PT terá deputada “drag queen”

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Foto: Material cedido ao Metrópoles

Erivan Hilário dos Santos tinha 14 anos quando, em 1998, vestiu-se pela primeira vez de mulher. Era, então, parte de um trabalho escolar que falava sobre os riscos da Aids e da contaminação pelo vírus HIV.

O ambiente, porém, estava longe de ser o mais tranquilo para que um menino se vestisse de menina. Erivan vivia, com seus 11 irmãos, em um assentamento rural na cidade de Santa Maria da Boa Vista, em Pernambuco. Ele e sua família migraram de Belém do São Francisco, também em Pernambuco, para aquele assentamento e se tornaram militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra.

Depois daquela primeira vez, foi-se tornando natural para Erivan vestir-se com roupas femininas. E à sua batalha diária pelo direito ao trabalho, à dignidade e à propriedade, próprios do MST, incorporou-se a luta contra o preconceito e contra a intolerância. O militante sem terra virou um militante contra a LGTBfobia. Em 2018, ajudou a criar o coletivo LGBT Sem Terra, para ajudar na conscientização contra o preconceito. Aí, o menino deixava de ser apenas Erivan. Tornava-se Ruth. Com um sobrenome: Ruth Venceremos.

Ruth Venceremos nasceu em 2015, durante o 1º Seminário o MST e a Diversidade Sexual, na cidade paulista de Guararema. E foi estrear em Brasília, para onde Erivan mudou-se há oito anos no concurso Rainha das Virgens, do bloco de carnaval Virgens da Asa Norte. Ruth Venceremos foi ganhando notoriedade por sua força política. Em 2017, venceu o concurso La Rubia Drag Race dublando a forte canção de protesto de Renato Russo “Que País é Esse?”.

A trajetória de Ruth Venceremos credenciou-a para ser uma das candidatas a deputada federal pelo PT nas eleições deste ano no Distrito Federal. E não apenas para representar na disputa o movimento LGBTQIA+. “Sou a única candidata negra do PT no DF”, fez questão de dizer ao Congresso em Foco durante o ato que os partidos aliados fizeram na terça-feira (12) em Brasília em apoio ao candidato petista à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva.

“Minha luta é pelo direito de todas as minorias”, diz Ruth. Para ela, a abertura do partido às questões de gênero e à pauta dessas minorias traz um sopro de renovação à luta pela política das esquerdas. “Está vindo um voto novo para o PT”, acredita ela.

Para Ruth, sua candidatura incorpora-se a uma necessidade de mudança diante das ameaças surgidas com o avanço de certo conservadorismo no país que inflou preconceitos. “A gente vive um apagamento das pessoas negras no Brasil”, afirma ela. “Maioria da população, os negros são menos de 12% da representação do Congresso Nacional. É preciso mudar essa realidade”.

Como Drag Queen, Ruth incorpora desde o seu nascimento o Venceremos como seu sobrenome. Nas eleições de outubro, ela confia nisso.

Congresso em Foco