Israel diz que comunismo não matou como o nazismo

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Foto: Sérgio Lima/Folhapress

O embaixador de Israel no Brasil, ​Daniel Zohar Zonshine​, rejeita a comparação entre nazismo e comunismo quando questionado sobre declarações de políticos brasileiros buscando igualar as duas ideologias. “Não vou entrar para ciências políticas nesse sentido, mas acho que ainda tem uma diferença entre o comunismo e o nazismo. Comunismo, até onde eu sei, não chamou para o assassinato de grupos de pessoas e populações”, disse o diplomata à Folha.

A equiparação entre nazismo e comunismo e a defesa de que as duas ideologias sejam criminalizadas foram feitas pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) e aliados.

Há cerca de seis meses no Brasil, Zonshine criticou as declarações do podcaster Monark (Bruno Aiub), que defendeu o direito de existência de um partido nazista no país. “Dar legitimidade para a ideologia nazista é uma coisa grave. É uma coisa perigosa e já vimos no passado que ideologias podem passar para ações”.

Ele diz ainda que Israel manterá boas relações com o Brasil independentemente do resultado das eleições em 2022; e rechaçou um recente relatório da Anistia Internacional que definiu políticas públicas israelenses como parte de um regime de apartheid.

Como o senhor acompanhou o episódio no Flow Podcast, em que o apresentador Monark defendeu o direito de existência de um partido nazista no Brasil? Dar legitimidade para a ideologia nazista é uma coisa grave. É uma coisa perigosa e já vimos no passado que ideologias podem passar para ações. Acho que não podemos ter qualquer tolerância nesse sentido, porque a ideologia nazista é racista. Inclui discurso de ódio e antissemitismo. Como embaixador de Israel, como cidadão israelense e como judeu —como filho de família cujos pais sobreviveram ao Holocausto, então nunca tive avós—, isso é uma coisa que faz parte do DNA de Israel: a preocupação com fenômenos desse tipo.

Considera o episódio um caso isolado ou parte de um fenômeno maior? Infelizmente parece que não é uma coisa totalmente isolada. Conhecemos casos de antissemitismo contra judeus e contra instituições judaicas, também aqui no Brasil. Não sei se agora tem mais do que antes ou se ouvimos mais sobre esse tipo de acontecimento. Quando ouvimos [as declarações de Monark] no Flow ou na Jovem Pan [o comentarista Adrilles Jorge foi demitido da emissora por supostamente ter feito uma saudação nazista]; ou ainda na UNB [Universidade de Brasília], quando tem lá um discurso sobre a questão palestina e combate ao sionismo —que é o movimento nacional do povo judeu, para criar o Estado israelense. Isso está fazendo deslegitimação do Estado de Israel. Acredito que parte da base disso seja antissemitismo.

Há políticos no Brasil, entre eles o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que usaram o episódio no Flow para defender a criminalização do comunismo, como se as ideologias fossem duas faces da mesma moeda. Como vê essa comparação? Não vou entrar para ciências políticas nesse sentido, mas acho que ainda tem uma diferença entre o comunismo e o nazismo. Comunismo, tanto quanto sei, não convocou para o assassinato de grupos de pessoas e populações. Mas vamos deixar essa discussão para outros fóruns.

O vídeo em que o ex-secretário de Cultura Roberto Alvim copia um discurso nazista e o fato de Bolsonaro ter recebido a líder de ultradireita alemã Beatrix von Storch estimulam episódios de antissemitismo? Confesso que não conheço bem esses discursos que você mencionou e não quero dizer coisas que não são baseadas no meu conhecimento. Posso dizer que a comunidade judaica [no Brasil] não é um órgão que tem uma só opinião. Como a sociedade brasileira, há também na comunidade judaica uma variedade de ideias e de apoios. Da maneira mais geral, posso dizer que não podemos aceitar como judeus ou como membros do Estado de Israel ideias que apoiam o nazismo e o neonazismo. Pode haver diferenças políticas, mas quando falamos sobre nazismo e ideias nazistas acredito que isso tenha uma unanimidade na comunidade.

Bolsonaro tinha no ex-primeiro-ministro Binyamin Netanyahu um de seus principais aliados no exterior. A troca de governo em Israel, com a chegada de Naftali Bennett, afetou as relações com o governo brasileiro? Não é segredo que houve relações boas entre o presidente Bolsonaro e o premiê Netanyahu. Mas quando mudou o governo em Israel, não houve alteração nas relações entre os países. Não pioraram, e estou ouvindo isso quando falo com ministérios [do governo Bolsonaro] e com pessoas da sociedade. Houve uma chamada telefônica [entre Bolsonaro e Bennett] em junho e teremos, provavelmente neste mês, uma nova ligação planejada entre os dois líderes.

Uma das principais promessas de Bolsonaro na área de política externa era mudar a embaixada de Tel Aviv para Jerusalém, o que não aconteceu. É um tema superado? Ficamos muito felizes com cada país que muda sua embaixada para Jerusalém. A promessa do presidente Bolsonaro foi para a sua base eleitoral, e nós vimos isso de uma forma muito positiva. Em 2019 abriram um escritório da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) em Jerusalém. E eu sei que há discussões no Itamaraty e na Presidência sobre o assunto. Temos alguns meses até as eleições, então não sei se o presidente vai mudar a embaixada para Jerusalém. Por enquanto isso não ocorreu.

Desde o governo Bolsonaro o Brasil passou a adotar posições pró-Israel em votações na ONU (Organização das Nações Unidas). Houve uma leve moderação com a chegada de Carlos França ao Itamaraty. Isso é um problema para o governo israelense? Na ONU, durante muito tempo, havia 20 decisões contra Israel por ano. Hoje em dia, se não me engano, são 15. Não tem nenhum outro país do mundo que tem tantas decisões anuais contrárias. O Brasil, no passado, apoiou muitas delas. Desde o início do mandato do atual governo mudou muito.

Nessas decisões anuais, o Brasil às vezes está contra [Israel], às vezes se abstém e às vezes apoia. Mas o balanço geral é muito melhor do que foi antes. Pode ser que tenhamos diferenças de opiniões, uma coisa legítima entre países amigos. Quando temos coisas a dizer para o Itamaraty sobre isso, temos os canais para fazê-lo. De maneira geral as votações do Brasil estão muito mais equilibradas do que foram antes e espero que isso continue no futuro. É importante destacar que o Brasil mudou algumas de suas posições porque a realidade da região também se alterou. Com os Acordos de Abraão temos um enorme movimento entre Israel e os Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Marrocos. Visitas, acordos e turismo.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera as pesquisas, teve no seu governo uma posição mais pró-Palestina. O senhor teme que, numa eventual vitória do petista, as relações entre Brasil e Israel fiquem comprometidas? Vamos respeitar qualquer decisão do povo brasileiro. Não é segredo que nem sempre gostamos de decisões do governo [no passado]. Mas, além da amizade, os interesses dos dois países continuam. A cooperação na área de ciência e tecnologia, agricultura, defesa, manejo de água, educação, saúde. Os interesses do Brasil em manter as relações com Israel vão continuar. Isso é uma parte muito importante da minha missão como embaixador. Vamos continuar a trabalhar para reforçar essas relações entre o povo brasileiro e o povo israelense.

Um recente relatório da Anistia Internacional definiu políticas públicas de Israel como parte de um regime de apartheid. Como vê essa manifestação? Esses relatórios são distorcidos e cheios de mentiras. A sociedade árabe de Israel compõe 20% da população. São cidadãos israelenses, representados no Parlamento, no governo, na academia e nos ministérios, na vida de Israel. Falar sobre a discriminação desse público é totalmente mentiroso.

Repetir essas mentiras não vai fazer disso uma verdade. Agora, temos coisas que precisam melhorar. Temos às vezes acontecimentos que não deveriam ocorrer. Mas pegar um acontecimento aqui e um acolá e fazer disso uma política de discriminação institucional? Não é a situação. Quando acontece uma coisa que não deve acontecer temos um sistema jurídico bem forte. Posso dizer que a situação entre israelenses e palestinos é muito melhor do que em muitos outros lugares no mundo. Tem que melhorar, temos que fazer mais —todos os lados têm que fazer mais—, mas dizer que isso é um apartheid não é o caso. Muitas das acusações e os fatos que apresentam não são verdade.

Folha 

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