Lula esvazia Tebet e se alia a MDB do Nordeste

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Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação

De olho na manutenção da distância para o presidente Jair Bolsonaro no Nordeste, segundo maior colégio eleitoral do país, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) inicia estratégia para consolidar aliança com caciques do MDB e também fortalecer o discurso contra a fome na região mais afetada pela insegurança alimentar.

Em giro de três dias pelos Estados do Rio Grande do Norte, Alagoas e Sergipe, iniciado ontem com visita a Natal, Lula procura reforçar estrategicamente a paternidade do Bolsa Família e da transposição do Rio São Francisco.

O Auxílio Brasil, lançado por Bolsonaro em substituição ao Bolsa Família, ainda não surtiu o efeito eleitoral esperado pelos aliados do presidente. O núcleo da pré-campanha do petista avalia que é preciso reforçar o legado lulista no Nordeste para manter a fidelidade de grande parte dos eleitores que recebem o benefício. Por isso, a visita neste momento é considerada bastante importante.

Pesquisa mais recente do Datafolha, divulgada no fim de maio, indica que a maioria dos beneficiários do programa vai votar no petista. Segundo o levantamento, 59% daqueles que recebem o benefício indicam voto em Lula contra 20% de Bolsonaro.

É a primeira vez que Lula e Alckmin, companheiro de chapa e adversário histórico do petista no passado, estarão juntos na região.

Um dos objetivos do périplo pelo Nordeste é também o fortalecimento da união com lideranças do MDB que não apoiam a pré-candidatura da senadora Simone Tebet (MDB) à Presidência da República.

No Rio Grande do Norte, por exemplo, o deputado federal Walter Alves, filho de Garibaldi Alves, ocupa a vice na chapa encabeçada pela petista Fátima Bezerra. Ele deixou o comando do Estado em abril para tentar a reeleição.

Na noite de hoje, em Alagoas, em ato político aberto ao público, Lula estará ao lado do ex-governador Renan Filho, que concorre ao Senado, e do pré-candidato Paulo Dantas (MDB). O senador Renan Calheiros (MDB), que também estará presente, liderou a mal sucedida articulação na legenda para retirada da pré-candidatura da senadora Simone Tebet.

Ao lado do ex-senador Eunício Oliveira, Renan é um dos principais defensores do apoio da sigla a Lula já no primeiro turno das eleições.

No encontro com os Calheiros, o petista pretende reforçar, às vésperas da convenção partidária que deve oficializar o nome da senadora Simone Tebet (MS) como pré-candidata, a imagem de que parte significativa do MDB está o apoiando.

Em Alagoas, o partido integrou o primeiro escalão do governo de Renan Filho, que deixou o cargo em abril para disputar o Senado. No Estado, onde os petistas não têm expressão, a prioridade da sigla é reeleger o deputado federal Paulo Fernando do Santos, conhecido como Paulão.

O PT e o MDB já consolidaram alianças de apoio ao ex-presidente em pelo menos sete dos nove Estados do Nordeste. Os dois partidos vão estar no mesmo palanque em Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Maranhão, Piauí e Bahia. Devem ficar de fora apenas Ceará e Sergipe.

Em Aracaju, o ex-presidente participa do lançamento da pré-candidatura ao governo do Estado do senador Rogério Carvalho. O ex-deputado Valadares Filho (PSB) vai concorrer ao Senado.

Nos bastidores, a ausência de Pernambuco do roteiro de Lula na região estimulou especulações sobre apoio exclusivo ao pré-candidato ao governo Danilo Cabral (PSB).

No Estado, o PSB tem como principal adversária a ex-petista Marília Arraes (Solidariedade). Ela deixou o PT após disputas internas com o senador Humberto Costa (PT), um dos principais fiadores da aliança entre PT e PSB em Pernambuco. O Solidariedade integra o arco de sete partidos que apoiam a pré-candidatura do ex-presidente Lula.

A deputada Marília Arraes, mesmo sem o apoio formal do ex-presidente, tem centrado a estratégia da pré-campanha na ligação dela com o petista.

Lula já declarou que o seu candidato em Pernambuco é Danilo Cabral, mas ressaltou que não vai impedir que a parlamentar use a sua imagem durante o período eleitoral. Esta postura do ex-presidente tem irritado uma ala do PSB local. Integrantes do partido avaliam que a associação de Marília a Lula, com alta popularidade no Estado, pode custar a eleição do PSB.

Interlocutores petistas indicaram em reserva que Lula não incluiu Pernambuco na agenda desta vez porque espera soluções para impasses eleitorais em São Paulo e no Rio Grande do Sul. Nos dois Estados, PT e PSB, principais aliados no plano nacional, têm pré-candidaturas próprias ao governo.

Valor Econômico