Radicais de extrema-direita estão queimando o filme de Bolsonaro

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Foto: Arte/Metrópoles

Integrantes da ala mais radicalmente ideológica do bolsonarismo, que foram se distanciando à medida que o presidente da República se alinhou cada vez mais aos políticos do Centrão, começam a se tornar um problema para jair Bolsonaro (PL) neste período de pré-campanha. Nomes como os dos ex-ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Abraham Weintraub (Educação) estão radicalizando nas críticas aos aliados do presidente e já não poupam nem o pré-candidato à reeleição pelo PL.

Num momento em que Bolsonaro precisa reconquistar eleitores para continuar recuperando espaço nas pesquisas de intenção de voto e tenta consolidar as candidaturas de seus aliados, como o ex-ministro Tarcísio de Freitas, essa oposição à (extrema) direita é um obstáculo considerável, pois a própria campanha bolsonarista de 2018 mostrou que o argumento da antipolítica tem muito apelo entre os eleitores conservadores.

O presidente Bolsonaro e seus aliados mais próximos têm adotado, há meses, a tática de ignorar as críticas e provocações de antigos aliados extremistas. Os articuladores políticos do presidente, incluindo seus filhos, tentam resolver nos bastidores essas questões, que não são apenas ideológicas e têm, também, um componente de luta por espaço para se candidatar em outubro.

O sucesso nessas negociações, porém, tem sido apenas parcial. Ninho de alguns dos bolsonaristas mais radicalizados, o PTB aparentemente concordou em baixar o tom das cobranças, mas o mesmo não pode ser dito de Weintraub, que se filiou ao nanico Brasil 35 (o antigo PMB) e, contrariando as expectativas dos bolsonaristas, não parece disposto a recuar da candidatura ao governo de São Paulo e tem feito do ex-colega de Esplanada Tarcísio um dos principais alvos de suas críticas.

Nesta semana, o ex-ministro da Educação disse que “o presidente Bolsonaro, ao se aliar ao Centrão, transformou um sonho que a gente tinha, de mudança do país, num pesadelo“.

“Porque, hoje, ou é com Lula ou a gente continua piorando. Porque com ele [Bolsonaro] vai continuar piorando”, disse Weintraub, em roda de conversa no Twitter. “Historicamente, o segundo mandato de um presidente costuma ser pior que o primeiro mandato”, disse ainda Weintraub, que, embora logo tenha desmentido qualquer adesão ao petismo, bateu forte nos atuais aliados do ex-chefe.

“O Centrão tá desesperado”, disse Weintraub, em vídeo postado em suas redes na quinta-feira (7/4). “Está aparecendo um escândalo atrás do outro no MEC, onde eles colocaram as patas imundas deles, e aí ficam inventando história pra tentar criar cortina de fumaça. Enquanto eu estava no MEC, não tinha uma linha fora do lugar, não teve uma única acusação nem suspeita”, provocou.

Fora da disputa eleitoral este ano (por falta de convites), o ex-ministro Ernesto Araújo também tem jogado pedras no ex-chefe pelos mesmos motivos que Weintraub: a preferência pelo Centrão.

No fim de março, o ex-chanceler disse que Bolsonaro caiu em contradição ao se aliar a políticos condenados por corrupção e, ao mesmo tempo, criticar o ex-presidente Lula. Em vídeo publicado em suas redes, o diplomata criticou um discurso de Bolsonaro no evento do PL que serviu como lançamento de sua pré-candidatura à reeleição.

Ao lado de Valdemar Costa Neto, presidente do partido e que foi preso por envolvimento no Mensalão, Bolsonaro disse: “Todos nós somos humanos, podemos errar” e que “devemos e podemos ter uma segunda chance para voltarmos a ser úteis para a sociedade”.

“Realmente caberia perguntar por que algumas pessoas que estavam ali no palanque com o presidente e que já foram condenadas por corrupção merecem uma segunda chance, e o ex-presidente Lula, que também foi condenado por corrupção e descondenado, não mereceria uma segunda chance”, provocou Araújo, que deixou o comando do Itamaraty há um ano. “É um conjunto de contradições.”

Apesar de se preocuparem com essa espécie de “fogo amigo”, coordenadores políticos do novo bolsonarismo conseguem ver algumas vantagens na atuação dos radicais renegados. A campanha de Tarcísio, por exemplo, avalia que o comportamento belicoso de Weintraub vai transformá-lo no “louco da eleição”, poupando o ex-ministro da Infraestrutura do fardo de debater a pauta de costumes e ideologia mais extrema.

Mesmo onde as disputas ideológicas pareciam superadas, como no seio dos partidos do Centrão, o bolsonarismo ainda vai enfrentar alguns problemas com os aliados mais radicais.

Filiado ao mesmo PL de Bolsonaro e Costa Neto, o ex-ministro Ricardo Salles tem a esperança de ser o escolhido para disputar um lugar no Senado por São Paulo. Por isso, ele reagiu com fúria e em público às notícias de que Paulo Skaf (Republicanos) pode compor a chapa de Tarcísio, que também está no Republicanos, como o concorrente à única vaga ao Senado.

Segundo apuração do colunista Igor Gadelha, do Metrópoles, Salles tem raiva de Skaf desde que descobriu que o empresário pediu ao presidente Jair Bolsonaro que o tirasse do Ministério do Meio Ambiente, em meados de 2021. Em postagem nas redes sociais, o ex-ministro disse que “não dá” para apoiar Skaf e fez uma montagem com notícias sobre a participação dele em governos adversários a Bolsonaro.

Metrópoles