Bolsonaro não dá um passo em Moscou sem.pedir autorização

Todos os posts, Últimas notícias

O presidente Jair Bolsonaro (PL) desembarcou pouco depois das 16h (12h em Brasília) em Moscou para uma curta visita ao colega Vladimir Putin, que está envolvido na grave crise de segurança em torno da Ucrânia.

Bolsonaro desce do A319 presidencial no aeroporto de Vnukovo, a sudeste de Moscou
Bolsonaro desce do A319 presidencial no aeroporto de Vnukovo, a sudeste de Moscou – Valdenio Vieira/Presidência da República

Bolsonaro usava uma máscara ao descer do Airbus presidencial no aeroporto de Vnukovo. Ele costuma desprezar a proteção contra o novo coronavírus. Foi recebido por um dos vice-chanceleres do país, Serguei Riabkov, e pelo diretor de Protocolo do Kremlin, Igor Bogdachev.

Após ouvir os hinos russo e brasileiro na pista, foi para o hotel Four Seasons, na boca da praça Vermelha. Entrou de carro, sem parar, às 16h45 (12h45 em Brasília).

Segundo um membro da delegação, o presidente está incomodado com a chamada “bolha de Covid” do Kremlin, que visa blindar o presidente russo de qualquer contato com o novo coronavírus. Bolsonaro famosamente não se vacinou e critica a imunização contra a doença —Putin já recebeu três doses da russa Sputnik V.

De todo modo, Bolsonaro conseguiu dar uma escapada vigiada: ganhou uma visita guiada ao Kremlin no começo da noite em Moscou, na qual driblou jornalistas saindo com uma van por uma das laterais do hotel.

O Four Seasons, aliás, é famoso por suas fachadas laterais. Ele é uma reconstrução de 2014 do famoso Hotel Moscou, cuja lenda diz que o arquiteto apresentou dois desenhos para Josef Stálin em 1932. Como o chefão comunista assinalou aprovação para amb​as as projeções, para evitar gerar a ira do ditador ele construiu uma ala com um estilo mais seco e outra, mais ornada.

Pelo menos dois integrantes da comitiva, porém, saíram para jantar: os generais da reserva Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo). A comitiva inclui também o filho presidencial Carlos, vereador pelo Republicanos do Rio e estregista digital do pai.

Visitantes recentes do russo, como o presidente francês, Emmanuel Macron, e do premiê alemão, Olaf Scholz, não aceitaram fazer o exame de PCR russo para detecção do Sars-CoV-2, preferindo um teste de seu país para proteger dados de seus DNAs.

O Itamaraty disse que Bolsonaro faria os exames requeridos, mas não especificou se seriam os russos, como tudo indica.

Pelos protocolos sanitários do Kremlin, Bolsonaro deveria ficar no hotel até a manhã de quarta (16), quando ofertará uma coroa de flores no Túmulo do Soldado Desconhecido junto à muralha do Kremlin. Depois, se encontra e almoça com Putin, com quem fará uma declaração à imprensa após as reuniões.

Enquanto isso, haverá um encontro entre os ministros Walter Braga Netto (Defesa) e Carlos França (Itamaraty) com seus homólogos Serguei Choigu e Serguei Lavrov, respectivamente. Na chegada ao Moscou, Braga Netto disse que não haveria nenhum óbice à relação do Brasil com a Otan (aliança militar ocidental) ou a Ucrânia devido à visita.

Essa é a polêmica central da viagem, de resto em linha com a posição histórica de independência do Itamaraty em relação às queixas americanas pelos contatos com Moscou. Políticos e diplomatas criticaram o “timing” do conflito, que de resto parece ter encontrado um caminho de desescalada nesta terça, com o presidente russo ordenando algumas retiradas de tropas em torno do vizinho.

Isso foi celebrado por bolsonaristas em redes sociais, que criaram memes acerca do presidente estar “salvando o mundo da guerra” e despropósitos do gênero.

O ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles publicou no Twitter: “[o presidente americano Joe] Biden e o mundo ocidental agradecendo Bolsonaro por ter convencido Putin a desistir da invasão, talkey?!?”. Depois, foi obrigado a dizer que estava sendo irônico, ante a acusação de fake news.

Seja como for, a situação na quarta tende a ser bem mais tranquila para Bolsonaro do que nos dias anteriores, quando EUA e Otan diziam que a invasão russa da Ucrânia ocorreria até o dia 20, talvez no próprio 16.

Folha de SP