Mais um tucano fundador do PSDB se aproxima de Lula

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Foto: EVARISTO SA

Cada vez mais próximo de se lançar candidato e com objetivos de destacar o seu legado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se aproxima de políticos históricos, em especial os dissidentes do PSDB. Nesta quinta-feira (20/1), o petista teve um encontro com o ex-senador Aloysio Nunes Ferreira. A ideia é formar uma espécie de mutirão de convergências para a campanha de 2022.

Não é a primeira vez que Lula se encontra com o ex-ministro da Justiça e da Secretaria Geral da Presidência da República do governo FHC. Os dois se encontraram outra vez ano passado e vêm mantendo conversas por telefone. A aproximação se dá pelo esforço do ex-presidente para construir uma frente ampla de reconstrução do país.

Para isso, Lula quer se reaproximar do que chamou esta semana de “PSDB da constituinte”.

O Correio conversou com Aloysio, atualmente o diretor-presidente da São Paulo Negócios. O ex-senador também avaliou o cenário das eleições deste ano e destacou a convergência política como a única forma de combater o bolsonarismo — o qual considera o extremismo mais perigoso. Confira trechos da conversa:

O senhor esteve com Lula esta semana. O que conversaram?
Embora nós dois sejamos corinthianos, não conversei sobre o Corinthians. Conversei sobre o Brasil, os grandes desafios que nós temos e a necessidade de ter o mínimo de boa convivência para resgatar as convergências que foram muito positivas no passado e que serão mais do que nunca, necessárias no presente.

Como enxerga a possível aliança entre Lula e Geraldo Alckmin?
É uma das respostas, acho que vai nessa direção é uma resposta positiva, mas tem que ir além. Eu não gosto de dar palpite na família dos outros, mas acho que é uma atitude política positiva tanto do Lula quanto do Alckmin, sinaliza exatamente a necessidade de uma união de forças para tirar o Brasil da crise, para reconstruir o Brasil em outros moldes.

Chegou a conversar sobre essa união? O que o ex-presidente disse?
Eu falei que era uma coisa muito positiva. Eu que tomei a iniciativa de dizer que era uma coisa boa. Tanto para ele, quanto para Alckmin. No caso do PT e do PSDB, são duas vertentes da social-democracia. Com uma vertente mais à esquerda, porque o PT não é um partido revolucionário, é um partido reformista. O PSDB também é um partido reformista. Nós desenvolvemos em certo momento, especialmente no impeachment, um posicionamento muito antipetista, que foi uma coisa muito estreita, que estreitou nosso horizonte, mas que não faz parte da natureza social democrática, e o PT e o PSDB foram responsáveis pelos êxitos que nós tivemos em todos os governos que ocupamos. Foi um momento. Mas, são duas vertentes da política democrática.

Mas essa provável união poderá tirar o Brasil da crise?
Não é só uma aliança partidária de personalidades, tem que ser mais profunda, envolvendo a sociedade, a academia, outros partidos políticos, isso não quer dizer exatamente uma aliança eleitoral agora, mas a criação de um espírito de colaboração e que passa por uma campanha civilizada, decente sem agravos pessoais, sem xingatório sem fake news, pelo menos do nosso lado. Deixe isso para Bolsonaro e a turma dele. Nós temos que recuperar o mínimo de cordialidade política. Deixa a raiva, a cafajestagem, para Bolsonaro e sua turma.

A polarização será inevitável em 2022?
Os primeiros movimentos estão sendo dados e só teremos um panorama mais preciso, a partir do dia três de abril em seguida, a data das convenções. Até lá, você tem dois campos bem divididos que é o campo do governo, da exrema direita, bolsonarista com os agregados de direita que se encorporaram a ele na última campanha, e você tem o Lula e os aliados mais próximos do PT. É um cenário que está colocado agora e pode sofrer alterações. Você tem vários candidatos da terceira via colocados que estão buscando aglutinar em torno deles uma parte do eleitorado, que é poderosa, e que não quer Lula nem Bolsonaro, mas está muito congestionado. Tem muita gente correndo nessa raia e não tem um programa, não tem uma cara nessa terceira via. É um movimento muito embrionário.

Por que políticos com visibilidade, como João Doria, não têm decolado?
A terceira via está muito congestionada, precisa ter uma missão mais clara do que querem propor para o Brasil e a partir do que fizeram. No caso do Doria, ele tem bastante coisa para contar, seu governo de SP, mas precisa ter um programa inspirador, corajoso para a redução da desigualdade, desenvolvimento do país, meio ambiente, política externa, isso precisa ter. Não adianta dizer que não é Lula nem Bolsonaro, tem que ter proposta de soluções positivas para o Brasil o que ainda não tem. Não adianta dizer “eu fiz isso e aquilo” tem que alicerçar essas propostas. O Brasil quer saber como sair do buraco.

Como vê a posição de Bolsonaro e de Lula nesse contexto?
Bolsonaro não pode mais se posicionar como antipolítica. O candidato antipolítica agora é Sergio Moro. Bolsonaro foi cooptado pelo centrão e terá que defender o seu governo de todo o desastre que ocasionou e não terá mais condições de jogar pedra no universo. Será ele uma grande vidraça. O Lula, por outro lado, é um grande líder político. Tem liderança na camada mais pobre da população, tem história de governo, com acerto e erros, e tem uma história pra contar.

E os demais candidatos?
O candidato tem que ter uma história para contar. O Doria tem uma história pra contar, da vacina, da administração de São Paulo, da prefeitura. Ciro Gomes também tem sua longa trajetória política com um enredo que pode servir de entusiasmo para seus eleitores. Simone Tebet tem seu desempenho como senadora, um histórico importante de gestora, mas ainda precisa ter apoio do seu próprio partido. Rodrigo Pacheco, eu não saberia dizer para o eleitor. Se eu quisesse cabalar votos para o Rodrigo Pacheco, não sei o que diria. O Moro é antipolítica, cada vez mais vai assumir posições mais de direita, que é o campo dele, mas também dificilmente conseguirá convencer o brasileiro que tem atributos para ser presidente da República, além de ter sido juiz de primeira instância com condutas amplamente contestadas.

Sergio Moro se destoa dos demais, por ser um jurista. Ele decola?
Ele não é jurista, é um juiz de primeira instância que teve alguma conduta na justiça altamente contestada não só com teor das sentenças que proferiu, mas também em razão do fato de ter se aproveitado do poder judiciário, em aliança com uma facção do Ministério Público, para fazer política e galgar postos de poder político. Fora isso, não tem mais nada que o credencie para ser presidente da República do Brasil. O que ele tem? O fato de ser juiz? Quantos juízes têm no Brasil? Quantos juízes honrados e honestos, que não fazem política a partir da magistratura e que têm carreira? São muitos. Porque ele se distingue? Porque realmente conseguiu um grande apoio da mídia e soube cultivar, aproveitar e fazer crescer, mas que agora vai se desvanecendo.

Como os candidatos da terceira via devem agir entre dois extremos?
Os dois têm militância forte [Bolsonaro e Lula]. Não basta dizer que não quer nem um nem outro. Para o eleitor de hoje, para mim, o que importa é derrotar o Bolsonaro. Não adianta vir com o discurso de que os dois [Lula e Bolsonaro] são extremistas. O extremismo perigoso é o bolsonarista, porque já mostrou o quanto prejudicou o Brasil. Esse, sim, tem que ser derrotado. Na terceira via existem contradições, mas como diria o Mao Tse Tung, são contradições no seio do povo. Há dois tipos de contradição: as do seio do povo e as entre o povo e seus inimigos. A minha contradição com Bolsonaro é a contradição dos democratas brasileiros, aqueles que querem tirar o Brasil da crise, um Brasil mais progressista, um Brasil zeloso do patrimônio, inclusive o ambiental. O outro lado, que é o Bolsonaro, é a negação de tudo. Então, eu acho que os candidatos que estão colocados, em oposição a Bolsonaro, precisam ter uma que tenha uma convergência de esforços.

Essa convergência é uma união partidária?
Nós já enfrentamos juntos, se examinar um pouco tudo que se fez de positivo nos últimos 15 anos ou 20 anos, você vai ver que foi resultado dessa convergência. Mas uma convergência ampla, de forças democráticas, progressistas, populares. Desde a histórica aprovação do código florestal, e que houve um mutirão envolvendo MDB, PT, PSDB, Democratas, fizemos uma Lei Florestal para lembrar. Temos convergência enorme em matérias de direitos humanos, posições de defesa de direitos humanos e uma série de assuntos, Comissão da Verdade, defesa da ciência e tecnologia. Na educação, o Fundeb foi um desdobramento do fundef do Fernando Henrique. Na política externa, com diferença de ênfases aqui ou ali, a política externa que nos desenvolvemos desde o governo Sarney, acabou sendo escrita na Constituição Federal, que é o que define o perfil internacional do Brasil. Tivemos com diferenças aqui e ali, mas basicamente na mesma linha, a linha racional, programas de combate a miséria, bolsa família, o FHC também, que começou programas de transferência de renda. Tudo isso é uma continuidade.

Então, a saída da crise é a convergência de ideias?
Sim. A situação do Brasil hoje é grave, é preciso consertar tanta coisa que foi arruinada. Exige que recuperemos esse espírito. Se vai dar o resultado numa aliança eleitoral agora ou para o segundo turno, eu não sei. Mas, para governar é preciso convergência. É preciso, inclusive, restabelecer as prerrogativas do presidente, diante do esvaziamento do poder presidencial pelo Congresso nos últimos tempos. Desequilibrou-se novamente o jogo entre o Legislativo e o Executivo, porque nenhum presidente foi mais submisso à fisiologia do Congresso Nacional do que o Jair Bolsonaro. Precisa restabelecer esse ambiente, a vontade de se fazer um mutirão para reconstruir o Brasil, mas precisa ter disposição para isso. Conversando, dialogando, superando divergências, esquecendo os agravos passados e indo em frente. Não dá para brincar mais.

Correio Braziliense  

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