Universal diz que evangélicos não podem votar na esquerda

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Foto: Reprodução

No momento em que adversários do presidente Jair Bolsonaro na corrida eleitoral constroem estratégias para atrair o eleitorado evangélico, a Igreja Universal do Reino de Deus defendeu, em artigo publicado em seu site, que é incompatível ser cristão e votar em candidatos de esquerda. Segundo o texto, que não está assinado, os “esquerdistas se travestem de defensores do povo” e pretendem “repetir no Brasil fórmulas desgastadas e ineficazes — incluindo-se aí os regimes ditatoriais — e espalhar ainda mais o caos para que suas atitudes de desgoverno não sejam notadas”.

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O artigo também atribui à esquerda a culpa pela polarização política atual, causadora de brigas que, segundo o texto, “fazem parte de uma estratégia maléfica para confundir ainda mais a população e angariar os votos dos incautos para os esquerdistas”.

Apesar de atritos recentes, como a crise envolvendo membros da denominação em Angola, a cúpula da Igreja Universal apoia Bolsonaro — na pesquisa Ipec de dezembro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aparece com 34% entre os evangélicos, empatado tecnicamente com o atual chefe do Executivo, que tem 33%. Além do petista, outros presidenciáveis, como Sergio Moro (Podemos), Ciro Gomes (PDT) e João Doria (PSDB), têm feito acenos ao segmento, que constitui uma das bases mais sólidas do atual chefe do Executivo.

A publicação traz ao fim uma frase do bispo Renato Cardoso, genro do bispo Edir Macedo, fundador da Universal: “Se você se diz cristão e ainda vota na esquerda, há apenas duas possibilidades: ou você não segue realmente os ensinamentos do cristianismo ou os segue e ainda não entendeu o que a esquerda é verdadeiramente”.

O distanciamento atual em relação à esquerda não é regra na história recente da Universal, cuja cúpula apoiou, além de Lula, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Com linguagem direta, direcionada ao leitor, a publicação destaca cinco pontos de debate, diferenciando o que seria o “modo de agir do cristianismo” e o da esquerda: família, formas de governar, crença, lados e unidade.

No primeiro, a contraposição é feita em cima da “formação de boas famílias” que, no cristianismo, trazem “bem-estar físico, psicológico, espiritual e social” e criam forte rede de apoio, diz o artigo. “Casais em harmonia criam lares em harmonia: filhos bem-criados que serão bons cidadãos e construirão e manterão uma sociedade sólida”.

À esquerda, no entanto, é colocado um posicionamento contrário ao “casamento convencional”, visto como o heteressexual, com incentivo para o “uso de drogas, que causam mal individual e social e desestruturam as famílias”. O discurso, segundo a Universal, é parte de uma estratégia para tornar a “sociedade doente”. Assim, “os esquerdistas podem posar de ‘defensores da liberdade’ para ganhar votos”.

Ao abordar as formas de governar, a defesa é de que a esquerda, com base no marxismo, “produziu historicamente as maiores ditaduras que oprimiram o povo”. Entre as opressões, a Universal cita perseguições ao cristianismo. “China e Coreia do Norte são exemplos de países esquerdistas que não permitem nem mesmo que existam templos cristãos”, afirma o artigo, que coloca a igreja, por outro lado, como combativa a ditaduras e defensora da liberdade desde o Império Romano. “Que democracia foi aquela que tentava proibir o cristianismo a ponto de perseguir, prender, torturar e executar seu maior Nome, o Senhor Jesus Cristo (…)?”.

No ponto que cita a “crença”, nova contraposição entre o marxismo e os pensamentos cristãos. Para a universal, “a existência de Deus e a entrega a Ele”, princípio básico do cristianismo, são incompatíveis com pensamentos de esquerda.

“O marxismo, base de toda e qualquer ideologia esquerdista, tem por princípio filosófico o materialismo dialético que, antes de tudo, nega a existência de Deus”, diz o texto.

Quando fala de “lados”, a Universal traz citações bíblicas para defender que “estar do lado direito é identificado como um lugar especial, de honra, do Próprio Deus”, enquanto “os esquerdistas tentam anular tudo o que os evangélicos dizem”. Uma “esquerda evangélica”, cita o texto, representa contradição e é disfarce para que integrantes desse espectro político se infiltrem no cristianismo.

Por último, a unidade é colocada como antagônica aos pensamentos de esquerda, que “destaca a diferença para incentivar a briga entre as pessoas” e que “precisa do conflito para se manter, numa estratégia de ‘dividir para conquistar’”. Já a Igreja, diz a Universal, mostra, por meio da Bíblia, “que a Humanidade pode ser unida quando se submete ao Criador – que é o mesmo para todos – e aos Seus preceitos, que sempre nos levam ao que é melhor para todos”.

Segmento religioso que corresponde a cerca de 30% do eleitorado, os evangélicos representam setor crucial na corrida presidencial. Foram decisivos para a eleição de Bolsonaro ainda em 2018 e, neste momento, são cobiçados também pelos outros pré-candidatos, que têm incluído em suas agendas encontros com lideranças de diferentes igrejas.

Primeiro colocado nas pesquisas de intenção de voto, o ex-presidente Lula, identificado justamente no campo ideológico da esquerda, é um dos que buscam esse apoio. Apesar da manifestação da Igreja Universal, a denominação evangélica esteve ao lado do petista em seu governo e no de sua sucessora, a ex-presidente Dilma Rousseff, período em que a Universal contou com cargos governamentais e se expandiu no continente africano. No impeachment da petista, no entanto, a posição da igreja foi favorável.

Além do petista, outros presidenciáveis, como Sergio Moro (Podemos), Ciro Gomes (PDT) e João Doria (PSDB), têm feito acenos ao segmento, que constitui uma das bases mais sólidas do atual chefe do Executivo.

Já Bolsonaro, apesar de contar com o apoio do bispo Edir Macedo, fundador da instituição, tem histórico de altos e baixos com a Universal. Apoiado na reta final do primeiro turno em 2018 pela igreja, ele teve a filiação de dois dos seus filhos (Carlos e Flávio) ao Republicanos, partido ligado à denominação. Além disso, chegou a gravar vídeos de apoio ao candidato da legenda à reeleição para a Prefeitura do Rio, Marcelo Crivella, no primeiro turno, em 2020.

O desgaste na relação, entretanto, teve como principal fator uma crise em Angola que envolveu diretamente a Universal. Ainda em 2019, cerca de 300 bispos e pastores locais se rebelaram contra a direção brasileira da igreja por acusações de lavagem de dinheiro, sonegação e imposição de vasectomia às lideranças evangélicas.

Já no ano passado, as denúncias tornaram-se os elementos centrais de peças de acusação do governo angolano contra a igreja, imbróglio que afetou também a renovação de vistos de missionários para atuar na Angola e causou a deportação de dezenas de lideranças. Em reação, o presidente do Republicanos, Marcos Pereira, chegou a atacar o governo em transmissão ao vivo da TV Templo, ao classificar a postura do governo como um descaso.

O genro de Edir Macedo, Renato Cardoso, figura importante na Universal, fez o mesmo e falou em “decepção” com a “omissão” do governo em entrevista exibida na TV Record, o que, à época, acendeu alerta para Bolsonaro.

Num aceno à Universal, Bolsonaro indicou o ex-prefeito do Rio Marcelo Crivella, bispo licenciado da igreja, para ser embaixador na África do Sul. A iniciativa, no entanto, se transformou em constrangimento: sem o aval do governo sul-africano, o nome de Crivella foi retirado após quase seis meses de espera.

Histórico de relações políticas

Lula: vice do PRB
Vice de Lula ao longo dos oito anos de mandato, José Alencar se filiou ao PMR em 2005, sedimentando a aliança do governo com a Igreja Universal (a sigla ainda se chamaria PRB antes de chegar ao nome atual, Republicanos). O então presidente e o bispo Edir Macedo mantinham boa relação, e o petista participou de dois momentos de crescimento da Record, também vinculada à igreja, no período: a inauguração da Record News, canal voltado para o noticiário, e a a inauguração de novos estúdios no RecNov, o centro de dramaturgia da emissora, então em franca expansão.

Dilma: presença em ministérios
O PRB esteve na coligação de Dilma Rousseff nas duas campanhas em que ela foi eleita: 2010 e 2014. O partido ampliou a participação em cargos do governo, a exemplo das presenças de Marcelo Crivella no Ministério da Pesca e de George Hilton na pasta do Esporte. Hilton, aliás, rompeu com o partido na ocasião do impeachment para permanecer no cargo — a legenda decidiu se posicionar a favor da saída da petista. Em um momento recheado de simbolismo, Dilma e ministros participaram da inauguração do Templo de Salomão, em São Paulo, a maior estrutura da Igreja Universal.

Bolsonaro: voto de Macedo
Em 2018, o PRB esteve formalmente na coligação do então candidato do PSB, Geraldo Alckmin, mas, ao longo da campanha, lideranças evangélicas manifestaram apoio a Jair Bolsonaro. No fim de setembro, ao responder a um comentário no Facebook, o bispo Edir Macedo disse que votaria em Bolsonaro. Em 2020, a relação ficou ainda mais estreita, depois que Carlos Bolsonaro e Flávio Bolsonaro se filiaram à sigla — o senador já deixou a legenda, que integra a base do governo e comanda o Ministério da Cidadania, com João Roma. O governo atendeu a anseios das igrejas, como perdão de dívidas, mas enfrentou uma crise com a Universal por causa de Angola.

O Globo 

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