Collor se aliou a todos os presidentes de Lula para cá

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Foto: Helvio Romero / Agência Estado

Antes cotado para tentar a reeleição ao Senado, o ex-presidente Fernando Collor (PTB) lançou nesta terça-feira sua pré-candidatura ao governo de Alagoas com acenos a Jair Bolsonaro (PL), na esperança de receber apoio explícito do chefe do Planalto. O movimento reflete nova tentativa de aproximação com o governo federal, uma marca do histórico político de Collor, que já apoiou os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Dilma Rousseff (PT), Michel Temer (MDB) e tentou atrair o tucano Fernando Henrique Cardoso.

Em vídeo divulgado para o lançamento da pré-candidatura, Collor afirma que a campanha “nasce com apoio do presidente Jair Bolsonaro” e cita projetos do atual governo, como o Auxílio Brasil e o programa habitacional “Casa Verde e Amarela”. Com isso, como mostrou O GLOBO, a intenção é atrair o eleitorado bolsonarista e prefeitos ligados ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

Além disso, o senador tenta explorar a falta de palanque para Bolsonaro no estado, já que o nome apoiado por Lira ao governo alagoano, o senador Rodrigo Cunha (União), já afirmou que não dará espaço para o presidente.

O alinhamento à direita e ao bolsonarismo, no entanto, se opõe à decisão tomada por Collor ainda em 1998. Naquele momento, depois de renunciar ao Planalto — em razão do impeachment sofrido seis anos antes — e ter seus planos de concorrer novamente frustrados pela Justiça, disse que votaria em Lula para a Presidência, por meio de declarações à imprensa. Na época, justificava que o petista, considerado um “companheiro”, era o único nome que exercia efetiva oposição ao então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), reeleito naquele pleito.

Anos antes, no entanto, ele já havia tentado uma aproximação com FH. Ainda em campanha para as eleições de 1990, Collor chegou a oferecer ao tucano, sem sucesso, o lugar de vice-presidente na sua chapa. Mais tarde, já eleito, o alagoano voltou a convidar Fernando Henrique para ser seu ministro das Relações Exteriores, mais uma vez sem êxito.

Nas eleições gerais de 2006, Collor se candidatou ao Senado pela primeira vez e voltou a buscar aproximação com Lula, que naquele ano concorria à reeleição. Em entrevista a um veículo alagoano, ele disse que o petista, por ser nordestino, conhecia “nossas raízes e nossas carências e tem agido rápido no atendimento aos pleitos do Nordeste”.

Quatro anos depois, o senador alagoano seguiu com o PT e tentou colar sua imagem na então candidata do partido, Dilma Rousseff. Em 2010, apesar de não citar a petista e Lula em seu horário eleitoral gratuito, mencionava o nome da dupla em comícios e caminhadas no interior de Alagoas.

O apoio se manteve durante a campanha à reeleição de Dilma, desde o primeiro turno, em 2014. Pouco antes do segundo turno, a petista esteve em Maceió, onde subiu em palanque com o governador alagoano eleito naquele ano, Renan Filho (MDB), e com o senador reeleito Fernando Collor.

Em fevereiro de 2014, ele havia publicado, em seu perfil no Twitter, que Dilma em Alagoas reforçava “a importância da presença do governo federal no estado”, ao elogiar os investimentos federais em seu território político.

 

A aliança, no entanto, chegou ao fim em 2016. Alvo de impeachment em 1992, o senador Collor deu voto favorável à abertura do processo que, mais tarde, também tiraria a petista da Presidência. No discurso, criticou duramente o governo do PT e fez críticas ao processo do qual foi alvo, 24 anos antes. O posicionamento acabou por aproximá-lo de quem assumiu o lugar da petista.

Em abril de 2016, quando o processo contra Dilma ainda corria no Senado, ele se encontrou com Michel Temer (PMDB) como líder de um grupo de dez senadores para apresentar uma proposta de “reconstrução nacional”. O encontro também foi compartilhado em suas redes sociais.

 

A postura maleável de Collor se estende também para seu reduto político. Hoje adversário da família Calheiros, que tenta manter o controle do estado, o senador teve em Renan um dos principais artífices de sua candidatura à Presidência, em 1990.

A boa relação dos dois, inclusive, começou anos antes, quando Renan e Collor ocupavam cadeiras na Câmara dos Deputados. Foi o cacique do atual MDB, inclusive, quem abriu as portas do PMDB para Collor quando ele quis disputar o governo de Alagoas, em 1986.

Em seguida, já eleito no estado, Collor seguiu com Renan em seu grupo político, que já articulava sua candidatura à Presidência. O emedebista esteve, inclusive, com Collor em comitiva que foi à Pequim, na China, em 1987, em jantar que começou a preparar a corrida pela Presidência. A missão de Renan, naquele momento, era dialogar com a classe política em favor do aliado.

Em 1990, já durante o governo Collor, Renan ficou com a liderança na Câmara e a difícil tarefa de articular a aprovação das medidas provisórias do Plano Collor. O rompimento veio justamente naquele ano, quando Renan não recebeu o apoio do aliado para a disputa ao governo alagoano e foi derrotado. Já na CPI do caso PC Farias, em 1992, Renan deu longo e crítico depoimento e disse que Collor sabia do esquema de PC na Presidência da República.

Mais recentemente, o senador tem se aproximado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), outro personagem da disputa de forças políticas em Alagoas. Aliado de Jair Bolsonaro, Lira esteve com Collor em novembro de 2021 na entrega de uma subsistema do Canal do Sertão, na cidade alagoana de Água Branca. O então ministro do Desenvolvimento Regional de Bolsonaro, Rogério Marinho, também esteve presente, em registro compartilhado nas redes do deputado.

 

Meses antes, em setembro, Collor e Lira já haviam estado juntos com o presidente Jair Bolsonaro na cerimônia de entrega do Residencial Dr. Marcelo Vilela, no município alagoano de Teotônio Vilela.

O Globo