidades extremistas. O juiz parcial reorganiza os elementos cruciais para o sucesso do capitão indisciplinado em 2018: a antipolítica; representada pelo salvacionismo judicial personificado por ele mesmo; o liberalismo econômico, simbolizado por Pastore; a ofensiva política dos militares, expressa na parceria com o general Santos Cruz.

A restauração do espírito lava-jatista é sua bandeira central. Numa ponta, tenta se livrar do peso da sentença que o expôs como juiz que manchou a toga por meio da acusação de leniência com a corrupção lançada ao STF. Na outra, promete subverter institucionalmente o sistema judicial pela criação de um tribunal especial contra a corrupção no qual seria normalizado o conluio ilegal entre juízes e procuradores.

Doria, por sua vez, quer ser o “novo PSDB”, isto é, um partido definido essencialmente pelo antipetismo, mas avesso ao golpismo e à irracionalidade do bolsonarismo. Fragilizado por prévias divisivas num partido agonizante, o governador paulista corteja Moro em busca de uma coalizão capaz de disputar com Lula o turno final.

Na paisagem eleitoral, Ciro Gomes é um ator à procura de um personagem. Rompido com o lulismo e sem ossadas bolsonaristas no armário, ele imaginava percorrer a pista da “terceira via” legítima. O problema é que a possível aliança Lula/Alckmin lhe estreita a passagem, impondo uma escolha fatal. Manobrar à esquerda significa chocar-se com a muralha do lulismo; girar à direita implica embrenhar-se em área de congestionamento. João Santana, um mágico inflacionado, não tem artifícios eficientes para solucionar seu dilema.

Folha  

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