PNAD contínua mostra miséria do trabalho no Brasil

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Foto: Reinaldo Canato/VEJA.com

A inflação é pauta de quase todos os debates envolvendo a economia brasileira, seja entre especialistas ou em conversas na fila do supermercado. Porém, há outra grande variável que preocupa o consumidor: o mercado de trabalho. Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira, 29, há 11,9 milhões de brasileiros em busca de emprego no país. O número é estável em relação ao trimestre anterior, encerrado em dezembro. Algo que chama atenção na Pnad Contínua, entretanto, é que a população ocupada recuou depois de três trimestres consecutivos de alta. A estimativa é que há 95,3 milhões de pessoas ocupadas, o que significa 472 mil a menos no mercado de trabalho em relação a dezembro.

O dado de ocupação é importante para entender o mercado de trabalho porque reflete quem efetivamente está trabalhando. Pela metodologia do IBGE, é considerado desempregado quem está sem trabalho mas está procurando emprego. Então, a redução ou a estabilidade da desocupação não significa necessariamente que há mais pessoas empregadas.

De acordo com a coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, Adriana Beringuy, a estabilidade da taxa de desocupação é explicada pelo fato de não haver crescimento na busca por trabalho no trimestre. O cenário é diferente daquele apresentado nos outros trimestres encerrados em março, quando, pelo efeito da sazonalidade, havia aumento da procura por trabalho. “Se olharmos a desocupação em retrospecto, pela série histórica da pesquisa, podemos notar que, no primeiro trimestre, essa população costuma aumentar devido aos desligamentos que há no início ano. O trimestre encerrado em março se diferiu desses padrões”, afirma.

Sobre a queda da ocupação, o IBGE aponta como determinante a redução de trabalhadores por conta própria. No último trimestre, houve queda de 2,5%, o que representa a saída de 660 mil pessoas dessa categoria. Desse contingente, 475 mil eram trabalhadores sem CNPJ. “Os empregados sem carteira no setor privado ficaram estáveis, depois de três trimestres em expansão. Já o número de trabalhadores por conta própria teve retração após cinco trimestres de aumento. No trimestre encerrado em março, essa queda no trabalho por conta própria respondeu pela redução no total da população ocupada”, comenta a pesquisadora.

Impactada por essa retração, a taxa de informalidade chegou a 40,1%, após redução de 0,6 ponto porcentual. O número de informais caiu 1,9%, totalizando 38,2 milhões. A participação dos trabalhadores por conta própria sem CNPJ nesse recuo foi de 64%. Por outro lado, o número de empregadores cresceu 5,7%. São 222 mil pessoas a mais. O trabalho formal respondeu por boa parte desse número: 186 mil desses empregadores tinham CNPJ. Já o número de trabalhadores CLT cresceu em 1,1%, ou 380 mil pessoas a mais no trimestre encerrado em março.

A diminuição da informalidade refletiu no rendimento médio, que voltou a crescer depois de três trimestres de queda. A renda do trabalho foi estimada em 2.548 reais, um crescimento de 1,5% em relação ao trimestre encerrado em dezembro. “Esse aumento é importante se considerarmos que esse indicador vinha em queda desde o segundo trimestre do ano passado. De modo geral, quando a participação dos trabalhadores formais aumenta, o rendimento médio da população ocupada tende a crescer”, explica a coordenadora. Na comparação com o trimestre encerrado em março do ano passado, houve queda de 8,7%. Já a massa de rendimento ficou estável frente ao trimestre anterior. Ela foi estimada em 237,7 bilhões de reais, ficando estável também na comparação com o mesmo período do ano anterior.

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