Lula, Alckmin e o sopro da história

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Foto: Suamy Beydoun/Hugo Barreto/Metrópoles

O anúncio da chapa Lula-Alckmin eleva o nível da campanha pré-eleitoral e muda a agenda e a qualidade do debate político, contaminado até agora pelo golpismo de Bolsonaro. É claro que a sombra do golpe não desaparece, até porque golpismo não é exclusividade do presidente e de seus seguidores mais fanáticos.

Arthur Lira inventou um grupo de trabalho para discutir o semipresidencialismo, um sistema em que, basicamente, o presidente eleito ganha, mas não leva. E surgiu por aí a ideia de um segundo turno com os três candidatos mais votados no primeiro. São casuísmos risíveis e delirantes, golpismo light.

Os movimentos de Lula mostram que ele está ciente dos riscos. O petista é o primeiro candidato a apresentar um vice. O histórico de Lula e Alckmin nos cargos públicos que ocuparam não diz tudo sobre o governo que poderão conduzir se eleitos. Mas assinala respeito à democracia e à civilidade.

O gesto político de união é uma mensagem poderosa para um país empobrecido, faminto, fraturado pelas desigualdades e intoxicado de violência. A aliança comandada pelo petista junta sete partidos até o momento, quase todos velhos aliados.

Os discursos da dupla, apelando para a superação de divergências do passado, deixam a porta aberta para a ampliação da frente. Muitas outras lideranças de perfil democrático poderiam juntar-se em torno do compromisso de derrotar o bolsonarismo. Algo que emulasse o espírito das Diretas Já, nos anos 1980.
Guardadas as diferenças de momento histórico, é importante destacar que os líderes daquele tempo souberam fazer a transição da ditadura para a democracia e construir o pacto que culminou com a Constituição de 1988, a mesma que a extrema direita quer desmantelar.

O Brasil terá que ser reerguido a partir de escombros enquanto o mundo assiste a uma guerra que irá redesenhar a nova ordem mundial. Para ter alguma voz neste processo, é preciso perceber para onde está soprando o vento da história.

Folha