Alta dos juros nos EUA fará dólar subir no Brasil, elevando a inflação

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Foto: Michael Melo/Metrópoles

O Federal Reserve (Fed), Banco Central dos Estados Unidos, anunciou nesta quarta-feira (4/5) uma alta histórica de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros, a segunda elevação em menos de dois meses e a maior desde maio de 2000.

Especialistas consultados pelo Metrópoles apontam que, apesar do aumento ter ocorrido dentro das expectativas, terá efeito direto sobre a valorização do dólar e, consequentemente, sobre a inflação no Brasil. Essas consequências acontecem em função do fluxo de capital para fora do país.

“Os recursos aqui investidos retornarão para os EUA em função desse incentivo de uma remuneração maior em títulos americanos, que são considerados ativos de baixo ou nenhum risco”, explica César Bergo, coordenador da Pós-Graduação em Mercado Financeiro e Capitais da Faculdade Mackenzie Brasília (FPMB) e presidente do Conselho Regional de Economia da 11ª Região.

Apesar de o Brasil ser considerado um país de baixo a médio risco para investimentos, o ano de eleição preocupa o mercado. Além disso, a taxa básica de juros brasileira é de 12,75% ao ano, quase 12 pontos percentuais maior do que a norte-americana.

Essa saída de capital estrangeiro, então, leva a uma desvalorização contínua do real, como aponta o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini. O especialista ressalta que esse efeito também influencia na inflação, que deve marcar a maior alta para abril desde 1994, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA), considerado uma prévia da inflação oficial do país.

“A desvalorização, como a gente já viu em em momentos anteriores, impacta diretamente na inflação no Brasil, porque nós temos o sistema de reajuste de preço de combustíveis pela Petrobras, o PPI, paridade de preço internacional de combustíveis. Então, ou sobe o preço do barril ou tem a desvalorização do real”, diz Agostini.

“Isso tem gerado uma preocupação muito grande pois o reajuste de combustíveis acaba tendo um reflexo em toda a economia. Isso impacta alimentos, impacta vestuário, calçados, remédios.”

O economista e diretor-financeiro da consultoria Indosuez, Fabio Passos, avalia que o mercado se mantinha apreensivo frente a duas dúvidas principais: qual seria a intensidade e a duração das políticas monetárias anunciadas nesta quarta.

No entanto, o comunicado do Fed, feito pelo presidente da instituição, Jerome Powell, acalmou investidores. “O discurso de Powell foi extremamente relevante porque afastou a possibilidade de uma alta de 0,75. Então quando a gente olha para a bolsa lá fora, ela está subindo muito forte e o dólar já voltou a perder valor”, explica Passos.

“A decisão do Fed e o comentário do Powell serviram como um grande alento para o mercado como um todo e isso tende a ser, obviamente, importante para gente, porque garante que o Banco Central americano não vai precisar ser mais duro, pelo menos por enquanto. Por aqui a gente também não vai precisar ter o Copom sendo tão duro”, avalia o economista.

Metrópoles