Bolsonarista foragido agora desafia Justiça no Telegram

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Depois de ter seus canais bloqueados no Telegram, neste sábado, Allan dos Santos já encontrou uma via alternativa para seguir publicando na plataforma: um perfil reserva, que já conta com mais de 21,5 mil seguidores, criado na sexta-feira. Nele, o blogueiro bolsonarista ensina a driblar restrições à rede social e acumula críticas e xingamentos ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

Em sua primeira mensagem publicada, Santos compartilhou um áudio para comprovar que era ele quem estava por trás do perfil, uma opção em caso de bloqueio dos outros, como de fato aconteceu. “Sejam bem-vindos ao meu canal reserva, pessoal”, disse. Procurado, o STF afirmou, por meio de sua assessoria, que não vai comentar, já que o caso está sob sigilo.

“Fala, pessoal, só pra comprovar que esse canal aqui é meu mesmo, tá? E se for derrubado o “Artigo 220”, o grupo do “Terça Livre”, o canal do “Terça Livre” e o meu pessoal, que é “Allan dos Santos”, tem esse aqui que é “Allan dos Santos 2”. Então só sigam perfis que tenham meu áudio original para evitar que alguém crie alguma coisa e diga que sou eu. Sejam bem-vindos ao meu canal reserva, pessoal”, anunciou o blogueiro, na primeira postagem do perfil alternativo, às 20h24 de sexta-feira.

A criação do canal alternativo foi feita um dia antes do bloqueio de suas três principais contas: “Allan dos Santos”, “TV Terça Livre” e “Artigo 220”. A decisão pelas restrições foi de Alexandre de Moraes que, no último dia 18, havia ameaçado bloquear o Telegram no Brasil pelo prazo inicial de 48 horas, se a suspensão não fosse cumprida. O cumprimento da medida pelo aplicativo de mensagens representou um recuo, já que até então a plataforma não havia respondido às demandas feitas pela Justiça brasileira.

Ainda é possível, no entanto, acessar o perfil original de Allan dos Santos pelo navegador de internet. Lá, estão disponíveis as publicações do blogueiro — a mais recente, às 11h52 deste domingo —, mas não é possível fazer parte do canal ou interagir com as publicações. Quando acessado pelo aplicativo do Telegram, o perfil mostra o aviso de que a conta “não pode ser ser exibida porque violou as leis locais”.

Na decisão do STF, Moraes cita, inclusive, que a criação de canais alternativos para a comunicação com seus seguidores, após restrições judiciais ao acesso, “tem sido prática recorrente” do blogueiro bolsonarista.

“A utilização de vários perfis, criados com a intenção de se esquivar dos bloqueios determinados, tem sido prática recorrente de ALLAN LOPES DOS SANTOS para a continuidade da prática delitiva, comportamento que deve ser restringido”, diz o documento.

Entre os posts compartilhados por ele no canal alternativo até o momento, estão links para seu canal bloqueado, que tem cerca de 125 mil seguidores, links para assinaturas de seu site e tutoriais, que orientam os internautas a driblarem eventual bloqueio do Telegram, simulando um acesso hospedado em um servidor no exterior. A publicação foi batizada de “Manual anti censura para o Telegram em Smartphones”.

Críticas e xingamentos a Moraes também foram frequentes desde a criação da conta alternativa. Em outro áudio compartilhado, o blogueiro diz que “não vai desistir” e que o ministro do STF “uma hora vai ter que se aposentar, vai ter que sair de lá, vai ter que desistir dessa palhaçada”.

“Essa decisão monocrática só vem da cabeça dele, ele é psicopata. Uma hora vai acabar, eu vou reestruturar minha empresa aqui nos Estados Unidos, o país da liberdade. Vou voltar a fazer notícia e daqui até lá, óbvio, vou estar com alcance reduzido, com poucas pessoas. Não são todas as pessoas que sabem usar VPN, mudar DNS. Assim como na China, como em Cuba, as pessoas não são mais idosas, mas as pessoas que não estão atualizadas com a tecnologia não sabem como acessar um conteúdo proibido no seu país”, diz Allan dos Santos.

Na sequência do áudio, o blogueiro segue criticando o ministro Alexandro de Moraes, insinuando que ele teria relação com o Partido Comunista Chinês. “Nós é que iremos vencer no final”, conclui Santos.

Já neste domingo, o blogueiro havia publicado um ataque ao deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), que comemorou o bloqueio dos canais de Allan dos Santos no Telegram.

“O deputado comunista PAULO PIMENTA celebrou a censura que meu canal no Telegram sofreu. Para ajudá-lo a comemorar com mais fulgor, envie-me todos os PODRES desse comunista se você é um policial federal, civil ou militar. PUBLICAREI todas as denúncias que vocês não podem aí no Brasil”, escreveu o blogueiro.

Allan dos Santos, que mora nos Estados Unidos, é alvo de dois inquéritos que investigam suposto esquema de divulgação de informações falsas no Supremo. Um dos inquéritos apura ameaças a ministros do tribunal e disseminação de conteúdo falso na internet, as chamadas fake news. O outro investiga o financiamento de atos antidemocráticos. Em outubro, Moraes determinou a prisão preventiva do blogueiro além de ordenar, ao Ministério da Justiça, o início imediato do processo de extradição.

Como mostrou a colunista do GLOBO Bela Megale, no entanto, esse processo não é simples e raramente surtiu efeito. Dados fornecidos pelo Ministério da Justiça mostram que, desde 2019, o Brasil fez 50 pedidos de extradição de foragidos da Justiça ao governo dos Estados Unidos, mas apenas dois foram atendidos. Um dos casos envolvia um acusado de estupro de vulnerável e o outro de homicídio. Isso mostra que apenas 4% dos pedidos ativos feitos pelo Brasil aos EUA foram atendidos nos últimos três anos.

Em outro post, já na tarde deste domingo, Allan dos Santos ironizou sua permanência nos Estados Unidos e voltou a provocar o ministro Alexandre de Moraes. O blogueiro publicou um vídeo em frente a um portal de entrada do Walt Disney World, em Orlando, na Flórida.

“Alexandre de Moraes, está vendo isso aqui? Não tem mistério, se você colocar no Google, consegue encontrar. Pode pedir para o Mickey, para a Minnie, para o Pateta ou para o Pato Donald. É bem simples, você vai lá, pede para eles e vem me pegar”, disse Santos.

O Globo