PT e PSB paulista podem apresentar candidatura única ao Senado

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Foto: Divulgação / Agência O Globo

O PT retomará nesta semana a ofensiva para tentar convencer o ex-governador Márcio França (PSB) a desistir da disputa pelo governo de São Paulo e concorrer ao Senado na chapa do pré-candidato do partido, Fernando Haddad. Para a direção petista, o palanque duplo, de PT e PSB, dificultará a atuação do ex-governador paulista Geraldo Alckmin, vice na chapa presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como cabo eleitoral no Estado e poderá prejudicar Haddad. O comando do PT avalia também que se França não concorrer a senador, a esquerda terá poucas chances de conquistar a vaga.

Haddad e dirigentes petistas devem marcar nesta semana um novo encontro com França para buscar uma solução ao impasse.

O ex-governador do PSB tem dito que não vai recuar e manterá a pré-candidatura. França ofereceu a vaga do Senado ao PT e diz não ver problemas em Lula ter dois palanques. “Se Haddad quiser ser senador, terei prazer em recebê-lo”, diz França ao Valor.

Para tentar convencer França e o PSB a apoiarem Haddad, o presidente estadual do PT de São Paulo, Luiz Marinho, argumenta que a eventual unificação das candidaturas dará condições para que Alckmin, do PSB, esteja mais presente em São Paulo. “Duas candidaturas vão gerar um constrangimento [para Alckmin]”, diz Marinho. “E cria constrangimento para Haddad.” Na avaliação do dirigente, Alckmin tende a ficar mais com França, por ser do mesmo partido, ou até evitar viagens ao Estado, caso fiquem os dois palanques.

Vice na chapa de Lula, Alckmin é uma das apostas do PT para tentar diminuir a resistência ao partido em São Paulo. O ex-governador comandou o Estado por quatro mandatos, tem boa relação com prefeitos e vereadores e é popular entre eleitores do interior. Antes de decidir ser vice, liderava pesquisas de intenção de voto ao governo estadual. O PT nunca venceu a disputa pelo Estado e em 2020 elegeu só quatro dos 645 prefeitos. Ganhar em São Paulo é prioridade para Lula, além da Presidência.

“Não podemos nos dar ao luxo de ter uma candidatura de esquerda e uma de centro-esquerda ao governo”, diz Marinho. “Vamos gastar uma energia desnecessária.” O dirigente afirma que a campanha de Haddad será “colada” com a de Lula e reitera: “Respeitamos a liderança de França, mas São Paulo é componente importante na campanha nacional de Lula. O correto é unificar as candidaturas da esquerda.”

O PT avalia que ainda é possível demover França da ideia de ser candidato e argumenta que Haddad lidera as pesquisas de intenção de voto. O ex-governador do PSB propôs a Haddad que uma eventual candidatura única fosse definida com base em pesquisas, realizadas neste mês, mas o PT não concorda com a ideia.

“Não precisamos contratar uma nova pesquisa. É só pegar as que saíram”, diz Marinho. “Como vai tirar Haddad, sendo que ele é líder nas pesquisas? Isso não existe”, afirma.

Segundo levantamento do Datafolha de abril, Haddad lidera com 29%, seguido por França, com 20%. O ex-ministro Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) tem 10% e o governador Rodrigo Garcia (PSDB), 6%.

Marinho diz que união entre PT e PSB no Estado ajudaria a esquerda não só na disputa pelo governo, mas também pelo Senado. “Se não estivermos juntos, corremos o risco de perder a vaga para senador.”

Se na esquerda faltam candidaturas competitivas para o Senado até o momento, na direita e centro-direita elas são numerosas. Na sexta-feira, o presidente Jair Bolsonaro anunciou o apresentador José Luiz Datena (PSC) como candidato na chapa de Tarcísio de Freitas. As deputadas Carla Zambelli (PL) e Janaina Paschoal (PRTB), e o ex-presidente da Fiesp Paulo Skaf (Republicanos) também são cotados, caso Datena desista. O ex-ministro Sergio Moro (União Brasil) tentou se lançar na chapa de Rodrigo Garcia, mas o partido pretende apoiar o vereador Milton Leite.

O PT planeja lançar oficialmente a pré-candidatura de Haddad em junho, depois que forem definidos o candidato ao Senado e à vice. Por isso, insiste em um acordo com o PSB nos próximos dias. França tem prioridade na vaga para senador e a vice será definida entre Psol, PCdoB, PV e Rede, que devem participar da chapa. Se o PT não atrair o PSB, o Psol busca a vaga ao Senado, com o presidente da sigla, Juliano Medeiros.

Haddad está em pré-campanha desde abril de 2021 e a coordenação da candidatura já está montada. À frente do programa de governo está o deputado estadual Emídio de Souza. A função era ocupada pelo prefeito Edinho Silva, de Araraquara, que foi deslocado para cuidar da comunicação da campanha de Lula. A tesouraria deve ficar com o ex-secretário Chico Macena, ligado a Haddad, e o dirigente Luiz Turco fará as agendas pelo Estado. O marketing está sob comando de Otávio Antunes, que cuidou da campanha presidencial de Haddad em 2018.

Apesar da pressão do PT, Márcio França tem rodado o Estado em uma série de atividades de pré-campanha ao governo paulista e feito encontros para discutir o programa de governo. No fim de semana, fez evento em Votorantim, participou de reunião com aposentados em Mogi das Cruzes e visitou uma ocupação na capital paulista, para o lançamento da pré-candidatura a deputada Cármen Silva pelo PSB, liderança do movimento de moradia. Hoje, estará em São Vicente, seu reduto político.

França argumenta que tem rejeição menor do que a de Haddad e poderia atrair o eleitorado mais conservador do Estado, esvaziando as candidaturas de Tarcísio de Freitas e de Rodrigo Garcia — e ajudando a de Lula à Presidência.

Na avaliação do PT, a disputa no Estado será polarizada entre o candidato de Lula e o de Bolsonaro, reproduzindo o cenário nacional. Em um eventual segundo turno, petistas acreditam que seria mais fácil disputar contra Tarcísio do que Rodrigo, que comanda a máquina estadual. Para tentar desgastar Rodrigo, a campanha petista deve vincular o governador à imagem do ex-governador e presidenciável João Doria (PSDB), cuja gestão é mal avaliada.

Valor Econômico