Lula e Bolsonaro travam guerra de imagens

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Foto: Montagem com fotos de Reprodução/Instagram e Divulgação/CUT

Restando pouco mais de um mês para o início oficial da campanha, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), que aparecem na dianteira das pesquisas, planejam intensificar agendas em contato com o público nas ruas. A estratégia ocorre em meio à guerra de narrativas entre as duas pré-campanhas, nas redes sociais, por demonstrações de apelo popular. Outros pré-candidatos como Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) também buscam ganhar fôlego em atos de rua.

No caso de Lula, uma das primeiras atividades com amplo acesso ao público ocorreu no sábado, em caminhada por Salvador. O petista se juntou ao cortejo que parte do Largo da Prainha, na celebração da Independência da Bahia, e apareceu cercado e abordado por dezenas de pessoas em imagens aéreas do evento. Ciro e Tebet também integraram o cortejo, em outro ponto.

Bolsonaro, por sua vez, participou de motociata com apoiadores na capital baiana no mesmo dia e seguiu à tarde para o Rio, onde discursou em um evento evangélico na Praça Apoteose. Imagens e vídeos divulgados por apoiadores também buscaram sinalizar adesões significativas do público nessas agendas.

Nas redes, apoiadores lulistas sugeriram com fotos que a motociata teve adesão inferior, enquanto bolsonaristas alegaram ter havido manipulação de uma foto da caminhada do ex-presidente. De acordo com a campanha do petista, que depois publicou outra foto sem o mesmo erro, houve uma sobreposição acidental de fotos captadas por drone, duplicando apoiadores.

Na semana anterior, aliados do petista haviam acusado Bolsonaro de divulgar imagens que teriam dado uma dimensão “inflada” da presença de público ao seu redor em Balneário Camboriú (SC), onde o presidente participou de uma edição da Marcha para Jesus. Já correligionários de Bolsonaro têm usado registros tanto de motociatas quanto de eventos religiosos na tentativa de se contrapor a pesquisas que apontam vantagem de Lula. No último levantamento do Datafolha, o petista figurou com 48% das intenções de voto, contra 28% do atual presidente.

A cada ato de rua de um ou de outro, apoiadores correm para postar nas redes sociais imagens que mostram o adversário com público reduzido, e ângulos que favorecem o evento do seu candidato. Uma estratégia recorrente é usar imagens feitas no começo da concentração dos eventos para mostrar locais vazios.

— Antes da campanha, quando podem pedir voto, a estratégia dos candidatos com essas agendas de rua é mobilizar a própria tropa. Nesse momento, ainda interfere pouco na busca por novos eleitores, mas pode animar a própria base — avaliou o cientista político Josué Medeiros, do Núcleo de Estudos sobre a Democracia (Nudeb) da UFRJ.

Amanhã, Lula participará de um ato aberto na Cinelândia, no Centro do Rio. A campanha do petista prevê ainda sua participação em um ato público no sábado em Diadema, no ABC paulista, berço da atuação de Lula no movimento sindical nos anos 1980. Há a expectativa ainda de viagens ao Nordeste, para estados como Pernambuco e Piauí.

O núcleo petista avalia que precauções com a segurança, tema do qual Lula evita falar publicamente, têm exigido uma preparação cautelosa para essas agendas. Em maio, na saída de um almoço em Campinas, militantes bolsonaristas que protestavam contra o ex-presidente tentaram cercar seu veículo.

— É a mesma precaução a que já estamos acostumados de campanhas anteriores, ainda que nesta o clima esteja mais exaltado. Nossa avaliação é que a caminhada em Salvador foi positiva — afirmou a presidente do PT, Gleisi Hoffmann.

Na campanha de Bolsonaro, apoiadores mais próximos ao chamado “bolsonarismo raiz” travam quedas de braço com o núcleo político, composto por representantes de siglas como PL e PP, pelo ritmo e o tom das agendas públicas do presidente. Lideranças do Centrão defendem discursos mais institucionais e com ênfase em programas de governo, como o Auxílio Brasil. Já outro grupo dos conselheiros de Bolsonaro quer que o presidente aposte em pautas de perfil conservador, caras para sua base.

Segundo o pastor Silas Malafaia, Bolsonaro estará nas duas principais edições da Marcha para Jesus, em São Paulo, neste sábado, e no Rio, prevista para meados de agosto. Os eventos costumam atrair dezenas de milhares de pessoas, especialmente fiéis evangélicos.

— Já sabemos que Bolsonaro será bem avaliado em eventos evangélicos. Mas ele não está se escondendo do público geral, mesmo quando alguns conselheiros políticos orientam o contrário. Na festa de São João de Caruaru (PE), enquanto alguns tinham medo de vaia, ele subiu no palco — diz Malafaia.

Para o cientista político Sérgio Praça, da FGV, a aposta de Bolsonaro em mobilizações de rua tenta repetir uma estratégia bem-sucedida em 2018. Porém, segundo Praça, o contexto atual é distinto.

— Ele usou com sucesso a presença em eventos com grande apoio, só que as pesquisas naquela época mostravam que ele estava bem — pondera.

 

O Globo