Bolsonaro gastará 31 vezes mais nesta eleição

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Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo

A campanha à reeleição do presidente Jair Bolsonaro quer gastar todos os R$ 88,3 milhões estabelecidos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como teto para a disputa presidencial em 2022. O valor é 31 vezes maior do que o atual presidente usou para se eleger em 2018, quando declarou despesas da ordem de apenas R$ 2,8 milhões.

A maior parte dos recursos deve ser custeada pelo PL, partido comandado pelo ex-deputado Valdemar Costa Neto, mas Bolsonaro e seus aliados devem iniciar uma mobilização em busca de doações junto a empresários próximos, com objetivo de complementar o restante do valor.

Antes de o TSE estabelecer esse teto, uma ala do PL havia considerado, inclusive, um teto maior para a campanha do atual presidente. Interlocutores do PL falavam em uma faixa de gastos que poderia variar entre R$ 80 milhões e R$ 150 milhões. O entorno mais próximo de Bolsonaro diz, no entanto, que o valor de referência sempre foi o limite estabelecido para as eleições de 2018, que ficou em R$ 70 milhões, valor agora corrigido pela inflação.

Apesar das estimativas generosas, Bolsonaro terá de disputar recursos com as diversas campanhas que o PL bancará em todo o país. Já é certo que a legenda de Bolsonaro não poderá se responsabilizar por todo o montante gasto na campanha presidencial justamente porque precisará enviar recursos do fundo eleitoral para seus outros candidatos. Nas contas preliminares, o partido tem ao menos uma dezena de candidaturas para o Senado e ao menos 13 nomes para governos estaduais.

Por causa desse cenário, o núcleo da campanha bolsonarista já tem pronto um site de campanha destinado a facilitar o recebimento de doações de pessoas físicas, já que as doações empresariais continuam vedadas pela legislação. Ainda assim, a expectativa de aliados do presidente é que as doações mais significativas sejam feitas por “empresários amigos” de Bolsonaro, que o apoiaram em 2018 e continuaram frequentando o Palácio do Planalto desde então.

Neste sentido, de acordo com fontes dentro do governo, já há uma mobilização nos bastidores para que os principais nomes do agronegócio brasileiros ajudem a bancar a campanha de Bolsonaro. Alguns contatos já foram feitos, inclusive.

O setor mantém relação próxima com o Planalto e, em seus discursos, Bolsonaro faz sempre questão de pontuar as políticas públicas de sua administração voltadas ao campo. Na última semana, por exemplo, o Executivo lançou o Plano Safra 2022/23 com valores recordes.

O problema é que, de acordo com as regras estabelecidas pelo TSE, os eleitores só podem doar aos candidatos de sua preferência valores que correspondam a até 10% da renda bruta anual declarada à Receita Federal, considerado o ano-calendário anterior ao pleito. A regra acaba funcionando como um limite para que os empresários bolsonaristas demonstrem consideração para com o atual mandatário.

A operação para arregimentar recursos está sendo capitaneada hoje por ao menos dois nomes de peso do entorno de Bolsonaro: o próprio Valdemar Costa Neto, ex-deputado e presidente do PL que já foi preso e condenado no âmbito do escândalo do mensalão, e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho mais velho do presidente da República e um dos coordenadores da campanha.

A preocupação deles com recursos financeiros deve-se principalmente ao diagnóstico de que um dos maiores gastos da campanha presidencial será com logística, mais especificamente combustível para o transporte de Bolsonaro pelas diversas regiões do país. O querosene de aviação é um dos itens que mais sofreram com as altas nos preços e, ironicamente, também deve pesar na campanha do presidente.

Caso haja segundo turno, a campanha bolsonarista poderá gastar mais R$ 44,17 milhões, de acordo com o determinado pelo TSE. O valor é o mesmo que já havia sido estipulado para o último pleito presidencial, a Corte apenas atualizou as despesas pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Valor Econômico