Bolsonaro tentará um golpe

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Foto: Marcos Corrêa/PR/Flickr/Reprodução

Dos nove meses do ano antes da eleição presidencial já viramos a página do mês de janeiro. Esses próximos meses serão marcados pelo ditado pelo calendário eleitoral. Nos meses mais próximos teremos a definição dos candidatos, sendo afastados os que estão nesse lote apenas para ganhar visibilidade ou aceitar um cargo de vice, o que não seria um mau negócio para aqueles no ostracismo ou ainda sem musculatura. O campo irá se estreitar, devendo restar uns oito candidatos, se tanto, com alguns já seguramente derrotados.

Os meses seguintes se caracterizam pelo início das campanhas assim como da propaganda eleitoral (de volta este ano). 02 de abril é uma data chave, a da desincompatibilização, quando faltarão seis meses para o pleito, o tempo corre. Nas inserções da propaganda política, ainda que em doses homeopáticas, o eleitorado terá oportunidade de ver os candidatos menos conhecidos ou expostos. Na reta final, ocorrem os debates onde os candidatos poderão mostrar mais detidamente suas ideias, suas propostas. Este é o momento do eleitorado aferir a densidade, pontos fortes e fracos dos pleiteantes. Onipresentemente, tem-se a propaganda nas redes sociais, com sua especificidade, para o bem e para o mal.

Este é um pano de fundo para a proposta deste artigo que consiste em examinar como reagiria o Presidente a uma situação de tempestade perfeita. As nuvens que têm se formado e que se formarão no firmamento político sugerem que se avizinha uma tempestade de grande porte para os lados do Palácio do Planalto. Esta tempestade perfeita estará formada por vários componentes. Por um lado, a Economia continua rateando. Com a transferência de protagonismo para o Posto Centrão, a lógica de distribuição de recursos (emendas, secretas ou não) fica mais próxima de adular as bases dos parlamentares do grupo presidencial do que as do “mercado”. Nenhum sinal à vista de recuperação econômica capaz de gerar frutos até 02 de outubro.

Por outro lado, o Presidente requentou alguns planos sociais, um Auxílio Brasil e o Vale Gás, que visam chegar à base popular do sistema social, digo eleitoral. O que ele e sua “elite pensante” parecem não enxergar é que essa base só tem crescido pelos equívocos na política econômica do governo e sua posição negacionista da pandemia. O trocado oferecido às bases não será suficiente, talvez apenas sair da miséria para a pobreza absoluta, e deixará ainda muitos fora dessa mísera cobertura. Outra obsessão é a redução dos combustíveis para aplacar a inflação e reduzir preços de alimentos, de olho nas camadas populares e fazer um agrado aos caminhoneiros, base, ainda ao que parece, do bolsonarismo. Parece também falhar competência ao grupo palaciano em perceber que os estragos feitos são muito elevados e essas medidas soam perfunctórias para alterar o cenário existente.

Passamos então a examinar o quanto que este cenário pode se deteriorar muito mais, gerando a tempestade perfeita, e especular no sentido das reações possíveis do candidato à reeleição. No cenário de hoje já herdado dos últimos meses do ano passado, apresenta-se o candidato Lula (PT), bem posicionado, com 42/44%, com folga apreciável sobre o 2º colocado nas pesquisas, justamente Bolsonaro (PL), com 22/24%. Não é descartada a possibilidade de Lula vencer já no 1º turno, mas isto requer a manutenção do atual cenário.

Em seguida, aparecem em empate técnico os candidatos Ciro e Moro, com 8%. A respeito desses dois cabe comentar que Moro, sendo um candidato estreante na política eleitoral, resultado de uma diáspora do governo Bolsonaro, dele era esperado um desempenho melhor, até por conta da forma como deixou o governo. Sua viabilidade corre um sério risco. Quanto a Ciro mostra-se um candidato calejado, experiente, que sabe o caminho das pedras da liturgia da campanha. Dória continua estacionado, mesmo com toda a bagagem positiva da tomada de decisão no caso das vacinas, nada dessa superexposição foi capaz de mudar sua imagem. Parece que somente um milagre poderá lhe dar alguma chance.

Quanto à Bolsonaro, confia que não lhe faltará a Protetoria-Geral da Presidência, arando a seu favor com interpretações favoráveis ao Presidente, mesmo com evidências fortes ao contrário. Confia que tem as costas quentes e que o malabarismo jurídico necessário será feito para evitar ainda algum pedido de impeachment, mesmo que tardio, o mesmo valendo para o acordo com o Centrão. Acredita também que as ações tomadas na área econômica e social lhe rendam votos, afinal, que é o que importa.

Agora queremos argumentar, como já esboçado acima, que para o candidato do PL, o céu não se mostra de Brigadeiro, os mares podem ficar revoltos e os caminhos por terra podem ter mais pedregulhos do que se pensa. Como reagirá o homem destemperado frente a uma tempestade perfeita, recolocando a questão?

Bolsonaro mostra-se o maior inimigo dele próprio. Parece entender que a base que o elegeu e que já tinha dado uma margem confortável no 1º turno de 2018 ainda é a mesma. Parece também não perceber que as pedras se movimentam no tabuleiro, alguns bispos já examinam alternativas mostrando defecções no grupo evangélico, tão complexo. Também o “mercado” parece disposto a abrir os ouvidos, a buscar tempos menos histriônicos e maior segurança. Avaliações de pesquisa mostram que o grupo radical do bolsonarismo se constitui em torno de 12%, seriam os devotos, de “raiz”. A esse se junta um grupo próximo formado por eleitores com elevada rejeição ao petismo/lulismo, que ainda manteria esta posição, e ainda um segmento mais pragmático (não diria oportunista) de ver a política, um segmento que pode mudar de candidato com muita frequência a cada eleição, sem dramas ideológicos.

Essa soma toda parece explicar os 22/24% que Bolsonaro ainda dispõe. O que já argumentei em outros artigos aqui neste espaço, é que essa posição é o “falso confortável”. Avançando a campanha eleitoral pode ocorrer a ascensão de algum/uns candidato/s do 3º pelotão. Esse crescimento se dá em cima de indecisos (o que ocorre, é verdade, na última hora) e em cima dos dois primeiros colocados. Se Lula ainda tem gordura para queimar, o mesmo não de dá com Jair Messias. Se perder míseros 4 pontos, cai para uns 19%, passando a ser acossado pelos que subiram. O alvo fica com maior resolução para quem vêm atrás na corrida. E o risco de não ir para o 2º turno fica mais palpável, a tragédia das tragédias para o mundo bolsonarista, isso se não se realizar a vitória de Lula no 1º turno.

Mas também as pressões contra o atual presidente não vem só do estrito mundo político, sendo o STF seu inimigo preferencial. Dentro deste o TRE, que acompanhará todos os passos de candidatos com intenções de transgredir as leis eleitorais. Não deve haver vida fácil para os conspiradores contra a democracia. O Senado mostra-se também resoluto em seguir esse caminho. A grande mídia é outra espinha na garganta do mandatário, que não perde qualquer oportunidade de achincalhar a imprensa, rádio e TV que exercem o direito de critica, o mesmo fazendo com o STF e o TSE no que tange ao cumprimento da lei. Também poderá lhe faltar o aliado de todas as horas, o Centrão, que possivelmente, a depender dos ventos, abandonará o barco nos dias finais pré-eleição.

Este nos parece o desenho de uma tempestade perfeita para as hostes bolsonaristas. Neste cenário, e afastada a possibilidade de sua renúncia para concorrer ao Senado (em busca da vacina da imunidade parlamentar), como reagirá o candidato Jair Bolsonaro, indo para o tudo ou nada? Certamente entrará em desespero superando os limites dos delírios já conhecido. Assim sendo, Bolsonaro tem que ser levado a sério. Ele não veio para brincar, não veio para perder eleições, mas para vencê-las, não importando os expedientes usados.

Aqui reside o perigo. Quando digo que deve ser levado a sério é porque já sabemos quem ele é. Faltam os aderentes, não orgânicos, fazerem essa descoberta. Cabe relembrar que Jair Bolsonaro teve 46,03% dos votos no 1º turno em 2018, agora amealha uns 23%. O governo Bolsonaro vale hoje para o eleitorado metade do que valia três anos atrás, material incandescente para uma tempestade perfeita. Por tudo exposto anteriormente, não há sinais de sua recuperação, a tendência é a queda.

Bolsonaro transpira golpismo. A democracia é o ambiente político que não lhe convém. Havia uma máxima, décadas atrás, que rezava: ganha-se com a esquerda e governa-se com a direita, de fácil aplicação no Brasil. Atualizando para os tempos atuais: ganha-se com a democracia e assumido o governo começa-se a conspirar contra ela, receita aplicada na construção de regimes autocráticos e que o ex-capitão tenta colocar em marcha no Brasil. Diga-se de passagem, que ele já conseguiu muita coisa. O único ambiente onde ele sobrevive é na ordem autocrática, rodeado de milícias.

Para quem manifestou de forma pública, cristalina e inequívoca seu louvor a um torturador (acompanhado de seu filho Eduardo), esse homem não esconde nada de ninguém. O torturador seria o “mito” do “mito”. Este senhor não terá o mínimo equilíbrio, nunca presente no seu portfólio, para lidar com uma tempestade perfeita, tentará qualquer ação golpista a priori ou a posteriori da eleição. Na tentativa de 7 de setembro do ano passado, o Presidente, inebriado pelos palanques em Brasília e em São Paulo, com muito menos pessoas do que esperado, teve que recuar, contando com a carta do par Michel Temer. Como fará agora com uma situação agravada, o tempo curto e uma inviável capacidade de recuperação?

Thomas Hobbes dizia há quase cinco séculos atrás que os homens têm medo, querem segurança. Bolsonaro não representa segurança alguma para o verdadeiro povo brasileiro, fora deste grupo que ainda sustenta o bolsonarismo e espera dele uma ação mais radical. Bolsonaro frente a um cenário de tempestade perfeita, tentará um golpe. A Nação terá que ficar alerta, como já acontece em vários setores, para conter seus impulsos golpistas delirantes. Uma questão ainda intriga: essas armas de colecionadores em número mais do que absurdo continuam entrando no Brasil, por decisão do Presidente. Para aonde estão indo? Esperando o chamado do seu líder? Chance para as FFAA fazerem a coisa certa, que não seja desperdiçada.

Estadão  

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