Bancada da Bíblia tenta se afastar de ministro da Educação

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Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

A bancada evangélica fez uma reunião tensa nessa terça-feira (22/3) para definir uma reação às acusações de que o ministro da Educação, pastor Milton Ribeiro, prioriza pastores na pasta a pedido de Jair Bolsonaro. Três importantes integrantes da frente parlamentar atacaram Ribeiro diretamente. Para evitar mais desgaste e tentar se descolar do episódio, a bancada decidiu não pedir uma conversa privada com o ministro.

“Ninguém é louco, ninguém é bobo, né?”, disse o deputado Marco Feliciano, do PL de São Paulo, aliado de primeira hora e agora no mesmo partido de Bolsonaro. Feliciano se referia a uma nota divulgada pelo ministro da Educação, em que Ribeiro negou ter favorecido pastores no repasse de verbas do ministério.

“A nota infelizmente é um imbróglio sem tamanho. Ele desdiz tudo o que está no áudio. É só isso. Primeiro, ninguém é louco, ninguém é bobo, né? Acredito que o próprio Parlamento vai fazer algum tipo de convocação. Eu quero ouvi-lo pessoalmente. O áudio é uma prova. É no mínimo imoral. Se eu sou o ministro neste momento, eu já teria entregado minha carta e me afastado”, afirmou Feliciano aos colegas evangélicos, lamentando que o desgaste aconteça num momento de pré-campanha. O áudio em que Ribeiro admite favorecer pastores no ministério foi divulgado pelo repórter Paulo Saldaña.

Para Feliciano, o caso é grave: o governo Bolsonaro está “sangrando”. “Começamos a sangrar ontem à noite [segunda-feira], estamos sangrando o dia todo [terça-feira], hoje à noite nós teremos todos os jornais falando… Acham que é a bancada evangélica. E não temos nada a ver com isso. A situação ficou ruim, acho que não tem como remediar. O estrago já foi feito. Pesou demais sobre nós. Mais uma vez, como evangélicos, fomos expostos ao ridículo. É péssimo para nós. O ministro deve uma explicação para o Brasil todo”, seguiu Feliciano, arrematando: “Eu não vejo ele [Milton Ribeiro] como aquilo que nós esperávamos que fosse”.

Em outra parte da reunião, Feliciano colocou em dúvida a intenção de pastores em beneficiarem prefeitos junto a Milton Ribeiro: “Se formos ouvir o ministro, é preciso chamar o prefeito para saber se de fato recebeu alguma coisa e, se recebeu, por que os pastores intermediaram. Eles facilitaram gratuitamente? Ninguém sai de uma cidade para outra, de um estado para outro, apenas para fazer uma bondade, a não ser que seja Madre Teresa de Calcutá”.

Outro a criticar o episódio foi o deputado David Soares, do União Brasil de São Paulo. Soares é filho do pastor RR Soares, fundador da Igreja Internacional Graça de Deus.

“Precisa ser investigado. Quando falam que as pessoas estavam lá [no MEC] e através de duas pessoas [pastores] conseguiam tudo… Eu tenho a maior dificuldade no MEC. Em alguns setores do MEC, nada anda”, afirmou. E seguiu: “Se está tendo espaço para pessoas agirem como lobby, isso precisa ser coibido. Será decepcionante saber que colegas nossos estavam fazendo funções ilegais”.

O vice-presidente da bancada, deputado Luis Miranda, do Republicanos do Distrito Federal, também centrou fogo no ministro de Bolsonaro. Ao lado do presidente do grupo, deputado Sóstenes Cavalcante, do PL do Rio de Janeiro, Miranda disse ser difícil crer em uma “desculpa” que beneficie o ministro e pastor.

“Escutando os áudios e vendo os documentos, é difícil acreditar que tenha uma desculpa para tal fato. Se nós temos esse sentimento e, a partir dos áudios, entendemos por que deputados não têm seus pleitos atendidos no MEC, não podemos criar defesa para ninguém”.

Ao fim da discussão, o presidente da bancada evangélica proclamou o resultado de que o grupo não pedirá esclarecimentos ao ministro da Educação. Disse, então, que divulgará um posicionamento com o aval de todos nesta quarta-feira (23/3). E encerrou a reunião de um modo dúbio: “Será um posicionamento sem condenar, não somos juízes, e também não sendo omissos com nossas atribuições constitucionais”.

Metrópoles