Bolsonaro empurrou extrema-direita para a ilegalidade

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Foto: Sergio Lima / AFP

Cientistas políticos apontam que, desde 2018, grupo normalizou valores sociais radicais e se tornou risco real à democracia, mas perdeu oportunidade de se formalizar em um partido político, o que pode afetar organização futura

Após três anos de governo Bolsonaro, a extrema direita que o ajudou a se eleger conquistou avanços, normalizou valores sociais que defende e perdeu oportunidades inéditas. É o que aponta análise de estudiosos do bolsonarismo, convidados pelo GLOBO a fazer um balanço, desde 2018, do grupo mais à direita do espectro político no país.

Uma das mais notáveis mudanças foi a aceleração da internacionalização da extrema-direita brasileira, agora ator global de peso, diz Odilon Caldeira Neto, coordenador do Observatório da Extrema Direita. E, após as derrotas de Donald Trump nos EUA e José Antonio Kast no Chile, as eleições brasileiras, afirma, ganharam mais relevância:

— O Brasil passou de receptor a produtor de premissas de extrema direita. Não à toa, Steve Bannon tem muito interesse na eleição daqui — diz.

O ex-conselheiro político do ex-presidente Trump foi considerado um dos responsáveis pela vitória do republicano em 2016. E antes mesmo de assumir a Presidência, Bolsonaro já mantinha contato com Bannon, relação cujo elo sempre foi o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

Mas, com o naufrágio do Aliança pelo Brasil, partido que Jair Bolsonaro (PL) tentou montar após deixar o PSL, em 2019, a direita radical perdeu a oportunidade de se “institucionalizar”. É o que defende Christian Lynch, da Uerj. A “perda de timing”, diz, pode ter sido crucial para a organização política futura do grupo.

— Em vez de se materializar num partido, o bolsonarismo alugou o Centrão. Uma eventual derrota eleitoral de Bolsonaro será um baque muito mais duro do que foi para a esquerda o impeachment de Dilma, pois o PT tem enraizamento social, hierarquia, burocracia, intelectuais — diz Lynch.

Aliados de Bolsonaro já vaticinavam que a falta de um partido único que abrigasse a base ideológica do presidente havia sido responsável pela derrota do governo nas eleições municipais de 2020. Pulverizados em siglas como PRTB, PTB, PSL, PSC, Patriota e Republicanos, poucos bolsonaristas se elegeram.

A cientista política Camila Rocha, da USP, por outro lado, avalia que o poder de mobilização de Bolsonaro, mesmo sem um partido próprio, é expressivo. Ela destaca que, enquanto Bolsonaro estava no PSL, seus correligionários fundaram diretórios em cidades pequenas, o que ajudou a capilarizar sua base. E afirma que o grupo se vê mais como um movimento, uma “frente”.

— Não ter um partido único é estratégia bem anterior à ascensão bolsonarista, já estava desenhada na nova direita e faz sentido para quem se vê como antissistema — diz.

Bolsonaro se filiou ao PL em novembro, mas sua base de apoio está dispersa por partidos diversos. E aliados do presidente, sob reserva, ponderam se uma migração em massa para o PL seria a melhor estratégia para a reeleição.

Caldeira Neto lembra também que, em três anos de governo Bolsonaro, houve “certa normalização” de grupos extremistas, mais legitimados a manifestar seu discurso de ódio e praticar crimes de intolerância. Autoritarismo, hierarquia e nacionalismo se tornaram mais difundidos.

Levantamento do GLOBO mostrou que o número de inquéritos abertos pela Polícia Federal para investigar casos de apologia ao nazismo, por exemplo, disparou em 2020, na comparação com a série histórica da última década, passando de 20 em 2018 para 110 em 2020.

A professora da UFSC Letícia Cesarino, que estuda grupos extremistas em plataformas digitais, diz que a rede de informação bolsonarista está menor, mas mais radicalizada. E alerta que seu ecossistema — WhatsApp, Telegram, Facebook, Twitter, YouTube e outras redes —, onde circulam conteúdos com ataques e de descrença a instituições como imprensa, universidades e partidos políticos, contribui para a corrosão da democracia.

Ela detecta uma “zona cinzenta” entre o subterrâneo das redes digitais bolsonaristas e a arena pública. Nesse espaço, diz, ideias radicais circulam entre pessoas que não são necessariamente extremistas.

Um exemplo são os canais antivacina do Telegram, ao unir pessoas que defendem estilo de vida “natural”, livre de medicamentos produzidos em laboratório, e apoiadores de Bolsonaro que replicam seus ataques à imunização contra a Covid-19 e disseminam mentiras e distorções sobre a pandemia.

— A pandemia acelerou isso, e questões como a desinformação sobre urnas eletrônicas já começam a repercutir nesse segmento intermediário — afirma.

O Globo 

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