Igreja Ucraniana convoca brasileiros para dia de orações

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O arcebispo metropolita Dom Volodemer Koubetch, da Igreja Católica Ucraniana no Brasil, diz que a guerra declarada pela Rússia à Ucrânia já é uma tragédia, tenha ela a duração de dias, meses ou até mesmo de anos. O clérigo ainda afirma que o conflito afeta diretamente todos os ucranianos espalhados ao redor do mundo —ou “em diáspora”—, inclusive os que estão no Brasil.

“Parece-me que a palavra tristeza corresponde muito bem ao que a nação ucraniana e o povo ucraniano estão sentindo neste momento. É tristeza, mas é medo, é angústia e é incerteza”, afirma Dom Volodemer à coluna.

O arcebispo metropolita está à frente da Metropolia Católica Ucraniana São João Batista, igreja-mãe da denominação no país, localizada em Curitiba. Ele participou nesta quinta-feira (24) de uma reunião com outras lideranças religiosas para discutir a realização de um dia de orações pela paz na Ucrânia. A convocação deve ser feita para o próximo domingo (27).

“Não se sabe como vai terminar essa que já é uma tragédia”, diz sobre a guerra. “Mas essa tragédia poderá ser muito pior, e a gente pede a Deus que isso não aconteça.”

A Igreja Católica Ucraniana estuda fazer um pedido junto à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para que toda a Igreja Católica se una no dia de preces. A iniciativa se soma à oração requisitada pelo papa Francisco para o dia 2 de março, na Quarta-Feira de Cinzas.

“Deixo minha gratidão e o meu pedido para que continuem orando, a fim de que o Espírito Santo ilumine os governantes desse mundo para que se tome outro rumo. Não o rumo da guerra e da violência, mas do diálogo, da paz e da diplomacia”, diz o arcebispo metropolita.

Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro (PL) fez uma visita a Moscou e disse que o Brasil “é solidário” à Rússia, sem especificar a que aspecto manifestava solidariedade.

Questionado sobre o episódio, o arcebispo afirma que a palavra “solidariedade” não era adequada à situação. “É uma questão delicada de estar avaliando, mas é claro que a comunidade ucraniana ouviu isso com muita tristeza e revolta”, afirma Dom Volodemer.

“É claro que ele [Bolsonaro] foi para lá com os objetivos de reforçar as relações comerciais, mas não era o momento certo porque isso deu uma motivação a mais para que o presidente [da Rússia, Vladimir] Putin fizesse o que está fazendo hoje”, diz, citando uma declaração que teria sido feita pelo deputado federal Rubens Bueno (Cidadania-PR).

Na avaliação de Dom Volodemer Koubetch, a guerra instalada nesta quinta-feira é muito mais grave do que a guerra civil envolvendo a anexação da Crimeia, em 2014. “A situação é muito, muito maior. É gravíssima”, afirma.

“Já foi uma invasão o que aconteceu em 2014 na Crimeia e no leste, em Donbass [área ucraniana de maioria russa étnica] e [na autoproclamada república] Lugansk. O que está acontecendo hoje é a continuação dessa invasão, que os líderes da Ucrânia estão considerando uma invasão total”, diz ainda.

Tanto a Igreja Católica Ucraniana quanto a Igreja Ortodoxa Ucraniana foram orientadas nesta quinta a usarem uma linguagem simplificada ao abordar o conflito junto aos fiéis.

O papa Francisco é a autoridade máxima da Igreja Católica Ucraniana. Na quarta-feira (23), o pontífice fez um apelo para que os líderes envolvidos na crise examinem suas consciências antes de tomar ações que provoquem sofrimento.

Folha de S.Paulo