General linha-dura prepara programa de governo de Bolsonaro

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Foto: Fernando Frazão/agência Brasil

Confirmado como candidato a vice na chapa do presidente Jair Bolsonaro, o ex-ministro da Defesa e da Casa Civil e general da reserva Walter Braga Netto (PL) é o coordenador do programa de governo e tem feito gestos para se aproximar da classe política.

Braga Netto ocupa uma sala no segundo andar da mansão no Lago Sul, onde funciona o comitê de campanha, e se aproximou da equipe de comunicação, que também despacha no local.

Dessa forma, ele se projetou como um dos poucos aliados de Bolsonaro a transitar em todas as alas do entorno presidencial: na comunicação, entre militares e políticos. Esse trânsito lhe permite, até mesmo, romper a blindagem imposta ao presidente pelo núcleo ideológico.

Segundo integrantes da campanha, o ex-ministro está na redação final do programa de governo, que ele prefere chamar de “diretrizes”. Já adicionou as contribuições dos ministros da Economia, Paulo Guedes, da Casa Civil, Ciro Nogueira, do Meio Ambiente, Joaquim Leite, do ex-ministros Eduardo Pazuello, do pré-candidato ao governo de São Paulo Tarcísio de Freitas.

A presidente da Caixa Econômica Federal, Daniella Marques, e a ex-ministra Damares Alves, além de colaborarem com o documento, atuam como conselheiras para melhorar a interlocução do presidente com as mulheres. A campanha tem dois focos principais: atrair o voto feminino e diminuir a vantagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre Bolsonaro no Nordeste.

Um general próximo a Braga Netto relembrou que o convite de Bolsonaro para que o ex-ministro assumisse a vaga na chapa presidencial havia sido formulado ainda em novembro. Bolsonaro, que tem o hábito de desconfiar até da sombra, considera o general, que conhece há mais de 40 anos, um aliado de lealdade absoluta.

Ambos foram contemporâneos na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman): Bolsonaro formou-se na turma de 1977 e Braga Netto um ano depois, em 1978. Ao longo dos anos, conviveram de perto no Rio de Janeiro. O general foi comandante militar do Leste e, em 2018, tornou-se interventor da segurança pública no Estado.

Este general ligado Braga Netto observou, em conversa reservada com o Valor, que, em contraponto ao general Hamilton Mourão (Republicanos), que fala muito com jornalistas, e na hipótese de reeleição, o ex-ministro desempenharia um papel semelhante ao que o ex-vice-presidente Marco Maciel, morto em 2021, exerceu junto a Fernando Henrique Cardoso: leal, discreto e reservado.

Aos poucos, Braga Netto tenta se aproximar da base aliada ao presidente no Congresso. O Valor mostrou que na quinta-feira, Braga Netto reuniu-se com a bancada de senadores do PL. Há expectativa de que nos próximos dias, ele também se reúna com os deputados. Um aliado de Braga Netto observa que uma das finalidades da reunião com a base aliada no Senado também seria suavizar a imagem do general junto aos parlamentares, já que boa parte preferia um político como vice do presidente.

Braga Netto é uma das principais vozes a ecoarem a retórica de Bolsonaro que contesta a legitimidade das urnas eletrônicas e já se indispôs com o Congresso em, pelo menos, duas ocasiões. Em julho do ano passado, então no comando do Ministério da Defesa, assinou uma dura nota, ao lado dos três comandantes das Forças Armadas, que foi interpretada como ameaça pelos parlamentares, condenando “ataques levianos às instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro”.

Foi uma reação à declaração do presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM), de que haveria militares envolvidos em irregularidades na pandemia.

Cerca de 15 dias após o episódio, uma reportagem do jornal “O Estado de S. Paulo” afirmou que o então ministro da Defesa teria advertido o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de que não haveria eleições se não fosse aprovado o voto impresso. Diante da repercussão do fato, Braga Netto divulgou uma nota oficial negando o conteúdo da matéria.

Valor Econômico