Ataques bolsonaristas a juiz e a Lula cria tensão no país

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Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress

Episódios ligados a ameaças, ataques e tensão relacionados à pré-campanha eleitoral têm se acumulado no Brasil. Só nesta quinta-feira, por exemplo, o país viu um ataque a um juiz federal e a um ato com o ex-presidente Lula (PT). Dias atrás, militantes de esquerda impediram uma palestra de políticos de direita.

Também nesta semana, o ministro Edson Fachin, presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), disse que o Brasil pode ter nas eleições deste ano um episódio ainda mais grave do que a invasão do Congresso dos EUA, em 6 de janeiro de 2021.

“Nós poderemos ter um episódio ainda mais agravado do 6 de janeiro daqui do Capitólio. Nós entendemos que há seis condições fundamentais para evitar que isso aconteça no Brasil”, disse Fachin, durante uma conversa no Wilson Center, em Washington, na quarta (6).

Fachin, no entanto, não detalhou como o caso brasileiro poderia ser pior.

A polarização eleitoral entre Bolsonaro e Lula e a perspectiva de uma disputa acirrada levaram a Polícia Federal a reforçar o esquema de segurança de candidatos à Presidência para este ano.

Até 2018, a PF fazia a proteção dos candidatos com base em lei e portaria sucinta do Ministério da Justiça, que tratava genericamente da necessidade de a corporação proteger aqueles que disputassem o Palácio do Planalto.

Após o pleito, marcado pela facada a Bolsonaro e ameaças à campanha de Fernando Haddad (PT), a polícia editou instrução normativa específica para a segurança dos candidatos à Presidência com diretrizes que devem ser seguidas pelos agentes e com recomendações claras aos políticos que vão concorrer.

Relembre a seguir alguns desses casos, em meio a mais uma eleição polarizada no país.


BOMBA CASEIRA EM ATO DE LULA

Um ato com apoiadores do ex-presidente Lula na Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro, foi alvo na noite desta quinta-feira (7) de um artefato explosivo que agravou a tensão na pré-campanha do petista, alvo de seguidos episódios de ataques nos últimos meses.

A bomba caseira, aparentemente feita de garrafa PET, foi lançada do lado de fora da área isolada em frente ao palanque, antes da chegada de Lula.

Segundo a Polícia Militar do Rio, “um homem infiltrado no ato” foi detido e conduzido à delegacia após ter arremessado “um artefato explosivo de festas juninas” na área cercada pelo palco.

O suspeito foi autuado em flagrante por crime de explosão. Aos policiais civis ele admitiu ter jogado uma garrafa com explosivo de festa junina e urina.

A explosão ocorreu ao lado dos banheiros químicos —e seguida de um cheiro ruim sobre a área.

O juiz federal Renato Borelli, que decretou a prisão do ex-ministro Milton Ribeiro em junho, foi alvo de um ataque nesta quinta-feira (7).

O carro do juiz foi atingido por fezes de animais, ovos e terra, em Brasília. O ataque ocorreu enquanto Borelli dirigia o veículo, saindo de casa em direção ao trabalho.

O material foi arremessado no para-brisa. Mesmo com a visibilidade prejudicada, Borelli conseguiu seguir até um local seguro. Ele não se feriu.

O ataque foi relatado ao TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região). O caso foi revelado pelo O Antagonista e confirmado pela Folha.

Renato Borelli é juiz federal da 15ª Vara de Justiça Federal de Brasília. Foi ele quem autorizou a Operação Acesso Pago, da PF (Polícia Federal), que prendeu Milton Ribeiro e outros quatro, em 22 de junho, por suspeitas de corrupção no Ministério da Educação.

Logo após a prisão, Borelli recebeu centenas de ameaças de grupos de apoio ao governo Jair Bolsonaro (PL), que foram comunicadas à PF no dia seguinte à operação.

O protesto que impediu o vereador paulistano Fernando Holiday e outros pré-candidatos do partido Novo de falar em evento na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) trouxe à tona novamente o debate sobre quão tolerantes com opiniões divergentes são alguns setores da esquerda.

O grupo do Novo falaria em evento sobre cotas e financiamento organizado pela UJL (União Juventude e Liberdade), entidade estudantil liberal, no dia 29 passado.

Sob o som de tambores e os dizeres “recua, fascista, recua, a Unicamp nunca vai ser sua”, estudantes ligados à UJC (União da Juventude Comunista) protestaram contra a presença dos palestrantes, que disseram ter sido agredidos e que tiveram o microfone cortado.

Após o tumulto, o evento acabou não acontecendo.

Procurada pela Folha, a universidade condenou o ocorrido. “A Unicamp é historicamente reconhecida como um espaço aberto ao debate de ideias, onde as divergências sempre estiveram subordinadas ao respeito às diferenças”, disse a instituição em nota.

O agropecuarista Rodrigo Luiz Parreira, 38, apontado como um dos autores do ataque com drone a um ato com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, foi preso no início deste mês a pedido do MPF (Ministério Público Federal), que investiga o caso.

A prisão ocorreu não diretamente por causa do uso do drone, mas pela aquisição irregular de armas de fogo identificada pelo MPF. Rodrigo está no Presídio Uberlândia 1, segundo a Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública).

O agropecuarista já tem condenação por estelionato em Minas Gerais e por roubo em Goiás.

O ato com Lula em Uberlândia aconteceu no dia 15 de junho e teve também a presença do ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD). Foi a primeira aparição conjunta depois do anúncio da aliança dos dois partidos em Minas Gerais para a disputa das eleições de 2022.

Rodrigo e outros dois homens utilizaram o drone para lançar um líquido que seria veneno para matar moscas sobre militantes que aguardavam o início do ato. O produto é utilizado no meio rural em estábulos, por exemplo. Atingidos afirmaram que o líquido tinha cheiro de fezes e urina.

Os três foram detidos em flagrante no dia do ato por uso irregular de drone e liberados depois de assinarem um termo circunstanciado de ocorrência. Não havia licença para a operação do aparelho, que foi apreendido.

Em junho, o ato de lançamento das diretrizes do programa de governo da chapa Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSB), nesta terça-feira (21), em São Paulo, foi marcado pelo protesto de bolsonaristas que entraram no local.

O manifestante Caíque Mafra, pré-candidato a deputado estadual em São Paulo pelo Republicanos, entrou no salão do evento, em um hotel nos Jardins (região central), durante os minutos finais da fala de Lula e chamou o ex-presidente de corrupto. O petista foi surpreendido, mas não deu resposta.

O bolsonarista também gritou em direção a Alckmin uma frase sobre “voltar para a cena do crime”, em alusão a uma fala do ex-governador sobre o PT quando ainda era adversário.

O grupo de manifestantes era formado por outros dois detratores do petista. Eles foram encaminhados para a delegacia. Em uma rede social, Mafra confirmou que era ele na cena e escreveu: “Questionei o corrupto do Lula e o Alckmin por sua fala e também chamei o corrupto de corrupto”.

Após o protesto, os manifestantes foram retirados por assessores e seguranças, e a polícia foi chamada. Lula chegou a interromper sua fala e abreviou seu discurso. Alckmin ficou em silêncio, com o semblante sério. “Eu nem sei o que…”, disse o petista sobre a situação, virando-se para o vice.

Em maio, o carro em que estava o ex-presidente Lula foi cercado por bolsonaristas na cidade de Campinas, interior de São Paulo.

Usando camisetas da seleção brasileira de futebol e segurando bandeiras do Brasil, o grupo xingou o petista enquanto o veículo em que ele estava tentava passar.

A manifestação ocorreu em frente a um condomínio onde Lula esteve no local para um almoço. O incidente ocorreu no momento em que ele deixava o local.

Nas imagens, o momento mais agitado ocorre quando um dos seguranças de Lula retira uma faixa que estava pendurada em um carro estacionado. Na faixa estava escrito “Lula Lixo”. Alguns manifestantes perseguiram o segurança com xingamentos, o que elevou a tensão.

Folha