Delegado da PF insinua interferência de Bolsonaro
Foto: Divulgação/Presidência da República
Integrantes da Polícia Federal têm mostrado receio de que o procedimento aberto para investigar se houve interferência na operação que mirou o ex-ministro Milton Ribeiro seja usado para punir o delegado Bruno Calandrini, responsável pelo caso.
A corporação instaurou a investigação interna depois que o jornal “Folha de S. Paulo” revelou mensagens enviadas por Calandrini em um grupo de WhatsApp com colegas. Nelas, disse que a operação teria sido “prejudicada” por causa de um “tratamento diferenciado” dado ao ex-ministro da Educação.
A avaliação feita por diversos integrantes da corporação é que dificilmente a cúpula do órgão abriria um procedimento para punir a si própria. Esses investigadores relataram também que essa apuração interna pode abrir brechas para apontar supostos problemas na coordenação do caso por parte de Calandrini, e assim, aplicar alguma punição contra ele. Uma medida nessa linha ajudaria cúpula a se eximir de qualquer ingerência ou erro e também terceirizar a responsabilidade pelos problemas detectados.
Membros da diretoria da PF afirmam que o objeto central da investigação é mostrar que a corporação agiu de maneira isenta. Para eles, a necessidade de comprovar essa isenção aumentou após áudios da própria operação indicarem que Milton Ribeiro teria sido alertado sobre a ação policial pelo presidente Bolsonaro.
Outro fator que desperta desconfiança entre os policiais é a justificativa da PF de falta de recursos para transferir o ex-ministro de São Paulo para Brasília, onde o delegado iria ouvi-lo. Investigadores admitem, porém, que pode ter ocorrido dificuldade para organizar a logística de um avisão da corporação que deveria trazê-lo, já que o mandado de prisão teria chegado à PF na véspera da ação.
Como informou O GLOBO nesta terça-feira, Calandrini vai deixar o grupo da PF de Brasília responsável pelas investigações contra políticos com foro privilegiado, o Cinq (Coordenação de Inquéritos). De acordo com o órgão, o investigador já havia pedido para deixar essa coordenação no início de maio, antes da deflagração da ação que resultou na prisão de Milton Ribeiro. A sua saída foi autorizada com a condição de que ele continue à frente desse inquérito.