Lula e Alckmin encontram clima tenso no Sul do país

Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Divulgação/Ricardo Stuckert

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o vice na chapa presidencial petista, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), visitam nessa quarta (1º) e quinta-feira o Rio Grande do Sul, na tentativa de fortalecer a pré-campanha numa região onde o presidente Jair Bolsonaro (PL) teve bom desempenho na disputa de 2018. Além da estratégia de avançar sobre uma parcela mais conservadora do eleitorado, Lula chega ao Estado em meio a um impasse eleitoral para formação de palanque. A visita a Santa Catarina, prevista para correr na quinta (2) e sexta, foi adiada de última hora.

Nos dois Estados, o PSB, principal aliado do petista no plano nacional, não abre mão das pré-candidaturas ao governo do ex-deputado Beto Albuquerque (PSB-RS) e do senador Dario Berger (PSB-SC). No Rio Grande do Sul, o clima entre os dois partidos é mais tenso. O PSB está em negociação avançada para fechar aliança com o PDT e oferecer palanque exclusivo a Ciro Gomes no primeiro turno das eleições.

Na segunda-feira (30), Albuquerque telefonou para a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, dizendo que não iria ao ato público com o ex-presidente marcado para a tarde de quarta em Porto Alegre. “Liguei para Gleisi para fazer uma crítica a tudo o que acontecendo aqui. Ninguém falou comigo sobre nada deste evento. Disse que, a partir de agora, não adiantava falar e nem me ligar mais”, afirmou.

Aliado histórico do PT no Rio Grande do Sul até 2014, quando concorreu à vice-presidência na chapa de Marina Silva (Rede), Albuquerque foi secretário de Infraestrutura e Logística no governo de Tarso Genro (2011-2014), mas rompeu com o partido ao apoiar o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Depois do afastamento, o PSB participou dos governos de José Ivo Sartori (MDB) e de Eduardo Leite (PSDB).

Em entrevista ao Valor, o pré-candidato do PSB disse que o diálogo com o PT foi encerrado no sábado passado, após evento para consolidação da pré-candidatura do deputado estadual Edegar Pretto (PT). “Isso significa que o PT decidiu encerrar as conversas com os demais partidos. O ato de Lula que vai ocorrer aqui está sendo coordenado pelo PT para o PT. Essa é a grande verdade.”

O ex-deputado avalia como hipócrita a posição do PT em relação ao Rio Grande do Sul. “Tem uma pergunta básica. Lula subirá no palanque de um governador que não apoia ele? Por que tenho que subir num palanque de um presidente que não me apoia?”, questionou.

Albuquerque diz que a prioridade é fechar aliança com o PDT. A vaga de vice já foi oferecida ao pré-candidato do partido, o ex-deputado Vieira Cunha. “Respeito muito a pré-candidatura dele, mas achamos que o palanque do Ciro Gomes pode nos aproximar. Acho que a gente define nesse mês a aproximação entre o PSB e o PDT.”

Após conversa com o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, o PSB ofereceu a vaga do Senado para a ex-senadora Ana Amélia (PSD), que foi vice de Alckmin na disputa presidencial de 2018.

Lula e Alckmin desembarcam em Porto Alegre na manhã desta quarta-feira (31). A primeira agenda política será com representantes dos partidos que apoiam a pré-candidatura do ex-presidente: PT, PSB, PCdoB, Psol, Rede, Solidariedade e PV. O PSB não confirmou se vai ao encontro que antecede o ato público “em defesa da soberania”, numa casa de eventos com capacidade para oito mil pessoas.

Inicialmente, Lula desejava participar de ato na Rua da Praia, uma das vias mais movimentadas do Centro de Porto Alegre. Por precaução jurídica para evitar configuração de campanha antecipada e questões de segurança, houve mudança no roteiro.

Na capital gaúcha, o petista e o ex-tucano também terão agendas que incluem, além de líderes partidários, representantes de setores da educação, da produção e do cooperativismo. São esperadas caravanas de várias cidades do interior.

O pré-candidato petista Edegar Pretto, responsável pelo roteiro de Lula no Rio Grande do Sul, minimizou as tensões locais com o PSB e reforçou que a prioridade é fortalecer o palanque de Lula no Estado. “Vamos continuar dialogando com todos do nosso campo progressista. Nossa prioridade é organizar o palanque do presidente Lula”, afirmou.

“Uma das primeiras agendas de Lula aqui é conversar com os partidos que já declararam apoio a ele, incluindo o PSB”, complementou, ressaltando que não tem dúvida de que os partidos do campo da esquerda estarão unidos no segundo turno.

O PT havia oferecido a vaga do Senado à ex-deputada Manuela D’ávila. No entanto, ela anunciou que não iria concorrer a cargos públicos neste ano. Até agora, o PT não indicou outro nome. O petista lembra que, apesar de Bolsonaro ter ganho nos Estados da região Sul com 65% dos votos válidos em 2018, há uma percepção de avanço do PT nos últimos meses.

De acordo com a mais recente pesquisa do Datafolha, divulgada na semana passada, Lula venceria num eventual segundo turno contra Bolsonaro por 57% a 35% na região.

No Rio Grande do Sul, o ex-ministro do Trabalho e da Previdência Onyx Lorenzoni (PL), aliado de Bolsonaro, aparece na liderança nas pesquisas de intenção de voto. O senador Luís Carlos Heinze (PP) também é pré-candidato e espera o apoio de Bolsonaro. O ex-governador Eduardo Leite, que renunciou ao cargo na tentativa de disputar à Presidência da República, ainda não disse se iria concorrer.

Em Santa Catarina, o PT enfrenta problemas com o PSB em razão da pré-candidatura ao governo estadual do senador Dário Berger (PSB). O cancelamento da visita a Florianópolis ocorre em meio a negociações na tentativa de uma composição entre PT e PSB. O PT lançou a pré-candidatura do presidente estadual do partido, Décio Lima.

A alegação oficial para o cancelamento da visita do ex-presidente ao Estado foi por questões de logística. De acordo com o PT, não foi possível reservar lugares adequados diante da impossibilidade de eventos em locais abertos em razão das condições climáticas.

O PSB também tinha pedido o adiamento da viagem porque Berger havia passado recentemente por uma cirurgia e não estaria em Santa Catarina durante a visita de Lula. Uma nova data ainda não foi marcada.

Valor Econômico