Casamento homossexual sobe e tem mais aprovação no país

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Em meio ao crescimento da identificação com a direita no governo do presidente Jair Bolsonaro, a maioria dos brasileiros tem posicionamentos conservadores em temas como redução da maioridade penal (70% a favor) e legalização do aborto (73% é contra), mas se posiciona contra a pena de morte (53%) e apoia tanto o casamento entre pessoas do mesmo sexo (49%) quanto, ainda de forma mais intensa, a adoção de crianças por casais homoafetivos (56%). Nova plataforma do GLOBO para pesquisas de opinião, o Pulso apresenta um retrato de como pensa a população sobre assuntos debatidos na sociedade, revelado pela pesquisa anual “A cara da democracia”, divulgada neste domingo.

Os dados apontam que as opiniões estão mais cristalizadas desde 2018 quando o assunto é aborto. Apenas 16% dos entrevistados apoiam a legalização, patamar próximo ao dos anos anteriores. Segundo a pesquisa, a concordância com a legalização é maior entre entrevistados que cursaram o ensino superior, ainda que o índice de contrários ao aborto continue alto nesse segmento. Nesse grupo, o índice chega a 25%. A maioria dos brasileiros (58%), por outro lado, declarou ser contra a prisão de mulheres que interrompem a gravidez.

O apoio à redução da maioridade penal registra tendência de queda nos últimos anos, ainda que continue a ter alta adesão entre os brasileiros. O índice passou de 81%, em 2018, para 70% no último levantamento. Os entrevistados com menor escolaridade apoiam menos a medida (62%). Já a concordância com o discurso de que “bandido bom é bandido morto” alcança 59% dos entrevistados, enquanto 38% discordam.

O que pensam os brasileiros sobre temas debatidos na sociedade. Pesquisa "A cara da demoracia" 2022 /IDDC/INCT — Foto: Arte / O Globo

O que pensam os brasileiros sobre temas debatidos na sociedade. Pesquisa “A cara da demoracia” 2022 /IDDC/INCT — Foto: Arte / O Globo

Conduzida pelo Instituto da Democracia (IDDC-INCT), a pesquisa entrevistou presencialmente 2.538 eleitores em 201 cidades em todas as regiões do país entre os dias 4 e 16 de junho, e foi financiada pelo CNPq e Fapemig. A margem de erro total é de 1,9 ponto percentual, e o índice de confiança é de 95%.

Professor de Ciência Política da UnB, Lucio Rennó destaca que a oposição à legalização do aborto passa por crenças religiosas, enquanto o apoio à redução da maioridade penal sinaliza como a temática de segurança pública, pela via do combate à violência e criminalidade, é marcante para a população brasileira. O pesquisador avalia se tratar de uma novidade nos últimos anos o papel de Bolsonaro em alinhar essas preferências dos brasileiros.

— Bolsonaro mobilizou diversos desses temas e se transformou num porta-voz dessas preferências mais conservadoras da população brasileira. Há um alinhamento que a gente não tinha visto antes na nossa história política recente. E isso está na base da cristalização de um voto bolsonarista significativo que dificulta o crescimento da terceira via mais à direita. Bolsonaro trata, por exemplo, com mais naturalidade da questão do aborto, que é mais delicada de ser apresentada por candidaturas alinhadas a posições mais progressistas sobre o tema, pelo elevado grau de rejeição na população — conclui Rennó.

Apesar da predominância de posições mais conservadoras na população, os dados da pesquisa “A cara da democracia” registram uma inversão na opinião dos brasileiros sobre o casamento gay e a adoção de crianças por casais homoafetivos nos últimos anos. Hoje, 49% defendem a união entre pessoas do mesmo sexo, enquanto 44% se declararam contra. Em 2018, primeiro ano do levantamento, 38% dos entrevistados afirmaram ser a favor do casamento gay, e 51% contrários.

As mulheres apoiam mais que os homens o casamento gay e a adoção. Ao todo, 56,2% delas são favoráveis, contra 41% dos homens. O apoio também é maior entre quem tem mais renda (55%) e ensino superior (61%).

Uma mudança ainda maior foi observada na percepção sobre a adoção de crianças por casais do mesmo sexo. O apoio passou de 37% para 56% em quatro anos. Entre as mulheres e quem tem ensino superior, esse índice chega a 64%. Na segmentação por região, a Norte é a que registra a taxa mais baixa a favor da adoção (46%), enquanto o Sudeste, a mais alta (62%). Sul (54%), Nordeste (52%) e Centro-Oeste (49%) e completam lista.

Também houve uma inversão quando o assunto é pena de morte. Hoje, mais da metade da população é contra essa pena, e 41% a favor. Há quatro anos, os brasileiros estavam mais divididos no tema (42% se declararam contra e 43% a favor). Nesse caso, também há um descolamento no recorte por gênero. Ao todo, 57% das mulheres são contra a pena de morte, enquanto entre os homens o percentual é de 49%. O Sul (48%) é a região mais favorável, seguido por Sudeste (42%), Norte (40%), Nordeste (37%) e Centro-Oeste (36%).

Na área ambiental, os brasileiros também são contra a liberação de mais agrotóxicos (83%) e a permissão para mineração nas terras indígenas (72%), temas caros ao bolsonarismo. No campo da educação, por outro lado, seguem com alto apoio a militarização das escolas (67%) e a avaliação de que as escolas devem ensinar as crianças a rezar e acreditar em Deus (84%). Os brasileiros também são majoritariamente contrários à legalização das drogas (67%).

Posicionamento dos brasileiros sobre temas polêmicos. Pesquisa "A cara da demoracia" 2022 /IDDC/INCT — Foto: Arte / O Globo

Posicionamento dos brasileiros sobre temas polêmicos. Pesquisa “A cara da demoracia” 2022 /IDDC/INCT — Foto: Arte / O Globo

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