Aviões da FAB viraram táxis

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Ministros da Defesa durante o governo Jair Bolsonaro (PL), os generais da reserva Fernando Azevedo e Silva e Walter Braga Netto levaram de parentes a Jair Renan, o filho 04 do presidente, em voos oficiais com aeronaves da FAB (Força Aérea Brasileira).

Os registros de passageiros foram fornecidos via Lei de Acesso à Informação pela Defesa e Casa Civil, pasta que Braga Netto comandou até março de 2021.

O ex-ministro da Defesa Fernando Azevedo esteve com a esposa em 12 voos da pasta. Um filho do militar o acompanhou em uma destas viagens. Estes deslocamentos foram feitos entre 11 de agosto de 2020 e 19 de março de 2021.

A Defesa não guarda registros de passageiros de voos de 2019. O ministério argumenta que ainda não havia esta exigência. A pasta só entregou as informações das viagens após dois recursos da Folha.

Cotado para candidatar-se a vice-presidente na chapa encabeçada por Bolsonaro, Braga Netto levou a esposa em quatro voos quando era ministro da Casa Civil, além de uma filha e Jair Renan em outros dois trajetos cada.

Desde que se tornou ministro da Defesa, o general foi acompanhado pela esposa em 14 voos, feitos entre maio e setembro de 2021. A Defesa forneceu dados até novembro do ano passado.

Procurada, a Defesa disse que os passageiros ocupavam vagas remanescentes, como permitem as regras de uso das aeronaves da FAB.

Não é irregular levar parentes em voos oficiais, mas Bolsonaro prometeu endurecer as regras de uso das aeronaves.

Poucos dias antes de tomar posse, ele distribuiu uma cartilha com normas e procedimentos éticos. O documento afirmava que somente o ministro e a equipe que o acompanha no compromisso podem utilizar as aeronaves.

Em janeiro de 2020 o advogado Vicente Santini causou mal-estar no governo e foi demitido do cargo de secretário-executivo da Casa Civil pelo uso de jato da FAB.

“O que ele fez não é ilegal, mas é completamente imoral”, disse Bolsonaro à época.

Após este caso, Bolsonaro assinou novas regras para uso das aeronaves. O decreto, porém, manteve brecha para que vagas ociosas nos voos sejam preenchidas sem critério.

Santini voltou ao governo em setembro de 2020, para cargo no Meio Ambiente. Ainda passou por função na Presidência da República e hoje atua como Secretário Nacional de Justiça.

Como mostrou a Folha, ministros do governo levaram de parentes a pastor e lobistas em voos oficiais com aeronaves da FAB desde 2019.

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, por exemplo, levou esposa e seus três filhos, além de parentes de outras autoridades, em pelo menos 20 viagens oficiais de março a agosto de 2021.

Já o filho 04 de Bolsonaro, o influenciador digital Jair Renan, pegou ao menos cinco voos em deslocamentos solicitados por diferentes ministros.

Além da carona com Braga Netto, o filho do presidente aproveitou viagens dos ministérios das Relações Exteriores e da Mulher, Família e Direitos Humanos.

A esposa de Azevedo e Silva acompanhou o ministro em sete voos de Brasília ao Rio. As outras cinco viagens foram no caminho inverso.

Nessas viagens, o então ministro participou de eventos militares, como troca de comando de divisão do Exército e formaturas.

Já a esposa de Braga Netto acompanhou o general em voos da Casa Civil de ida e de volta de Brasília ao Rio de Janeiro e da capital federal para Salvador.

Ela também esteve com o marido em idas ao Amazonas, Roraima e ao Pará.

Braga Netto esteve em atividades no Comando Militar da Amazônia e em cerimônias militares nestas viagens.

A Defesa não explicou se elas acompanharam as agendas oficiais dos ministros, se apenas aproveitaram o deslocamento ou por qual razão estavam nos voos.

Citando a necessidade de atenuar os efeitos de um “déficit de ergonomia”, Bolsonaro ainda editou um decreto em janeiro de 2022 permitindo que ministros de Estado e cargos de confiança de alto nível da administração federal possam viajar em classe executiva durante missões oficiais ao exterior.

Apesar de prometer endurecer regras de viagens oficiais, Bolsonaro também usou voos pagos com dinheiro público para dar carona a parentes.

Em maio de 2019 um helicóptero da Presidência da República levou convidados para o casamento do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), no Rio de Janeiro. O governo alegou “razões de segurança” para autorizar o voo e Bolsonaro chamou de “idiota” pergunta sobre o deslocamento.

Bolsonaro chegou a considerar “nada de mais” que uma autoridade do Poder Executivo conceda carona em uma aeronave da FAB.

“Se um avião presidencial nosso vai para algum lugar a serviço, não vejo nada de mais levar alguém no avião. Não vejo nada de mais nisso aí. Agora, se está errado, se tiver alguma norma dizendo o contrário, eu vou conversar com ele”, disse o presidente em 2019.

Folha de SP