Emissário de Lula fala a empresários sobre orçamento e câmbio

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Foto: Reprodução

Enquanto participa de conversas genéricas com representantes do mercado e tem diretrizes pouco precisas em seu programa de governo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva escalou o ex-ministro da Saúde e hoje deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) para apresentar a empresários e investidores posições mais aprofundadas do que poderia ser um eventual governo do PT na economia.

Nas conversas, Padilha tem ouvido a brincadeira de que tem características parecidas com o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci. O parlamentar, de iniciais AP, como Palocci, também é médico. Além disso, assim como o antecessor, é elogiado pela capacidade de diálogo com diversos segmentos da sociedade. Não está claro ainda quem seria o homem forte de Lula na economia, e essa é a informação que gera a maior curiosidade do mercado neste momento. O entorno do ex-presidente acredita que um político, e não um economista, será escalado para a função já no início do próximo mês.

Encontros com investidores nos Estados Unidos e jantares com empresários, como os ligados ao grupo Esfera Brasil, estiveram na agenda de Padilha nos últimos três meses. Neles, o ex-ministro vem sendo questionado sobre como são diferentes as circunstâncias de 2003, primeiro ano do governo Lula, e 2023. Agora, lembram interlocutores, o Banco Central é autônomo, limitando o uso de instrumentos monetários; e o orçamento está cada vez mais dominado pelo poder do Congresso Nacional, seja com as tradicionais emendas parlamentares ou o chamado orçamento secreto.

No caso do engessamento das verbas da União, Padilha tem dito a quem lhe pergunta que Lula não acabará com o orçamento secreto com uma canetada, se for eleito. A estratégia será a de buscar por meio do diálogo que o Supremo Tribunal Federal (STF) proíba a prática sem que o Executivo precise se desgastar com a medida. Aliados de Lula no Congresso, como o senador Renan Calheiros (MDB-AL), também avaliam que essa será a melhor forma de acabar com o orçamento secreto, chamado ontem de “escândalo” pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann.

Sobre a atuação de um Banco Central em um hipotético governo do PT, os sinais têm gerado mais dúvidas no mercado. Padilha afirma que a autonomia aprovada em lei no governo Jair Bolsonaro será respeitada. De fato, enquanto vem se comprometendo a revogar o teto de gastos e rever parte da reforma trabalhista, Lula em nenhum momento até agora afirmou que pretende mexer na legislação que garante a presença de Roberto Campos Neto no comando do Banco Central em 2023.

As diretrizes do programa de governo e falas de Lula sobre o câmbio, no entanto, apontam para a necessidade de medidas interventoras da autoridade monetária e contradizem as regras atuais. No texto divulgado no início do mês, o PT sugere “reduzir a volatilidade da moeda brasileira por meio da política cambial” como forma de “amenizar os impactos inflacionários de mudanças no cenário externo”. Anteontem, segundo o colunista Lauro Jardim, em jantar com empresários em São Paulo na casa do advogado Sérgio Renault, Lula falou em uma taxa de câmbio ideal de R$ 4,70. Ontem, o dólar fechou em R$ 5,19.

O encontro na noite de terça-feira reuniu cerca de 30 pessoas, como João Camargo (Grupo Esfera), Pedro Silveira (ex-XP), Carlos Sanchez (EMS), Cândido Pinheiro (Hapvida), Matheus Santiago (Ageo Terminais) e Rosângela Lyra (ex-representante da Dior no Brasil). Lula foi acompanhado do ex-governador de São Paulo e pré-candidato a vice, Geraldo Alckmin.

Segundo relatos dos presentes, Alckmin falou das reformas promovidas pelo governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), seu ex-colega de partido e, em seguida, destacou como as iniciativas de Lula foram de continuidade às da gestão tucana. No jantar, o ex-presidente emendou dizendo que as disputas entre PT e PSDB eram de alto nível, elogiou Alckmin e disse que o vice terá papel de destaque em eventual governo.

O Globo