Bolsonaro pode usar “ferramenta” para espionar adversários

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Foto: Alan Santos/PR

As maiores empresas da aviação mundial estavam reunidas na feira aeroespacial conhecida como Dubai AirShow quando, no dia 14 de novembro, um domingo, um integrante do chamado “gabinete do ódio” entrou no stand de Israel, que funcionou pelo primeiro ano no local, com o interesse de municiar o grupo paralelo com uma poderosa ferramenta espiã, para ser usada, em especial, neste ano eleitoral.

A visita não ocorreu por acaso. A presença israelense na feira apenas foi possível depois da normalização das relações entre os Emirados Árabes Unidos e Israel, um ano antes. Assim, o Dubai AirShow acabou se transformando em palco da tecnologia israelense.

O evento ainda foi usado para consolidar a aproximação entre movimentos de extrema-direita do mundo. Além do Brasil, o governo populista da Polônia manteve encontros com empresas de Israel e, nas últimas semanas, Varsóvia anunciou acordos como resultado dos contatos realizados em Dubai.

Pouco antes do encontro naquele domingo, em uma sala privativa no espaço cedido por Israel, como ressaltou uma fonte ligada à inteligência do governo e que esteve presente na comitiva presidencial, o presidente Jair Bolsonaro (PL) cumpria uma das agendas de sua viagem aos Emirados Árabes: a inauguração, no mesmo evento, do “pavilhão Brasil”.

No stand de Israel, porém, o integrante do “gabinete do ódio”, perito em inteligência e contrainteligência que também fazia parte da comitiva presidencial, conversou com um representante da empresa DarkMatter (matéria escura em português). O especialista, cujo nome não foi informado, responde extraoficialmente ao vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos).

Composta, em sua maioria, por programadores israelenses egressos da Unidade 8200, força de hackers de elite vinculada ao exército de Israel, a companhia com sede em Abu Dhabi desenvolveu sistemas capazes de invadir computadores e celulares de alvos, inclusive desligados.

Fontes ligadas ao GSI (Gabinete de Segurança Institucional) e à Abin (Agência Brasileira de Inteligência) afirmaram que, em outra frente, o “gabinete do ódio” tem mantido conversas em paralelo com a empresa Polus Tech com o objetivo também de obter programas espiões.

Com sede na Suíça, a Polus Tech tem como CEO o programador israelense Niv Karmi, um dos ex-fundadores da NSO Group, empresa dona da poderosa ferramenta espiã Pegasus (Niv é o “N” da sigla NSO).

As negociações com as duas empresas, que forneceriam ao grupo controlado por Carlos Bolsonaro uma ferramenta para espionar opositores, jornalistas e críticos em ano eleitoral, ainda não foram finalizadas.

Procurados, o vereador Carlos Bolsonaro, o GSI e o Palácio do Planalto não responderam aos questionamentos até a publicação desta reportagem. O UOL se coloca à disposição para manifestações futuras.

Especialistas do setor indicam que uma das técnicas oferecidas pela empresa é a “infecção tática” de celulares. A tecnologia desenvolvida pela companhia permite a quem detém o software ter acesso ao celular e a todo seu conteúdo quando o aparelho se conecta a uma rede —tudo isso sem o dono do smartphone saber.

Em seu site, o CEO da empresa explica que optou por ter sede na Suíça por “acreditar na disciplina, precisão e excelência em engenharia da indústria relojoeira suíça”, e que isso era “necessário para desenvolver o tipo de produtos que a Polus deseja construir”.

“As comunidades na Suíça me fizeram sentir em casa com minha decisão, pois cresci em um pequeno vilarejo de montanha, dentro de um pequeno país”, escreveu Niv Karmi.

Ele não cita, porém, que a cidade escolhida para ser a sede, Zug, é uma espécie de área com importantes vantagens fiscais dentro própria Suíça, que já é um paraíso fiscal.

Procurada na Suíça, a empresa não respondeu ao pedido de esclarecimento enviado pela reportagem.

Em maio de 2021, o UOL revelou que o vereador Carlos Bolsonaro interveio em uma licitação (a de nº 03/21), promovido pelo Ministério da Justiça, para que o órgão contratasse o avançado programa de espionagem Pegasus.

A aquisição do sistema, que constava no processo de instrução da disputa, contudo, foi frustrada após o interesse do gabinete do ódio pela ferramenta vir a público e após o TCU (Tribunal de Contas da União) suspender a licitação.

Associado a crimes e ataques contra os direitos humanos de civis, jornalistas e ativistas políticos, entre outros, o Pegasus se envolveu em um novo escândalo internacional em julho do ano passado.

A empresa dona do sistema também entrou na lista proibida pelos norte-americanos, após nove funcionários do Departamento de Estado dos EUA terem seus celulares invadidos com o Pegasus.

Em Israel, país de origem da NSO, os escândalos internacionais provenientes do uso descontrolado do poderoso artefato criaram uma crise interna no país.

Ainda sob influência de Benjamin Netanyahu, que deixou a função de primeiro-ministro em junho de 2021, o regime tomou atitudes drásticas para conter as críticas internacionais, cortando de 102 para 37 o número de países com permissão para negociar spywares com Israel.

A mudança foi uma resposta à acusação de que o Ministério da Defesa do país, responsável por aprovar a exportação e a comercialização das ferramentas de espionagem, autorizava sem restrição a liberação do Pegasus a outras nações.

As restrições tomadas pelo ministério israelense, contudo, têm sido tratadas como “de fachada” ou “pró-forma” por especialistas na área, já que qualquer pedido emergencial permitiria a um país como o Brasil, por exemplo, retornar à lista de compradores.

Uol 

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