Bolsonaro promete pôr seus fanáticos na rua

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O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse nesta terça-feira, 7, que seus apoiadores já organizam uma nova manifestação de 7 de Setembro neste ano para “sensibilizar o Judiciário”, a menos de um mês do primeiro turno das eleições, e demarcar seu lado na disputa. A data representou um divisor de águas no governo, no ano passado, porque à época o presidente chamou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes de “canalha” e ameaçou descumprir decisões da Corte.

Bolsonaro afirmou nesta terça-feira que Moraes não cumpriu o acordo firmado depois – sem dizer os termos do acerto – e continua perseguindo seus aliados. Na ocasião, os insultos provocaram forte impacto no meio político, a oposição levantou a bandeira do impeachment e Bolsonaro teve de fazer um recuo estratégico, auxiliado pelo ex-presidente Michel Temer. Mas não durou muito.

Pré-candidato a mais um mandato, e em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, Bolsonaro fez questão de dizer que, neste novo 7 de Setembro o povo dará uma “demonstração pública” do lado em que está e dirigiu estocadas na direção do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as sondagens eleitorais.

“Eles estão do lado da ordem, do lado da lei, do lado da ética, da Constituição, da democracia. É isso que eles querem”, afirmou Bolsonaro, em entrevista ao SBT News, citando uma série de temas caros a seu eleitorado mais fiel, como a defesa da família e a pauta anti-aborto. “Enquanto (isso), do outro lado, o outro candidato não consegue juntar gente em nenhum lugar do Brasil”, emendou, numa referência a Lula, seu principal adversário.

Críticas a ministros do STF

Em mais de uma hora de entrevista, o presidente teceu várias críticas a ministros do Supremo, afirmou que Alexandre de Moraes descumpriu acordo costurado por Temer, após a tensão do 7 de Setembro de 2021, e disse que uma parte do Judiciário quer “minar a liberdade de expressão”.

Depois da crise provocada por Bolsonaro na manifestação do ano passado na Avenida Paulista, Temer foi chamado às pressas ao Palácio do Planalto e redigiu uma “Declaração à Nação” para o presidente divulgar. No texto, Bolsonaro dizia não ter tido intenção de agredir os Poderes. Foi uma espécie de trégua, há muito tempo expirada, nos ataques ao Judiciário.

“Estava (sic) eu, Michel Temer e um telefone celular na minha frente. Ligamos para Alexandre de Moraes e conversamos três vezes com ele. E combinamos certas coisas para assinar aquela carta. Ele não cumpriu nenhum dos itens que combinei com ele”, afirmou Bolsonaro, que acusou Moraes de perseguir seus apoiadores.

Como exemplo, o presidente citou o caso do deputado estadual Fernando Francischini (União Brasil-PR), cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por disseminação de notícias falsas contra as urnas eletrônicas. “A opinião de Francischini sobre as urnas é exatamente igual à minha”, disse Bolsonaro.

O ministro do STF Kassio Nunes Marques derrubou a cassação com uma canetada, na semana passada. O assunto passará, nesta terça-feira, pelo crivo da Segunda Turma da Corte. Nunes Marques e seu colega André Mendonça – dois ministros indicados por Bolsonaro – estão atuando em dobradinha nesse caso.

“Se você analisar os fatos dos últimos dois anos, você vê que uma parte do Poder Judiciário foca em cima de minar a liberdade de expressão. Você viu prisão de parlamentar, que não pode ser preso por palavras e opiniões, sejam elas quais forem”, argumentou Bolsonaro, numa alusão ao deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), condenado a oito anos e nove meses de prisão pelo STF e beneficiado pelo perdão presidencial.

Em ataque aos ministros da Corte, Bolsonaro disse que age para que a “liberdade” seja respeitada, “e não a vontade de duas ou três pessoas”, em Brasília. “Essas pessoas abusam porque querem minar a nossa candidatura para facilitar o outro lado. O que fazem com o pessoal de direita, não fazem com o pessoal de esquerda”, declarou, em mais uma referência a Moraes; ao presidente do TSE, Edson Fachin, e ao ministro Luís Roberto Barroso, que antecedeu o colega no cargo.

Em mais uma tentativa de lançar dúvidas sobre o processo eleitoral, Bolsonaro disse que “não tem cabimento” o TSE ser presidido por Fachin. “O próprio ministro Fachin foi relator do processo que botou o Lula em liberdade. Não tem cabimento ele estar à frente do TSE e ter adotado as condutas que vem adotando”, destacou. Na sua avaliação, o magistrado age “com irresponsabilidade” para beneficiar Lula, ao lado de Moraes e Barroso.

Na prática, as críticas de Bolsonaro fazem parte de uma estratégia. Ao longo dos últimos meses, o presidente tem procurado construir um discurso que sirva como “vacina” para explicar eventual derrota nas urnas.

“Nós queremos eleições limpas e dá tempo ainda de termos eleições limpas. Não podemos terminar as eleições sobre o manto da desconfiança, de modo que o lado perdedor fique revoltado”, insistiu Bolsonaro. Ao mesmo tempo em que fustigou Fachin, Moraes e Barroso, o presidente elogiou a atuação de André Mendonça e Nunes Marques. “Raramente discordo”, comentou.

Estadão