Bolsonaro crê mais em eventos com apoiadores que em pesquisas

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Foto: Alan Santos/PR

Crítico das pesquisas eleitorais, que têm apontado vantagem de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no pleito de outubro, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem investido em divulgar as recepções de apoiadores em agendas pelo país para mostrar sua popularidade.

Ao participar de inauguração de obras, entrega de títulos de propriedades rurais ou ainda em períodos de descanso no litoral brasileiro, o atual chefe do Executivo federal tem o costume de abrir lives nas redes sociais cumprimentando apoiadores. A estratégia, segundo aliados, tem o objetivo de mostrar “força eleitoral”.

Levantamento feito pelo Metrópoles mostra que o presidente promoveu lives em todas as viagens realizadas pelo Brasil neste ano. A pesquisa levou em conta apenas compromissos que previam acesso ao público.

As lives são realizadas por assessores presidenciais e autorizadas por Bolsonaro. As transmissões mostram dezenas de simpatizantes do governo reunidos para cumprimentar o presidente. Por vezes, são transmitidas mais de três lives por viagem. Elas mostram apoiadores que aguardam o presidente nos aeroportos do país, durante passeios por municípios e em locais de eventos oficiais.

Além de serem divulgadas nos canais oficiais do presidente, assessores de Bolsonaro também compartilham as lives em seus perfis com a legenda “data povo”.

Veja algumas transmissões realizadas por Bolsonaro:

De janeiro a abril, o chefe do Executivo teve agendas em 18 estados. Como de costume, Bolsonaro tem priorizado a região Sudeste, que conta com o eixo empresarial Rio-São Paulo. O presidente fez 39 transmissões ao vivo nas quais cumprimentava apoiadores durante as oito viagens que fez para o Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.

O presidente ainda tem intensificado compromissos no Nordeste, segunda região onde mais tem investido na divulgação das recepções dos apoiadores.

O Nordeste foi a única região em que Bolsonaro foi derrotado por Fernando Haddad (PT) no segundo turno das eleições de 2018. Na ocasião, o militar conquistou 30% dos votos, enquanto o petista teve 69%. Em campanha pela reeleição, o titular do Planalto busca conseguir mais apoio em um tradicional reduto eleitoral do ex-presidente Lula.

Desde o início do ano, o atual presidente fez sete viagens para a região, e abriu lives com a recepção de apoiadores em 37 oportunidades.

Bolsonaro realizou quatro viagens para as regiões Norte e Sul, e fez 11 e 13 lives com admiradores, respectivamente. O presidente ainda viajou em quatro oportunidades para estados do Centro-Oeste, onde transmitiu 8 lives.

Segundo André Luiz Barbosa, professor de Empreendedorismo e Customer Experience no Ibmec SP, a estratégia do presidente tem o objetivo de “demonstrar mais humanização e buscar sensibilizar novos eleitores” nas regiões em que perdeu nas últimas eleições ou teve um resultado abaixo do esperado.

“O presidente percebeu o poder de alcance das redes sociais e consegue chegar, por meio das lives, em lugares que não alcançou em 2018. Na divisão das regiões na última eleição, Bolsonaro venceu no Centro-Oeste, no Sudeste e no Sul. Agora em 2022, o principal resultado desta estratégia é se mostrar mais em estados nos quais o pré-candidato não conseguiu converter o eleitorado”, explica.

Bolsonaro fez quatro viagens para as regiões Norte e Sul, e realizou 11 e 13 lives com apoiadores, respectivamente. O presidente ainda viajou em quatro oportunidades para estados do Centro-Oeste, onde transmitiu 8 lives.

Barbosa ressalta que a tendência é de que outros pré-candidatos à Presidência também adotem a estratégia de Bolsonaro. Ele também avalia que, ainda mais do que ocorreu em 2018, as eleições deste ano serão, de fato, disputadas nas redes sociais.

“Todos os candidatos precisam direcionar-se para redes sociais para conectar com sua base eleitoral, tornar-se mais humanizado, gerar mais proximidade e, principalmente, falar diretamente com as dores dos eleitores”, diz.

Para Eduardo Galvão, analista político e professor de relações institucionais do Ibmec Brasília, apesar da estratégia do presidente – que é “eficiente na construção de narrativas políticas” –, as pesquisas eleitorais ainda são a melhor forma para se mensurar intenções de voto no país. Recentemente, o presidente disse que quem acredita nas pesquisas também acredita no Papai Noel.

“Mesmo com o chamado ‘data povo’, do presidente Bolsonaro, as pesquisas eleitorais, feitas por institutos reconhecidos, ainda são a melhor fonte de informação e mensuração de voto que existem, porque elas obedecem uma metodologia científica. Então, a gente não está falando de qualquer impressão pessoal ou com qualquer subjetividade”, afirma.

Metrópoles