Terceira via entra desarticulada no prazo para definições eleitorais

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Foto: Eduardo Knapp/Folhapress

A um dia do fim do prazo de novas filiações partidárias para as eleições de 2022, os principais atores da terceira via — candidatos de centro em oposição à Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) — fizeram movimentos arriscados e levantaram novas dúvidas sobre quem será seu principal representante na disputa presidencial.

No mesmo dia, João Doria (PSDB), antes de anunciar sua candidatura, ameaçou jogar por água abaixo a campanha presidencial e ficar no governo de São Paulo, enquanto Sergio Moro se filiou ao União Brasil e desistiu de ser candidato à Presidência, por ora.

Hoje (1º), encerra-se a janela partidária, período em que deputadas e deputados federais, estaduais e distritais podem trocar de partido para concorrer na eleição sem perder o mandato.

Amanhã (2), é o último dia para chamada “desincompatibilização”. Em resumo, políticos que pretendem se candidatar e já ocupam determinados cargos públicos devem deixá-los. O mesmo dia é a data limite para que todos candidatos estejam com a filiação partidária deferida pela sigla pela qual irão concorrer.

Moro e Doria disputavam, desde o ano passado, o posto de líder da terceira via. A posição também levava em conta uma possível aliança política entre União Brasil, MDB e PSDB, que cogitavam decidir juntos um candidato à Presidência em junho. Nesse caso, a disputa ficaria entre a senadora Simone Tebet (MDB) e Doria. Ainda filiado ao Podemos, Moro participava das conversas sobre uma possível aliança em torno de um único nome — apesar do discurso de “união”, cada partido defendia o seu.

Por fora da disputa oficial, corre o ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite (PSDB), derrotado nas prévias para João Doria, mas que almejaria tomar o lugar do ex-governador de São Paulo na disputa presidencial.

Com os anúncios de Moro e Doria, o quadro político se movimentou e levantou novas dúvidas. O ex-juiz decidiu se filiar ao União Brasil e desistiu, por enquanto, de ser candidato à Presidência. A expectativa agora é que ele busque uma vaga na Câmara dos Deputados.

Mesmo sem alcançar os dois dígitos nas pesquisas, Moro aparecia em terceiro ou quarto lugar nas simulações. Mas o preço de uma campanha presidencial sem chance certa de vitória teria sido um dos motivos para a saída do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública do Podemos, seu antigo partido.

No União Brasil, Moro também não deve ter espaço para ser candidato a presidente. Secretário-geral do partido e relevante político baiano, ACM Neto já antecipou que “não há hipótese” da sigla concordar com uma campanha do ex-juiz à Presidência.

Agora, segundo Moro, sua ideia é “facilitar as negociações das forças políticas de centro democrático em busca de uma candidatura presidencial única”.

Já o anúncio da candidatura à Presidência do ex-governador de São Paulo se deu após uma noite intensa de reveses e brigas políticas dentro do PSDB.

Antes considerada uma possibilidade remota, a desistência da campanha de Doria ao Palácio do Planalto e a intenção de ficar no cargo de governador acabaram virando moedas de negociação nas últimas horas. Na quarta, o governador teria comunicado Rodrigo Garcia que cogitava a ideia, conforme revelou o jornal Folha de S.Paulo.

Segundo apurou a colunista do UOL Thaís Oyama, Doria sabia que sua candidatura não era a favorita na cúpula do PSDB e que seu nome também não é o favorito para ser o líder de uma terceira via nas eleições, em contraposição a Bolsonaro e Lula.

A informação do recuo de Doria balançou a política paulista e movimentou até políticos históricos como Fernando Henrique Cardoso e José Serra. Também houve pressão do presidente da Câmara Municipal da capital, Milton Leite, e do MDB, do prefeito Ricardo Nunes, que participaram das negociações e estiveram presentes depois no evento do governador.

No mesmo dia, o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, emitiu uma carta ao diretório paulista afirmando que o governador paulista é candidato à Presidência da República pelo PSDB.

Imaginando ter conquistado o apoio do partido, Doria deu sequência ao arranjo político esperado, saindo do governo e o deixando nas mãos de Garcia, e assumindo a candidatura ao Palácio do Planalto. Após o evento, ele disse que irá conversar com Moro e que “o momento é de união”.

Outro nome como alternativa a Lula e Bolsonaro, Ciro Gomes (PDT) aparece à frente, bem colocado nas pesquisas eleitorais, mas corre de forma independente, sem se pôr ao lado de Doria, Moro e Tebet na disputa por esse espaço.

O desafio será convencer os eleitores. As quatro pesquisas eleitorais publicadas na última semana indicaram que o melhor desempenho de uma candidatura de terceira via no primeiro turno é inferior a 13% das intenções de votos, considerando a margem de erro.

Uol