No Paraná, Ratinho Jr será Bolsonaro e Requião será Lula

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Foto: Ricardo Botelho/Minfra

A menos de seis meses para as eleições, um cenário de polarização começou a se delinear para a campanha ao governo do Paraná. Enquanto o governador Carlos Massa Ratinho Junior (PSD), articula uma ampla aliança de partidos de centro e direita para tentar garantir a reeleição ainda no primeiro turno, o PT aposta as fichas no ex-governador Roberto Requião, cuja filiação à legenda, após mais de 40 anos no MDB, recebeu a bênção do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na esteira do movimento que vem acontecendo em nível nacional, o PSDB tenta se posicionar como terceira via ao lançar Cesar Silvestri Filho, ex-prefeito de Guarapuava, município de 184 mil habitantes a 260 quilômetros de Curitiba.

A candidatura deve pelo menos garantir palanque no estado ao candidato tucano à presidência, seja ele o ex-governador paulista João Doria ou o gaúcho Eduardo Leite. O ex-governador Beto Richa (PSDB), que entre 2018 e 2019 foi alvo de uma série de operações anticorrupção e chegou a ser preso três vezes, também deve estar de volta às urnas, já que se colocou como pré-candidato a deputado federal.

Pesquisas de intenção de voto para o governo estadual têm mostrado chances de vitória de Ratinho Junior ainda no primeiro turno. Oficialmente, a principal incógnita no campo do centro-direita é se o governador dividirá ou não o palanque com o presidente Jair Bolsonaro, com quem mantém boa relação política e compartilha pautas de costumes, como a criação de escolas cívico-militares e a regulamentação do homeschooling (ensino domiciliar).

“Temos que construir, ouvir e ver o posicionamento nacional [do PSD]. Eu tenho um bom relacionamento com o presidente [Bolsonaro]. Temos aqui grandes projetos em parceria com o governo federal, muitas obras inclusive do governo federal é o meu governo que está fazendo. No momento adequado isso [aliança com Bolsonaro] será colocado na mesa e eu irei me posicionar”, afirmou ao Valor.

As movimentações dos partidos estão empurrando Ratinho Junior para o colo do presidente. Muitas das legendas que apoiam o governo Bolsonaro no Congresso já estão fechadas com o governador: do PL ao Pros, passando pelo PP, comandado pelo líder do governo na Câmara dos Deputados e cacique político de Maringá, Ricardo Barros.

Em março, o MDB também aceitou o convite do governador para apoiar a reeleição. Em Curitiba, o prefeito Rafael Greca (União) também é aliado do governador.

Nos últimos dias da janela partidária, o partido de Ratinho arrebatou ainda nove deputados estaduais, tornando a bancada do PSD a maior da Assembleia Legislativa do Paraná, com 15 integrantes num total de 54 cadeiras.

A indefinição sobre a candidatura à presidência de Sergio Moro, que de forma inesperada e de última hora trocou o Podemos para se filiar ao União Brasil, deu mais um empurrão a Ratinho Junior em direção ao presidente e o tirou da saia justa de ter que escolher se dar palanque ao ex-ministro da Justiça, a Bolsonaro ou a ambos, sendo que esta última possibilidade foi vetada pelo presidente.

O governador contudo vem enfrentando há algumas semanas protestos de setores do funcionalismo público. Nos colégios estaduais, pais e alunos têm feito manifestações para criticar o novo modelo do Ensino Médio que amplia o ensino à distância. Já as polícias militar, civil e científica estão mobilizadas contra um projeto de lei do governo que concede reajuste salarial e reestrutura a carreira.

No campo da esquerda, Requião, 81 anos, tenta se tornar governador pela quarta vez, após ter exercido os mandatos de 1991 a 1994 e duas vezes consecutivas entre 2003 e 2010. Depois de perder o controle do diretório estadual do MDB em meados do ano passado, num movimento inesperado, Requião ingressou para o PT, em março. A cerimônia de filiação contou com a presença de Lula, que voltou a Curitiba pela primeira vez após deixar a prisão, em 2019.

“A ideia é que a candidatura seja um movimento amplo para a recuperação do Paraná: o estado está baleado, entrou na política do liberalismo e está cobrando tarifas absurdas para água e energia elétrica”, diz o pré-candidato que conta com apoio de PV e PCdoB, duas legendas nanicas que não têm nenhum representante na Assembleia Legislativa.

Requião espera ter o apoio do PDT, partido que não tem nome próprio para o governo estadual e com o qual as conversas estão em andamento. Os pedetistas – que na janela partidária perderam dois dos três deputados estaduais estão discutindo internamente a estratégia para outubro.

Já a corrida ao Senado, que a princípio não teria surpresas, se intensificou nas últimas semanas. O principal nome continua sendo o do senador e ex-governador do Paraná, Alvaro Dias (Podemos), que, aos 77 anos, busca o quinto mandato, sendo quatro consecutivos.

Embora seja aliado de Ratinho, outros nomes agradam o governador, como o do ex-chefe da Casa Civil, Guto Silva (PP), do deputado federal bolsonarista Paulo Martins (PL) e dos ex-secretários estaduais Beto Preto e Sandro Alex, ambos do PSD.

Valor Econômico