TSE contrata hackers para espionar bolsonarismo na darkweb

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Foto: Reprodução

Em uma disputa presidencial polarizada em que uma das mais notórias armas retóricas do presidente Jair Bolsonaro será colocar o sistema eleitoral sob suspeição, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tem intensificado a atuação de uma equipe de espiões para vasculhar a darkweb, a camada da internet sem acesso por sites de busca amplamente utilizada por criminosos. O objetivo é tentar encontrar negociatas de planos contra as urnas eletrônicas, planejamento de ataques hackers à Justiça Eleitoral ou mesmo discussões sobre possíveis atentados contra a integridade física de juízes do TSE.

Até agora os espiões, que atuam como “hackers do bem” a serviço de uma instituição, não detectaram nenhum plano concreto contra as urnas eletrônicas, mas reportaram mais de uma vez a existência de discussões para uma possível ofensiva física contra o ministro Luís Roberto Barroso, ex-presidente do TSE que se tornou alvo preferencial da verborragia de Bolsonaro contra o sistema eleitoral eletrônico. Outra descoberta foi o compartilhamento indiscriminado de um inquérito sigiloso da Polícia Federal sobre um ataque hacker às urnas eletrônicas em 2018.

Em abril daquele ano, um hacker conseguiu entrar no sistema interno do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de Pernambuco, tentou invadir os TREs do Acre, Paraná, Ceará, Bahia e Paraíba e, sem ser notado de imediato, chegou, no TSE, ao sistema que armazena o código-fonte das urnas, um conjunto de comandos de informática com todas as instruções para o equipamento de votação funcionar.

Apesar de este mesmo código ficar aberto para consulta pública um ano antes das eleições, a navegação de um intruso pela intranet dos tribunais mostrou vulnerabilidades da Justiça Eleitoral e virou munição para o discurso bolsonarista de que as eleições brasileiras são passíveis de fraude. Atualmente a PF tem 107 inquéritos abertos para apurar investidas hackers a instituições públicas e, mais recentemente, passou a investigar também se por trás de atitudes como a do presidente existe uma engenharia criminosa que lucra com a propagação de infundadas irregularidades nas eleições.

Não é a primeira vez que espiões da Justiça encontram ameaças contra ministros. Ainda em 2019 VEJA revelou que policiais federais disfarçados vasculharam a darkweb e chegaram à conclusão de que as rotinas de ministros e de familiares deles estavam sendo monitoradas em detalhes e debatidas em fóruns. No caso mais grave, foi identificado o planejamento para vitimar um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) ou, como alternativa, o filho dele na saída do aeroporto de Congonhas.

O plano de ataque foi discutido em um chat frequentado por Guilherme Taucci Monteiro e Luiz Henrique de Castro, que trocavam informações sobre como viabilizar ataques em massa com interlocutores interessados em ferir ministros do STF. Em março daquele ano, Monteiro e Castro protagonizaram um massacre na escola estadual Professor Raul Brasil, em Suzano, em São Paulo. Os dois eram ex-alunos da instituição e assassinaram cinco estudantes e duas funcionárias da escola antes de tirarem a própria vida.

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