Lula acelera foco nos evangélicos

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Orientado por aliados próximos e integrantes do núcleo da pré-campanha presidencial, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem insistido no tema religioso e na importância da família durante discursos públicos e entrevistas.

Na semana passada, nos atos políticos em que recebeu apoio do PSB, Psol e Rede, o petista ressaltou repetitivamente a relevância do povo evangélico, que integra aproximadamente 30% do eleitorado brasileiro, reforçou sua crença em Deus e tentou desconstruir a imagem cristã do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Além das falas de Lula sobre o tema, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), que será oficializado como vice na chapa do petista em 7 de maio, fará reuniões com pastores evangélicos com os quais tem proximidade.

A equipe do marqueteiro Sidônio Palmeira, que substituiu Augusto Fonseca na pré-campanha petista, já teve reuniões com pastores pentecostais para traçar planos específicos de marketing para este segmento.

A estratégia do ex-presidente Lula ocorre no momento em que Bolsonaro, principal adversário do petista nas eleições deste ano, apresenta, de acordo com pesquisas eleitorais recentes, crescimento no segmento evangélico, uma de suas bases eleitorais mais fieis.

Ainda com desempenho bem abaixo do que o apresentado em 2018 nesta faixa específica do eleitorado, Bolsonaro, conforme a última pesquisa do Datafolha, aparece numericamente na frente do ex-presidente Lula, com 46% contra 43% do petista.

No fim do ano passado, conforme levantamento do mesmo instituto, o petista tinha 46% contra 44% do presidente.

Internamente, o entendimento do núcleo mais próximo do ex-presidente é de que o foco do discurso deve continuar sendo o debate sobre a questão econômica do país, ressaltando a fome, a carestia, a alta do preço dos combustíveis e o desemprego. No entanto, ressalta que, mesmo com menos relevância do que nas eleições de 2018, a chamada pauta de costumes, com terreno fértil entre boa parte dos evangélicos, permanecerá presente nestas eleições. É justamente a partir deste diagnóstico que Lula passou a mesclar com mais intensidade nos discursos questões referentes à religião. Ele tem batido na tecla de que Bolsonaro não acredita em Deus e que usa uma falsa imagem cristã para iludir o povo.

“Ele fala que é evangélico, mas ele não crê em Deus”, disse Lula, durante abertura do Congresso do PSB na quinta-feira passada, em Brasília, lembrando que Bolsonaro estimulou o filho Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) a disputar uma vaga de vereador na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, para que a mãe dele, Rogéria Bolsonaro, não se reelegesse.

“Um cara que fez um filho disputar uma eleição para derrotar a mãe não pode ser cristão.” Em determinado momento do discurso, Lula chegou a dizer que Bolsonaro ludibriou a população até sobre seu batismo em Israel. “Ele não foi tomar banho no rio Jordão, ele se banhou no rio Pinheiros, e tentou enganar a sociedade brasileira”, provocou.

“Eu sou cristão, eu acredito em Deus, e o Deus em que eu acredito não pode ser o Deus que essa gente, que fala mentira, acredita”, prosseguiu. No mesmo dia pela manhã, no ato em que lideranças do partido Rede Sustentabilidade declararam apoio ao petista, Lula usou boa parte do discurso para falar sobre o tema.

“Ele (Bolsonaro) é uma pessoa que usa o nome de Deus em vão. Ele não é nem evangélico, católico, ele é um fariseu, que se utiliza da boa-fé de milhões e milhões de brasileiros, evangélicos e católicos que votaram nele também”, disse. Alguns integrantes do PT têm defendido que, se Lula conseguir estabelecer uma comunicação eficaz para o segmento evangélico do eleitorado, a eleição pode ser definida no primeiro turno.

Em abril, em entrevista a uma rádio de Salvador, o governador da Bahia, Rui Costa (PT), defendeu mudança no discurso de Lula para que ele se aproxime do eleitorado mais conservador. “Eu acho que ele precisa só falar um pouco mais para o centro e para os religiosos, falar mais de família. Se ele fizer essa inclinação, dá para levar no primeiro turno. Ele disse que vai fazer”, afirmou Costa em entrevista à Rádio Metrópole, de Salvador. Em seguida, o petista completou: “Precisa fazer aceno aos religiosos, aos evangélicos. É menos encontrar com pastores e mais botar a família no contexto.”

O pastor pentecostal Paulo Marcelo Schallenberger, responsável na pré-campanha petista pela articulação com o segmento, revelou que, com a saída de Franklin Martins da coordenação da comunicação, o podcast voltado para o público evangélico que será apresentado pelo religioso deve ser incorporado novamente ao comando nacional da campanha. O principal incentivador do pastor dentro do PT é o secretário de comunicação do partido, Jilmar Tatto. Ele travou disputa interna com Franklin Martins.

A estreia do programa evangélico ocorre no dia 17. O primeiro entrevistado será o deputado estadual Luiz Fernando (PT-SP), ligado à Igreja Sara Nossa Terra, comandada pelo bispo Robson Rodovalho. A expectativa é que também sejam convidados pastores ligados a Bolsonaro para debater. O pastor Schallenberger vai se reunir nesta terça-feira (3) com Alckmin e com o presidente do Solidariedade, Paulinho da Força. “Sempre destaquei a importância de Alckmin para os evangélicos. Ele tem muita penetração no segmento. O padrão dele é conservador e vai caminhar um pouco nessas grandes convenções (religiosas)”, disse. O

ex-governador tem proximidade com o bispo Manoel Ferreira, da igreja Assembleia de Deus de Madureira, e com o pastor José Wellington Bezerra, líder da Assembleia de Deus Belém no Estado de São Paulo.

Valor Econômico