Usina de problemas, PSB do RS se diz mais próximo de Ciro

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Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados

O pré-candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, deve perder um importante aliado no Rio Grande do Sul nas eleições de outubro. O PSB estadual negocia uma aliança eleitoral com o PDT para o governo local e ameaça aderir à campanha do presidenciável trabalhista Ciro Gomes, a despeito de compor a chapa majoritária de Lula para a disputa nacional com o candidato a vice, Geraldo Alckmin.

O pré-candidato do PSB ao governo do Estado, Beto Albuquerque, disse que neste momento “está mais próximo de Ciro que de Lula”. Aliado histórico do PT no Rio Grande do Sul até 2014, quando concorreu à vice-presidência na chapa de Marina Silva (Rede), Albuquerque foi secretário de Infraestrutura e Logística no governo de Tarso Genro (2011-2014), mas rompeu com o partido ao apoiar o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016.

Depois do rompimento, o PSB participou dos governos de José Ivo Sartori (MDB) e de Eduardo Leite (PSDB). “Há uma possibilidade real de aliança [com o PDT] aqui no Rio Grande do Sul”, avançou Albuquerque.

No PT, o pré-candidato ao governo do Estado é o deputado estadual Edegar Pretto. Nenhum dos partidos marcou data ainda para sua convenção estadual, que devem ocorrer até o prazo máximo de 5 de agosto. PSB e PT estão coligados para a disputa da Presidência, mas a aliança desobriga a coligações nos Estados porque os socialistas não participam da federação formada entre PT, PCdoB e PV. Com isso, a composição entre PDT e PSB em torno de uma chapa comum está liberada. Os pedetistas têm 65 prefeituras no Rio Grande do Sul, enquanto os integrantes do PSB comandam 16 cidades.

Lula visitará o Estado na primeira semana de junho para tentar apaziguar os ânimos entre os três maiores partidos de esquerda. A tarefa não será fácil. O presidente estadual do PSB, Mário Bruck, acusou o PT de negar “reciprocidade” no Estado em relação à candidatura de Albuquerque. “Tentamos repetir aqui a aliança nacional, como em vários outros Estados, mas hoje as possibilidades praticamente se esgotaram. Como o PT insiste em indicar candidato próprio, não haverá acordo”, disse.

Com isso, segundo Bruck, os espaços de aliança com o PDT “se ampliaram”. Os dois partidos conversam sobre essa possibilidade desde o fim do ano passado, embora o discurso trabalhista seja de candidatura própria. “A princípio, não abrimos mão da cabeça de chapa”, disse o presidente estadual do PDT, Ciro Simoni. “Mas queremos construir um caminho conjunto, distante da polarização, que inclua PSB e PSD”, sinalizou.

O PDT lançou o nome do procurador licenciado Carlos Eduardo Vieira da Cunha, ex-deputado federal e ex-deputado estadual, mas que está há sete anos sem mandato. O procurador se desincompatibilizou do cargo no prazo exigido pela Justiça Eleitoral e está apto a concorrer, tanto a governador como a vice, uma possibilidade admitida pelo PDT como forma de turbinar o presidenciável trabalhista no Estado. Para Simoni, uma chapa incluindo PSB, PSD e até MDB é viável. E competitiva em âmbito estadual. “Todos no palanque do Ciro Gomes”, avalizou Simoni.

O presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, foi evasivo ao ser questionado se havia conversas para composição de chapa com o PSB. Ele respondeu de maneira genérica que os diálogos existem. “Sempre tem conversas. Estamos em diálogo permanente. Temos também com a ex-senadora Ana Amélia (PSD), com o MDB”, declarou. Na quarta-feira, o dirigente participou de encontro da executiva estadual da sigla para referendar o nome de Vieira da Cunha. “Ele tem história dento do partido. Por isso, estamos lançando.”

Para o secretário-geral do PT, Carlos Pestana, a possibilidade maior de composição é num eventual segundo turno, envolvendo algum dos candidatos da esquerda. Pestana disse que Albuquerque tem “total legitimidade” para disputar o governo do Estado. Mas o PT não abre mão da candidatura própria, segundo ele, porque tem mais estrutura e mais tradição eleitoral no Rio Grande do Sul.

“Com a eleição polarizada, nossa avaliação é de que um candidato com a cara do Lula tem condições mais favoráveis de chegar ao segundo turno”, justificou Pestana.

O partido também convidou formalmente a ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB) para ser candidata ao Senado, mas ainda não obteve resposta.

O deputado federal Paulo Pimenta, que deve coordenar a campanha de Lula à Presidência no Rio Grande do Sul, disse que vai continuar insistindo numa chapa unitária com os socialistas gaúchos, tendo o deputado estadual petista Edegar Pretto como candidato ao governo. Para ele, o PSB tem dever de abrir o palanque estadual ao presidenciável do PT. “O partido tem de resolver essa questão internamente, pois não é possível apoiar outro nome compondo a mesma chapa”, afirmou. E completou: “Beto Albuquerque seria um ótimo candidato ao Senado.”

Valor Econômico