Marcelo Odebrecht acusa pai e irmão de extorqui-lo

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Foto: André Teixeira / Fernando Lemos / Agência O Globo

A guerra entre Marcelo e Emílio Odebrecht, que já vem desde a prisão do empreiteiro pela Lava Jato, ganhou mais um capítulo explosivo na semana passada.

Em documentos protocolados na Justiça de São Paulo e na da Bahia, o empreiteiro acusa o pai e o irmão de extorsão.

Segundo ele, seu pai e seu irmão, Maurício, condicionaram o fechamento de um acordo que estava sendo negociado com o grupo Odebrecht a que ele entregasse de graça aos dois a sua participação de 20,9% numa firma chamada EAO empreendimentos, que inclui as fazendas e as obras de arte da família.

As negociações estavam sendo feitas em caráter confidencial. Mas o próprio Marcelo confirma, nos documentos, ter gravado conversas ocorridas em paralelo com negociadores indicados por Emílio, ao perceber que o acordo não saíria.

São essas gravações, transcrições de diálogos e mensagens eletrônicas trocadas até com os pais, Emílio e Regina, que Marcelo entregou entregou à Justiça.

Os diálogos transcritos sugerem que a proposta para encerrar a briga entre Marcelo e empresa previa que ele desse como contrapartida sua parte na EAO. Nas conversas, os negociadores comentam ter proposto um pagamento de R$ 30 milhões, que Marcelo dispensou.

Procurados, nem a Odebrecht, nem Emílio, nem Maurício e nem Marcelo quiseram comentar o caso.

Para Marcelo, sua parte nas fazendas, registrada na contabilidade da EAO com valor de R$ 74 milhões, vale na verdade entre R$ 150 e R$ 200 milhões. Isso levaria a EAO a um valor entre R$ 600 e os R$ 800 milhões. Em 2016, no processo de recuperação judicial da Odebrecht, a empresa foi avaliada em R$ 375 milhões.

Nos documentos, Marcelo acusa Emílio e Maurício de usar a Odebrecht para conseguir vantagens particulares às custas de seu patrimônio pessoal. Segundo ele, suas ações da EAO são hoje todo o seu patrimônio.

“O objetivo da chicana que as apeladas (a Odebrecht e a Odebrecht SA) movem contra ele e sua família nunca foi de questionar os acordos firmados”, diz ele, referindo-se ao fato de que as ações que o grupo Odebrecht move contra ele não seriam fazê-lo devolver os valores que a empresa pagou para que ele fechasse o acordo de delação com a Lava Jato. “Trata-se unicamente de uma tentativa espúria de usar a Justiça para fazer calar, retaliar e extorquir”.

Em São Paulo correm as duas ações que a Odebrecht move contra Marcelo, sua mulher, Isabela, e suas filhas. Os processos estavam suspensos desde setembro de 2021, para que ele e a companhia negociassem um acordo.

No último dia 10, porém, as negociações se encerraram por causa da questão das fazendas.

Marcelo e o grupo Odebrecht vêm se digladiando na Justiça desde dezembro de 2019, quando ele saiu da cadeia e passou a fazer novos depoimentos à Lava Jato, acusando o pai e o cunhado, Maurício Ferro, de desviar recursos da Odebrecht e da petroquímica Braskem .

Na época, o novo presidente da companhia, Ruy Sampaio, acusou Marcelo de chantagear a Odebrecht, exigindo R$ 240 milhões de reais para fechar o acordo de delação com a Lava Jato.

Em seguida, a companhia moveu quatro ações contra o empreiteiro e sua família, pedindo a anulação dos pagamentos e devolução de R$ 143,4 milhões que teriam sido pagos em razão de chantagem.

Duas delas, porém, a Odebrecht perdeu, e foi condenada a pagar R$ 300 mil em multas por litigância de má-fé.

As duas que restaram são essas em que Marcelo acusou o pai e o irmão de tentar extorqui-lo.

Já na Bahia, o empreiteiro conseguiu na semana passada uma liminar suspendendo a realização de uma assembleias de acionistas da EAO prevista para o último dia 13. Marcelo tb queria que fossem anuladas as atas de todas as assembléias da empresa realizadas nos últimos 5 anos.

Marcelo afirma que, para legitimar empréstimos irregulares de R$ 70 milhões para o irmão, Maurício, a direção da EAO fraudou as atas de das assembléias ao fazer constar que ele estava presente, até mesmo quando estava preso em regime fechado domiciliar.

Na assembléia prevista para o dia 13 de abril, cancelada pela Justiça, a EAO daria garantia de R$ 30 milhões para dívidas de outras empresas ligadas a Emílio.

Embora tenha concedido a liminar para suspender a assembléia que ainda não tinha acontecido, a Justiça determinou que sejam feitas audiências de conciliação para resolver o que fazer com as atras de assembléias dos últimos 5 anos.

Ou seja: a briga entre Marcelo Odebrecht e o pai deve continuar ainda por muito tempo, com lances surpreendentes.

O Globo