Deputados federais tucanos são quase todos bolsonaristas

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Enquanto o PSDB anuncia há meses a tentativa de lançar um nome da chamada terceira via na corrida presidencial, com idas e vindas internas e nas alianças com outras siglas, a bancada tucana na Câmara dos Deputados vem mostrando cada vez mais alinhamento com o governo Jair Bolsonaro. E não apenas em pontos da agenda econômica mais liberal, mas também em pautas de costumes caras ao bolsonarismo, como o ensino domiciliar.

Na votação, que ocorreu há dez dias, 13 dos 17 votos do partido foram favoráveis à pauta, uma taxa de adesão de 76%. Outros quatro parlamentares se abstiveram. O texto aprovado pela Câmara prevê que a lei seja alterada para incluir a possibilidade do homeschooling na educação básica. Além disso, o projeto estabelece diversas regras para os responsáveis legais e para as instituições de ensino quanto ao desenvolvimento pedagógico dos alunos. A aprovação veio depois de uma disputa acirrada entre um grupo mais radical, ligado aos deputados Eduardo Bolsonaro (SP) e Bia Kicis (DF) — que defendiam um projeto que apenas autorizasse o método, sem exigências — e a bancada da educação, que tentava determinar uma série de limitações à sua aplicação.

— A equação fecha perfeitamente porque se relaciona com o arquétipo do professor doutrinador, “petralha” e dogmático que quer incutir o pensamento da esquerda nas crianças — analisa a socióloga Esther Solano, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Outra agenda bolsonarista encampada pelo PSDB foi o projeto de lei que aumenta o tamanho de terras da União passíveis de regularização sem vistoria prévia, bastando a análise de documentos e a declaração de seu ocupante de que está seguindo a legislação. O texto foi apelidado de “PL da Grilagem” por seus opositores, sob o argumento de que facilita e estimula a invasão de terras da União. Dos 29 votos do PSDB, apenas o deputado Alexandre Frota (SP) e a deputada Tereza Nelma (AL) foram contrários.

Na votação do projeto mais identificado com o próprio Jair Bolsonaro, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do voto impresso, a divisão da bancada do PSDB foi mais apertada. O texto contou com a adesão de 14 dos então 26 votos totais no partido, uma ligeira maioria (53,8%). Houve uma abstenção e cinco ausências. A taxa de adesão dentro do partido foi parecida com a de todo o plenário da Casa, onde 51,22% dos votos foram favoráveis — um total insuficiente para aprovar a medida.

Nesse caso, porém, o partido foi formalmente contrário à PEC, em posição aprovada na Executiva nacional. O alinhamento com Bolsonaro no caso se deu em desobediência ao próprio comando partidário. Mesmo com a derrota, o presidente da República continua investindo contra a credibilidade do processo eleitoral brasileiro. Em temas econômicos, o PSDB também tem sido fiel ao governo. Cerca de 65% dos votos da bancada foram favoráveis à PEC dos Precatórios, que adia o pagamento de dívidas judiciais da União a pessoas, empresas e entes da federação. Dos 32 deputados votantes, apenas 11 foram contrários.

Exemplos no executivo

A proposta também alterou o cálculo aplicado ao teto de gastos, a regra que limita as despesas do governo à inflação do ano anterior. As duas mudanças abriram grande espaço no orçamento federal de 2022, viabilizando financeiramente o Auxílio Brasil, programa que substituiu o Bolsa Família. Essa “bolsonarização” do PSDB tem outros indicadores. O pré-candidato ao governo do Mato Grosso do Sul pelo partido, Eduardo Riedel, aliado da ex-ministra Tereza Cristina (PP), vai abrigar Bolsonaro em seu palanque no estado. Na Paraíba, Pedro Cunha Lima, pré-candidato tucano ao governo, já iniciou um movimento de aproximação com o presidente.

Para o cientista político da FGV Sérgio Praça, o PSDB desde seu início tinha quadros mais conservadores em suas bases, mas esse movimento vem se acentuando nos últimos anos:

— Os líderes nacionais do PSDB, como Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Mário Covas, estavam à esquerda da maioria dos políticos do partido em sua base, que eram mais conservadores em diversos temas.

Endosso à agenda de Bolsonaro

Ensino domiciliar – Treze dos 17 votos do partido foram favoráveis à pauta, uma taxa de adesão de 76%. Outros quatro parlamentares se abstiveram da votação.

“PL da Grilagem” – Dos 29 votos do PSDB, apenas os deputados Alexandre Frota (SP) e Tereza Nelma (AL) foram contrários.

PEC do Voto Impresso – Adesão de 14 dos então 26 votos, uma ligeira maioria (53,8%). Houve uma abstenção e cinco ausências.

PEC dos Precatórios – Dos 32 deputados votantes, apenas 11 foram contrários à PEC dos Precatórios.

Globo