EUA voltam a “avisar” Bolsonaro que não aceitarão golpe

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Foto: Marcos Corrêa/PR

Em dois recados diferentes, no mesmo dia, o governo Joe Biden deixou claro que confia no sistema eleitoral brasileiro e na preservação da democracia, em meio às críticas lançadas pelo presidente Jair Bolsonaro sobre as instituições e o voto eletrônico. Na mensagem mais dura, em Washington, a embaixadora designada por Biden para assumir a representação diplomática dos Estados Unidos em Brasília citou nominalmente Bolsonaro e disse que as eleições presidenciais de outubro “não serão um momento fácil”.

Em sua sabatina no Senado americano, Elizabeth Bagley foi questionada sobre os riscos à democracia no Brasil. “Bolsonaro tem dito muitas coisas, mas, basicamente, o Brasil tem sido uma democracia. Eles têm instituições democráticas, um sistema eleitoral democrático, um Judiciário independente, um Legislativo independente, liberdade de expressão e de reunião”, afirmou Bagley, que ainda depende de aprovação dos senadores para ser nomeada.

Ex-embaixadora em Lisboa e doadora de recursos para campanhas democratas, ela acrescentou: “Já fiz vários monitoramentos eleitorais e sei que não será um momento fácil, por causa dos comentários dele. Mas, apesar desses comentários, há de fato uma base institucional. O que vamos fazer é continuar demonstrando a nossa confiança e a nossa expectativa de que eles terão uma eleição livre e justa”.

Em sintonia com Bagley, mais um enviado da Casa Branca aproveitou sua passagem por Brasília para reforçar o discurso. “O sistema [eleitoral] brasileiro, como em muitas outras vezes anteriormente, produzirá um vencedor de forma livre e justa”, disse o secretário-adjunto de Comércio dos Estados Unidos, Don Graves.

Ele indicou que não falava em tom meramente pessoal. “Eu, o presidente [Biden] e todo o governo americano acreditamos na força e na estabilidade da democracia brasileira”, completou, em rápida conversa com jornalistas.

Liderando uma missão de 70 empresários americanos e após conversas com diversas autoridades em Brasília, Graves disse que a comunidade de negócios não alimenta especulações sobre o risco de golpe ou não reconhecimento de um vencedor nas eleições presidenciais de outubro, por acreditar que “somos [EUA e Brasil] duas das mais duradouras democracias do planeta e demonstramos a resiliência dos nossos sistemas”.

Outros emissários recentes de Washington, incluindo altos funcionários do Departamento de Estado e até o então chefe do Comando Militar do Sul, usaram a mesma linha de argumentação durante visitas recentes ao Brasil.

Graves procurou enfatizar que o Brasil é um parceiro na busca pelo “nearshoring” – tentativa de trazer parte da cadeia de fornecedores para mais perto dos Estados Unidos. O termo ganhou impulso com a pandemia de covid, os desequilíbrios na oferta global de suprimentos, a guerra na Ucrânia e a crise alimentar.

“É um desafio diversificar e não ser excessivamente dependente de um ou dois países, de uma ou duas regiões do mundo. Quando elas fecham, por questões sanitários ou eventos geopolíticos, o dano é real”, afirmou.

O secretário-adjunto, número 2 do Departamento de Comércio, evitou mencionar a China ao longo da conversa. No entanto, fez questão de diferenciar os Estados Unidos e apontar semelhanças com o Brasil, tratando outros parceiros como menos confiáveis.

“Acreditamos na agregação de valor, não apenas em extrair ou explorar, mas em uma relação baseada em valores comuns”, disse o funcionário americano.

Segundo ele, os Estados Unidos estão olhando para fatores como transferência de conhecimento e aumento de renda dos trabalhadores, não só para o menor custo ou para matérias-primas. “Queremos assegurar que o investimento e as cadeias de fornecedores possam ir para nossos aliados, amigos, que compartilham valores democráticos e o império da lei”, disse Graves. Ele citou setores como semincondutores e a área de saúde.

Valor Econômico