Forças Armadas perdem apoio como na Argentina

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Foto: Cristiano Mariz/O Globo

Nos últimos anos do governo Dilma Rousseff aumentou, entre oficiais, o sentimento de que as Forças Armadas deveriam retomar um protagonismo político que estava em declínio desde o início dos anos 1990.

Com a vitória de Jair Bolsonaro, os militares, tanto da ativa quanto da reserva, se transformaram em um dos pilares do governo. Rapidamente, passaram a ocupar milhares de cargos em muitos ministérios e em órgãos federais, em diversos escalões, e ganharam postos importantes no gabinete presidencial.

Há, porém, uma diferença entre comandar o Estado em um regime autoritário e participar ativamente de um governo em uma democracia: no segundo caso, a administração está sob permanente avaliação de instituições e da imprensa, o que impacta a percepção que os eleitores têm daqueles que fazem parte dela.

A série de pesquisas nacionais “A cara da democracia” aponta que a desconfiança nas Forças Armadas cresceu no governo Bolsonaro. Em 2018, 21% dos entrevistados afirmaram não confiar na instituição. Em 2022, o número chegou a 29%. De forma inversa, o grupo que afirmou confiar muito passou de 31%, em 2018, para 25%, em 2022.

Quando desagregamos os dados, vemos que existem diferenças no nível de desconfiança de acordo com a percepção sobre a atual administração. Entre os que avaliam o governo positivamente, 8% afirmam não confiar nas Forças Armadas. Entre os que o veem negativamente, o número é de 43%, indicando uma associação entre as duas respostas. Como as pesquisas realizadas por diversos institutos apontam que a maior parte dos eleitores não anda satisfeita com o governo, essa não é uma boa notícia para os militares.

Desde a redemocratização, os militares contaram com elevado nível de confiança junto à opinião pública. Entre 1995 e 2018, segundo dados do Latinobarómetro, em média, apenas 13% dos entrevistados afirmaram não confiar nas Forças Armadas. Sediado no Chile, o Latinobarómetro faz pesquisas anuais de opinião pública em 18 países da América Latina.

Atualmente, as porcentagens se aproximam das encontradas na Argentina (30%, em média, também segundo o Latinobarómetro, entre 1995 e 2018), com a diferença de que, lá, as Forças Armadas foram derrotadas em uma guerra e tiveram os crimes cometidos durante o regime autoritário publicamente expostos e julgados diante da opinião pública.

O Globo